Por Talita Fernandes e Daniel Carvalho, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – Após uma semana de pressão nas ruas e de derrotas no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) precisará reoganizar a frágil articulação com o Legislativo para garantir em menos de 15 dias a aprovação de 11 medidas provisórias prestes a expirar. A maioria delas tem relevante impacto econômico e na estrutura administrativa do governo.
Em outra frente, o presidente tentará mostrar que mantém o apoio popular conquistado nas urnas em outubro, quando ele foi eleito com quase 58 milhões de votos. Está marcada para o próximo domingo, 26, uma série de atos em defesa da gestão Bolsonaro.
A convocatória de manifestações em seu favor é uma resposta aos protestos do último dia 15, organizados por alunos e professores e que levaram pessoas a marcharem contra ações do governo em dezenas de cidades do país.
Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto busca trazer de volta à pauta a reforma da Previdência, ofuscada por novos indicadores ruins para a economia e pelas investigações que atingem o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSC-RJ).
A semana já começa com o clima acirrado na relação entre Planalto e Congresso. Isso após Bolsonaro ter distribuído e endossado na sexta-feira, 17, uma mensagem segundo a qual o país ‘é ingovernável’ sem os ‘conchavos’ que ele se recusa a fazer. O texto foi lido por líderes do Legislativo como mais um sinal de desrespeito do presidente aos parlamentares. Segundo eles, Bolsonaro está “jogando para a plateia” e terceirizando para a Câmara e o Senado a responsabilidade de governar o país.
Em meio às reações ao texto, o presidente ainda divulgou nota na qual diz que vem colocando todo seu esforço para governar, mas que enfrentava a resistência dos que se beneficiaram no passado de relações “pouco republicanas”, gesto que incomodou ainda mais o Congresso.
Na lista de prioridades do governo, está a MP que mudou a estrutura da Esplanada, mexeu com funções de ministérios e reduziu para 22 o número de pastas. Se a medida provisória não for aprovada por Câmara e Senado em duas semanas, o texto expira e o governo será obrigado a retomar a estrutura anterior, com 29 ministérios.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, escreveu nas redes sociais que “ninguém vota pela criação de mais sete ministérios pensando no Brasil”, em tom de provocação à possibilidade de os parlamentares deixarem de aprovar a MP.
Além da oposição, as derrotas recentes do governo no Congresso contam como patrocinador o chamado centrão, grupo informal de partidos formado por DEM, PSD, PTB, PP, PR, entre outros. O DEM, por exemplo, comanda a Câmara, o Senado e três ministérios do governo.
O líder de um desses partido do centrão diz de forma reservada que é preciso esperar o início da semana para sentir o clima para votação. Segundo ele, Bolsonaro muda rapidamente de opinião, o que prejudica eventuais acordos.
Partidos que se dizem independentes querem votar as MPs, em especial a da estrutura do governo. “O Congresso não pode dar margem para os discurso do presidente de virar vítima”, diz o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO). “A gente tem que votar para não caducar. Está na pauta”, afirma o líder do Solidariedade, Augusto Coutinho (PE).
Um dos
principais problemas, porém, é a desarticulação política do Planalto. “Não
mudou nada. Não há nenhuma interlocução”, diz Nelto.
O governo enfrenta dificuldades para consolidar uma base de apoio no Congresso
e coleciona derrotas. A mais recente foi a convocação na semana passada do
ministro da Educação, Abraham Weintraub. O ministro foi obrigado a comparecer
ao Congresso por uma esmagadora maioria –307 votos favoráveis e apenas 82
contrários.
Em meio à ausência de apoio no Legislativo, Bolsonaro tenta fazer um apelo à população para se mostrar forte. Seus aliados convocam para o próximo domingo (26) atos em defesa do presidente. A medida gerou críticas inclusive de integrantes do PSL, como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), que chegou a ser cotada para a vice-Presidência durante a campanha eleitoral.
“Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!”, escreveu a deputada estadual em uma rede social neste domingo, 19.
No final de
semana, encurralado por uma relação desgastada com o Congresso, Bolsonaro
apostou nas redes sociais para fazer sua defesa.
No sábado, 18, além de acenar para fãs na porta do Alvorada, escreveu que “somente
com o apoio de todos vocês poderemos mudar de vez o futuro do nosso Brasil”.
Já no domingo, ao
postar um vídeo com mensagem de um pastor que o defende como um político “estabelecido
por Deus” para guiar o Brasil, o presidente escreveu que “não existe teoria da
conspiração, existe uma mudança de paradigma na política” e que “quem deve
ditar os rumos do país é o povo! Assim são as democracias”.