Por Feifiane Ramos, do ATUAL
MANAUS — Nas eleições municipais de Manaus, 268 mulheres disputarão o cargo de vereadora. A maioria, 140 (52,24%), possui ensino superior completo. Outras 84 candidatas (31,34%) têm ensino médio completo e 22 (8,21%) têm escolaridade superior incompleta.
As candidatas com ensino fundamental completo são 10 (3,73%) e aquelas que ainda não concluíram essa fase da educação são 4 (1,49%). Outras 6 candidatas (2,24%) se declararam aptas apenas para ler e escrever, e 2 (0,75%) possuem ensino médio incompleto. Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Mulher de negócios
Entre as candidatas com formação universitária, a maioria é empresária: 35 mulheres (13,06%). As profissões de advogada e assistente social aparecem em seguida, com 14 candidatas cada (5,22%).
Outras ocupações incluem dona de casa e enfermeira, ambas com 9 candidatas (3,36%). Estudante, bolsista, estagiária e similares são 5 candidatas (1,87%). Profissões como administradora, aposentada, corretora de imóveis, policial militar, professora universitária, servidora pública estadual, sacerdote ou membro de ordem religiosa e técnico de enfermagem têm 4 representantes cada (1,49%).
Um grupo de 78 candidatas (29,10%) se encaixa em outras ocupações e 5 candidatas (1,87%) buscam a reeleição.
Em termos de cor e raça, a maioria das candidatas se declara parda: 167 (61,40%). Candidatas brancas somam 77 (28,31%). Há 21 candidatas pretas (7,72%) e 7 candidatas indígenas (2,57%). Os números incluem concorrentes para vereadora e vice-prefeita.
Faixa etária
Na capital amazonense, a faixa etária predominante entre as candidatas a vereadora é de 40 a 44 anos, com 52 candidatas (19,40% do total). Depois, há as faixas etárias de 35 a 39 anos, com 33 candidatas (12,31%), e de 55 a 59 anos, com 35 candidatas (13,06%).
Contrapõe-se a isso a baixa representação das candidatas mais jovens: apenas 3 têm 19 anos (1,12%) e 1 tem 20 anos (0,37%). As candidatas com 70 a 74 anos são as menos numerosas, totalizando apenas 2 (0,75%).
No cenário estadual, a faixa etária também varia significativamente. As candidatas de 40 a 44 anos são as mais numerosas, com 497 mulheres (18,88%). De 35 a 39 anos e 30 a 34 anos são 374 (14,20%) e 296 (11,24%) candidatas, respectivamente.
Nas faixas etárias mais jovens no Amazonas têm uma representação modesta, com 4 candidatas de 18 anos (0,15%) e 20 a 27 anos (1,03%). Candidatas com 90 a 94 anos são extremamente raras, com apenas 1 representante (0,04%).
“Vejo que isso representa o modelo atual de política no nosso país. Infelizmente, a luta por maior representatividade na política ainda se restringe às cotas das candidaturas e não à efetiva ocupação de cadeiras. Ainda hoje, não existem políticas partidárias para equidade partidária”, diz a advogada Elcilene Rocha, coordenadora do Grupo de Trabalho de Combate à Violência de Gênero do Comitê Amazonas de Combate à Corrupção.
Distribuição partidária
O número de candidatas a vereadora varia consideravelmente entre os partidos. O União Brasil lidera com 16 candidatas, representando 5,88% do total. Os partidos DC, Mobiliza, PMB (Partido da Mulher Brasileira) e Podemos têm 14 candidatas cada, correspondendo a 5,15% do total.
Os partidos AGIR, Avante, MDB, PDT, PL, PRD, PSB e PSD concorrem com 13 candidatas cada, totalizando 4,78% do total. O Novo conta com 10 candidatas, representando 3,68% das candidaturas.
Os partidos PRTB e PSOL têm 9 candidatas cada, ou 3,31% do total. O Cidadania tem 6 candidatas, representando 2,21%. O PSDB, PT e Solidariedade possuem 7 candidatas cada, ou 2,57%. O PV e a Rede Sustentabilidade têm 5 candidatas cada.
