Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – Em uma conversa entre o médico Mouhamad Moustafa e sua diretora financeira e cunhada Priscila Marcolino Coutinho, extraídas de seu aparelho celular apreendido pela PF (Polícia Federal) na Operação ‘Maus Caminhos’, Moustafa manifesta preocupação com um eventual atraso nos pagamentos de dinheiro, que ele denomina ‘coisa’, a agentes públicos e que a PF classifica como propina. “Pois foi graças a eles (agentes públicos) que ele (Mouhamad) ‘cresceu’, isto é, teve sucesso em seu empreendimento”, avaliou a PF no processo que envolve ex-secretários do ex-governador José Melo (Pros) presos na Operação ‘Custo Político’ no qual o ATUAL teve acesso. Mouhamad também está preso. Ele é considerado pela PF como o líder de um esquema de corrupção que desviava dinheiro em contratos de serviços de saúde no Governo do Amazonas.
Na conversa, Mouhamad afirma que seu sucesso dependia da entrega pontual, sem falhas, de parte do dinheiro. O médico cita que “as falhas” poderiam ser a causa de sua exclusão da rede de corrupção, como no trecho em que alega que “uma hora tudo se acaba por essas falhas” bem como “uma hora vou acabar me f. por isso”, diz o médico.
Em outras mensagens, Mouhamad é informado por Priscila sobre a existência de pagamento do qual está esperando liberação (o termo “apta” aparece em documentos internos da Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda) indicando que a despesa está apta a ser liquidada).
Mouhamad alerta a diretora financeira que existe um monte de “coisa” aberta com “esse povo”. Essas colocações vêm acompanhadas de uma ordem expressa na qual manda sacar entre 350 a 400 mil reais, valores que a PF e o MPF (Ministério Público Federal) identificou como a ‘coisa’.
A PF considera que Mouhamad deixa evidente que a prioridade era o pagamento de propinas, antes mesmo de pagar funcionários.
Gravações
Em reunião gravada por Jennifer Nayara, delatora na Maus Caminhos, os interlocutores tratam de diversos assuntos, mas fica evidente, segundo o MPF, que a razão da reunião foram as irregularidades detectadas pela CGU (Controladoria Geral da União) em fiscalização no repasse de recursos da saúde.
Na reunião, Moustafa trata, especialmente, do objeto da investigação: o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos (propina), despesa que ele denomina de ‘custo político’. Segundo a PF, é interessante notar que Mouhamad destaca irregularidades, segundo ele, muito mais gritantes do que aquelas encontradas no INC (Instituto Novos Caminhos) ao citar o Imed (Instituto de Medicina Estudos e Desenvolvimento), empresa responsável pela gestão do Pronto Socorro e Hospital Delphina Aziz. A respeito desta organização social, Moustafa comenta que o “o Imed é infinitamente pior que a gente”, que “é um problema muito maior”.
Confira trechos dos diálogos transcritos pelo MPF.