Da Redação, com Ascom Fiocruz
MANAUS – Cientistas do Brasil e de outros países vão pesquisar como as mudanças climáticas podem alterar a incidência de doenças transmitidas por mosquitos, como o Aedes aegypti.
Com o nome “Harmonize”, a pesquisa tem entre os participantes o Observatório de Clima e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
Pesquisador do Icict/Fiocruz, Christovam Barcellos, é um dos coordenadores no Brasil e conta que a expectativa do projeto é, inicialmente, compreender os novos padrões de transmissão da dengue.
“Além dos dados que já temos sobre saúde, com a parceria de outros institutos e centros de pesquisa, poderemos contar com dados de satélites internacionais e informações ambientais, o que nos mostrará um cenário mais próximo à realidade atual e permitirá identificar tendências dessas doenças”, disse.
Christovam Barcellos diz que o comportamento da dengue atualmente no país está muito fora do padrão. “A doença saiu das áreas litorâneas e úmidas e agora vem atingindo principalmente o Cerrado, que já é uma região muito afetada pelo desmatamento e as mudanças climáticas”.
A longo prazo, o pesquisador espera ter uma visão “micro”, ou seja, entender melhor os pequenos focos de transmissão em locais mais isolados, como na Amazônia. “E não só da dengue, mas também de outras enfermidades, como a malária e a doença de Chagas. Serão informações essenciais não só para o Observatório, mas também para gestão e criação de políticas públicas no país”, comenta.
Até o fim de 2022, os pesquisadores esperam apresentar os primeiros resultados, que deverão ser publicados em um site compartilhado entre os centros e instituições que fazem parte do Harmonize. Boletins e artigos científicos também serão publicados ao longo da pesquisa.
Financiado pelo fundo Wellcome Trust, o Harmonize é coordenado pela nova Equipe de Resiliência em Saúde Global do Departamento de Ciências da Terra do Centro de Supercomputação de Barcelona (BSC-ES). O projeto conta também com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (Inpe), a Universidad Peruana Cayetano Heredia, a Universidad de los Andes na Colômbia, a Oficina Nacional de Meteorología da República Dominicana e o Instituto Interamericano de Pesquisa em Mudanças Globais no Uruguai.
“Monitorar as mudanças climáticas e seus impactos na saúde é uma tarefa essencial. Mas, para isso, precisamos de bons dados, modelos adequados e estratégias de comunicação com governo e sociedade civil. Nós aqui no Brasil temos acesso a muitos dados e o Observatório de Clima e Saúde é um exemplo mundial, que deve ser replicado em outros países. E o projeto está viabilizando essas conexões”, comenta Barcellos.