Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – A empresária Criselidea Bezerra de Moraes, 68, afirmou que se sentiu condenada durante o depoimento à CPI da Saúde na tarde dessa quarta-feira, 22, e se reservou ao direito de ficar calada em relação aos questionamentos sobre a sua empresa, a Norte Serviços Médicos, responsável pela lavanderia do Hospital de Campanha da Nilton Lins. Na ocasião, Criselidea passou mal e foi atendida por uma enfermeira. Ela sofre de problemas cardíacos.
O procurador da empresa, Carlos Henrique Alecrim John, depôs à CPI no último dia 1º. Na ocasião, informou que de abril a junho a empresa lavou 44 toneladas de roupas do hospital de campanha do governo. Disse também que não houve controle da quantidade de material lavado pela unidade de saúde ou da Susam (Secretaria de Saúde do Amazonas) que comprovasse o serviço prestado.
Deputados da CPI alegam que há “fortes indícios de ilegalidades e superfaturamento”. Segundo a CPI da Saúde, a Norte Serviços Médicos faturou, ao longo de três anos, quase R$ 25 milhões do Estado.
No depoimento dessa quarta-feira, Criselidea Moraes afirmou estar nervosa e que não estava preparada para falar de outros assuntos que não fosse a prestação de serviços no Nilton Lins.
“A senhora já conhecia o Sr Victor Vinicius Souto dos Santos?”, perguntou o presidente da CPI, Delegado Péricles. “Bem, eu não estou sabendo que eu venho explicar um monte de coisa que eu não estava preparada, eu não trouxe documentação nenhuma. Eu me reservo no direito de ficar em silêncio. Eu vim falar da lavagem de roupa, porque pelo que eu sei eu entrei nessa por causa desse problema”, disse.
A empresária não soube dizer no momento quando comprou a empresa. “De data eu não vou poder te esclarecer agora não, porque dois anos e nem três anos, já são bastantes anos. E eu não tenho nenhum documento aqui que eu possa te mostrar agora”, afirmou.
Criselidea Moraes optou pelo direito de ficar calada quando questionada sobre as atividades que a empresa desempenha, sobre a origem do capital de R$ 5 milhões usados para a compra da Norte Serviços e o endereço do estabelecimento.
Veja também: Local de lavanderia que presta serviço ao Hospital Nilton Lins não funciona há anos, dizem vizinhos
“Eu vou permanecer em silêncio, a Constituição me dá esse direito. Eu tenho 68 anos e eu não tenho porque viver numa situação dessas. Eu não cometi nenhum crime, eu estou sendo conhecida no Brasil inteiro por um crime que eu não cometi”, disse a empresária.
Criselidea também não quis informar quanto a empresa fatura e os contratos. “Eu tenho que falar isso é? Porque eu não me sinto obrigada a dizer quanto eu ganho não. Eu vou ter que me reservar a ficar em silêncio”, afirmou.
Péricles a questionou sobre uma outra proprietária da Norte Serviços, momento em que a empresária alegou se sentir condenada pela CPI. “Há uma antiga proprietária que tinha uma procuração posteriormente. É a senhora Nayla Tereza de Moraes Silva. O que a senhora Nayla é para a senhora?”, perguntou. “Eu continuo dizendo: eu vou me reservar no silêncio. Porque eu estou tipo assim, parece que eu estou num tribunal, eu estou me sentindo uma condenada”, criticou.
A defesa da empresária interviu alegando que os parlamentares estavam constrangendo a depoente. “Ela já deixou claro em relação a esse questionamento, ela vai se reservar ao direito (de ficar em silêncio). Agora com a devida venha o senhor lançar esses termos como ‘laranja’, o senhor está constrangendo presidente”, disse um dos advogados, após Péricles afirmar que “se a senhora é laranja ou não isso, é um questionamento e é uma investigação que a CPI vai apurar”.
Para a defesa, a CPI estava fazendo ‘juízo de valor’. “Esse tipo de insinuações são coisas que precisam ser apresentadas como relatório final, os senhores estão fazendo juízo de valor, excelência. Vamos preservar a humanidade no depoimento”, pediu o advogado.
No último dia 13 de julho, Criselidea Moraes entrou com um habeas corpus no TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas) para ter o direito de ficar calada na CPI da Saúde. A defesa da empresária alegou que ela estava na iminência de sofrer coação ilegal por parte dos membros da comissão quando não responder as perguntas que possam incriminá-la. O pedido foi negado em plantão judicial.
Na ocasião, Criselidea precisou parar para medir a pressão e a enfermeira pediu que encerrassem a sessão. Os deputados consideraram as declarações suficientes.
Veja também: CPI da Saúde aceita que dona de lavanderia dê depoimento de casa pela internet
“Eu considero que esta é uma página virada. Para nós está muito claro que ela não é testemunha ela é vítima. Ela está sendo vítima de alguém que está usando a dona Criselidea para fazer o mal a ela”, concluiu o deputado Serafim Corrêa.