Da Redação
MANAUS – O sabão, essencial na limpeza doméstica, é uma alternativa de renda extra para mulheres sem ocupação profissional no Amazonas. A fabricação artesanal do produto é ensinada tanto em Manaus quanto no interior, mas a burocracia pública e a dificuldade para conseguir matéria prima sem custo são obstáculos para envolver mais mulheres e aumentar a produção. A iniciativa é do Clube de Mães Cooperativa Sem Fronteiras do Amazonas, que ainda não é regularizado.
Aldenice de Oliveira, 44, coordenadora do Clube, ensina a técnica em cursos nas associações de mulheres. Na capital, cem mulheres participam do projeto na casa dela, no bairro Cidade Nova, zona norte. Homens também estão aderindo à iniciativa para aprender a produção.
O óleo de cozinha, principal ingrediente do sabão, é obtido com doações. Mas as contribuições são esporádicas o que atrapalha a produção de sabão. Aldenice também busca juntar dinheiro para pagar as taxas de legalização do Clube.
“O projeto começou em 2015. Quando nós éramos da associação de moradores, montamos o projeto do clube de mães paralelo às ações da associação. Tentamos várias atividades: confecção de tapete, artesanato, blusas customizadas, bordado, crochê, fabricação de xarope e sabão. O que mais se destacou foi o sabão”, disse Aldenice.
A primeira tentativa de fabricar uma barra do produto não deu certo. Elas buscaram informações sobre o processo de produção em vídeos na internet, mas não conseguiram reproduzir na prática. Na segunda tentativa, a ajuda para dominar a técnica de fabricação foi proporcionada por Jandira Picanço, 65, que sabe tudo sobre sabão.
Atualmente, o grupo garimpa óleo para manter a atividade em padarias e pastelaria. Para fazer oito barras são necessários 10 litros de óleo.
Nesta semana, foram produzidas 170 barras de 1 quilo, que são vendidas por R$ 5 cada. As barras também são transformadas em sabão em pó e vendido por R$ 7. O sabão em pó artesanal pode ser misturado ao industrializado para potencializar a limpeza de roupas.
O dinheiro ajuda na renda extra das famílias e o óleo, que seria descartado no meio ambiente, é reciclado. “Em Vez de você jogar na pia, que vai entupir, agredir o meio ambiente, a gente faz a coleta em qualquer lugar de Manaus”, disse Aldenice. “Cada mulher sabe fazer alguma coisa e coloca em prática no clube. Nos encontros, as mulheres conversam sobre os problemas e trocam experiências de vida”, disse.
Assistência social
De acordo com Aldenice, a maioria dos participantes é idoso. “Nós fazemos aquilo que o governo não faz, porque um trabalho social não é só infraestrutura. É estar ao lado das pessoas, ouvir. Tem pessoas que não têm como comprar um remédio, a gente se junta e compra. A gente também marca exames, compartilha cadeira de rodas. Ficamos como acompanhante nos hospitais quando alguém está doente”, disse Aldenice.
A aposentada Leodina Nascimento de Lima, de 85 anos, moradora do bairro há 31 anos, não perde uma reunião. Ela também participa do grupo de idosos no ‘Chapéu de Zinco’, nas proximidades do Clube de Mães. “Aqui sou conhecida como Quezinha. Sou a veterana do pedaço. Participo do Chapéu segunda, quarta e sexta, na quinta eu venho para o clube. Eu danço a dança do ventre e carimbó. Tiramos em primeiro lugar com a dança das virgens”, disse.
Mães Sem Fronteiras
Em junho de 2018, Aldenice foi convidada para ir em Maués (a 267 quilômetros de Manaus) para ajudar na implantação de um clube de mães na Vila São Pedro. Ela retornou em dezembro deste ano para ensinar a técnica de fabricação de sabão para 50 pessoas. O curso rendeu 120 barras de Sabão, que foram distribuídas entre os participantes.
“Já fizemos o curso em duas comunidades indígenas: Aldeia dos Branquinhos e Aldeia Rouxinol, todas no Tarumã Açu, na zona oeste de Manaus”, disse.
O clube busca agora equipar o processo de produção. As mulheres querem comprar uma furadeira para usar como misturadora dos ingredientes e produzir mais, vender, obter dinheiro, e registrar a cooperativa. Ou seja, usam o sabão capitalizar o Clube. De barra em barra, Aldenice quer também obter uma sede para a agremiação. A intenção, futuramente, é sair do processo artesanal para um pequeno negócio com técnicas industriais. Aldenice diz que não faltará sabão para atingir a meta.
(Colaborou Aldizângela Brito)