Interior
Em todo o Amazonas, entre as 2.725 mulheres candidatas a prefeita, vice-prefeita e vereadora, 1.237 (47,02%) têm ensino médio completo, enquanto 775 (29,46%) têm ensino superior completo. Outras 193 (7,34%) possuem ensino fundamental completo e 97 (3,69%) se declararam aptas apenas para ler e escrever.
Ocupações variam entre a capital e o estado. Enquanto a profissão de empresária é a mais comum em Manaus, no interior a profissão de agricultora é a mais representativa, com 319 candidatas (12,12%). Outras ocupações incluem dona de casa, com 159 candidatas (6,04%), e servidoras públicas municipais, com 234 (8,89%). A categoria “outros”, que abrange diversas profissões, representa 29,10% das candidatas em Manaus e 29,30% no Amazonas.
A maioria das candidatas a vereadora se declara parda, com 1.990 candidatas (72,84%). Candidatas brancas somam 367 (13,43%). Há 200 candidatas indígenas (7,32%) e 140 candidatas pretas (5,12%). Apenas 7 candidatas se identificam como amarelas (0,26%), e 28 candidatas não informaram sua cor/etnia (1,02%).
Prefeitas
No Amazonas, 32 mulheres são candidatas a prefeitas. As ocupações mais comuns entre essas candidatas são empresária e professora de ensino fundamental, com 4 registros cada, representando 12,90% do total. Profissões como advogada e outras somam 3 candidatas cada (9,68%). Outras profissões, como administradora, agricultora, odontóloga, pedagoga, policial civil, servidora pública estadual e professora de ensino médio, têm apenas 1 representante cada (3,23%).
Quanto à autodeclaração de cor, a maioria das candidatas a prefeita se identifica como parda, com 25 candidaturas (78,13%). Cinco candidatas (15,63%) se declararam brancas, e 2 (6,25%) se identificaram como indígenas. Entre as candidatas pardas, 20 (80%) possuem ensino superior completo. Não há candidaturas de mulheres negras ao cargo de prefeita.
A advogada Elcilene Rocha afirma que esse perfil mostra a necessidade de maior acesso ao ensino superior nos municípios. “O Amazonas possui 62 municípios, apenas 17 oferecem ensino superior público, ou seja, existe uma necessidade de expansão urgente”.
Ela acrescenta: “Esse é um aspecto que reflete a realidade do Amazonas. Além da carência de universidades públicas nos municípios, há também a escassez de cursos superiores no interior, levando à migração para a capital de pessoas que buscam cursos superiores e que não retornam para suas cidades de origem”.
A advogada comentou que as diferentes profissões refletem a realidade econômica da região e o modelo de políticas partidárias, destacando que, em comparação com as candidaturas masculinas, essa realidade não é a mesma.
“Quando falamos de candidaturas masculinas no interior do Amazonas, a maioria é de pequenos e grandes empresários da região. Portanto, o fato de muitas mulheres agricultoras concorrerem também pode ser uma forma de cumprir a cota de gênero e evitar candidaturas ‘laranjas’”, avalia.
A advogada Alessandrine Silva, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AM, lamenta a falta de representantes negras para cargos majoritários. Ela afirma que a ausência de representantes negras está relacionada ao racismo estrutural. “No Brasil, o acesso aos diversos direitos, inclusive os direitos políticos, chega sempre depois para grupos minorizados”.
“O racismo, e toda a sua complexidade, é o desafio principal que precisamos vencer. Ele, por diversos modos, afasta as pessoas negras e indígenas dos espaços de debate e disputa, e aliado ao machismo torna a participação de mulheres negras e indígenas uma trajetória marcada por violência política de gênero e raça”, diz.
Elcilene Rocha também comentou sobre a ausência de candidatas negras ao cargo de prefeita e o baixo número de candidatas negras a vereadora. Para ela, o cenário reflete uma “estrutura patriarcal ainda presente na sociedade.
“É uma situação muito latente, muito devido à estrutura patriarcal. Um dos fatores que desestimula a candidatura feminina é a distribuição dos recursos públicos dos partidos às candidatas, pois muitos partidos ainda fazem captação de mulheres somente para cumprimento de cota”, afirmou.