EDITORIAL
MANAUS – A vitória do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no STF (Supremo Tribunal Federal) acende um sinal de alerta em relação ao futuro da CPI da Covid-19. Se a ele foi dado o direito de ficar calado durante interrogatório na comissão, não faz nenhum sentido interrogá-lo. E se a ele foi dado esse direito, qualquer outro personagem terá o mesmo.
Pela via do interrogatório, portanto, a CPI acabou. Resta, agora, tentar buscar documentos e fatos que provem alguma coisa contra alguém na busca dos culpados pelas mais de 430 mil mortes no Brasil.
Já dissemos neste espaço de opinião que a CPI não chegaria a lugar nenhum e que terminaria em pizza. E ela caminha para isso.
Na ocasião, analisamos os aspectos políticos da comissão parlamentar de inquérito, que se diferencia e muito de um inquérito policial, porque enquanto na polícia os membros da corporação estão unidos em um mesmo propósito, os senadores estão divididos entre os que querem culpar o governo e os que querem isentá-lo de culpa.
Mas há outro aspecto que vem sendo explorado pelos defensores do governo: o passado dos principais membros da CPI: o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL).
Na quarta-feira, 12, o filho do presidente da República, senador Flávio Bolsonaro, xingou Renan Calheiros de vagabundo. No dia seguinte, foi a vez de Jair Bolsonaro, em discurso na terra de Renan – Alagoas –, usar o mesmo adjetivo para se referir ao relator da CPI.
Renan Calheiros responde a nove inquéritos no STF por suspeitas de crimes desde o período em que foi governador de Alagoas.
Omar Aziz, também citado por críticos da CPI por ser investigado, não tem inquérito ativo no STF. Apenas um inquérito foi encaminhado em 2018 à Justiça Federal no Amazonas, e tramita sob sigilo.
No entanto, ambos, presidente e relator da CPI, têm sido alvo de críticas com objetivos claros de desacreditar os trabalhos da comissão.
Apesar de o advogado de Pazuello, Zozer Hardman, afirmar que ele vai responder a todas as perguntas dos senadores na comissão, o histórico recente do ex-ministro tira qualquer certeza de que ele vai se comportar como um general.
Para os aliados de Bolsonaro, o governo agiu corretamente durante toda a pandemia e não teve qualquer parcela de culpa pelas mortes. Esses mesmos aliados querem culpar governadores e prefeitos pelos estragos causados pela Covid-19.