Da Redação
MANAUS – O estudo com a proxalutamida em pacientes com Covid-19 no Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que está sendo investigado pelo MPF (Ministério Público Federal) por irregularidades, também foi feito em Manaus entre fevereiro e março deste ano pelos os mesmos médicos com pacientes do Grupo Samel.
Na capital amazonense, os testes foram conduzido pelos médicos Flávio Cadegiani e Ricardo Ariel Zimerman, com participação do diretor da Samel, Daniel Fonseca, e registrados na plataforma ClinicalTrials.gov. À época, os médicos afirmaram que o uso da droga reduzia o tempo médio de internação, o número de mortes e a demanda de intubações.
No estado gaúcho, o estudo também busca avaliar se o tratamento com a droga é eficaz em pacientes graves de Covid, no entanto, não foi aprovado pelo Conep (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa), órgão ligado ao CNS (Conselho Nacional de Saúde), o que motivou a investigação.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o inquérito do MPF foi aberto no último dia 13 de agosto, mas as informações sobre o caso foram reveladas em reportagem do site Matinal na terça-feira (24). O repórter Pedro Nakamura apurou que cerca de 50 pessoas internadas no hospital militar receberam a proxalutamida em março deste ano.
Os voluntários da pesquisa teriam recebido diariamente comprimidos de 300 mg da droga experimental por duas semanas. Além de Porto Alegre, a pesquisa teria sido conduzida também em outros dois centros, um em Gramado (RS), e outro em Chapecó (SC), sem informação dos hospitais.
O site Matinal ouviu uma paciente que alegou não ter havido explicação de que se tratava de um estudo clínico de uma droga. Ela recebeu um termo de consentimento para assinar, mas sem acesso a uma cópia do documento. Os médicos não buscaram o contato com ela após a alta hospitalar, ato imprescindível para o acompanhamento de uma pesquisa médica.
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Manaus
Em Manaus, o estudo com 590 pacientes indicou que quase a totalidade dos pacientes estava em ventilação não-invasiva ou em necessidade de oxigênio, o que os caracterizava como pacientes críticos. Após 14 dias de tratamento, a mortalidade foi de 47,6% no grupo placebo e de 3,7% no grupo que tomou a proxalutamida, uma redução maior que 90%.
De acordo com os médicos, mais da metade (52,7%) dos pacientes que utilizaram placebo precisaram ser intubados, ao passo que 4,4%, dos pacientes que utilizaram proxalutamida necessitaram de intubação, ou seja, mais de 10 vezes menos.
Os responsáveis pela pesquisa disseram à época que nove em cada 10 pacientes internados que tomaram proxalutamida (89,1%) já tinham recebido alta, enquanto aproximadamente um terço (32.8%) do grupo placebo havia recebido alta após o período de 14 dias.
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Os médicos apontaram melhora clínica significativa em média 3 dias após o início do medicamento, contra quase 19 dias no grupo placebo. Segundo eles, a proxalutamida mostrou-se como “grande aliado no combate à pandemia da Covid-19, em especial para pacientes críticos, cuja mortalidade é muito elevada”.