MANAUS – Ex-diretora do INC (Instituto Novos Caminhos), a enfermeira a Jenifer Nayara Youchabel, em depoimento à Justiça Federal, no processo da Operação Maus Caminhos, na terça-feira, 14, disse que a contratação do instituto pelo Governo do Amazonas já era tramada desde 2012. Segundo ela, o mentor do esquema de corrupção e verdadeiro dono do INC, Mouhamad Moustafa, preso na Operação Maus Caminhos, afirmava em 2012 que a abertura do instituto já era algo considerado certo de acontecer e que estava tudo acertado com o então governador do Amazonas, Omar Aziz.
Na Receita Federal, o Instituto Novos Caminhos, com sede em São Paulo, existe desde 2000. Foi contratado pelo Governo do Amazonas em fevereiro de 2014, via Fundo Estadual de Saúde, com o nome de Sociedade de Humanização e Desenvolvimento de Serviços de Saúde Novos Caminhos. Naquele ano, o fundo empenhou R$ 71,6 milhões ao INC, mas pagou apenas R$ 1,3 milhão.
No ano seguinte, o INC “lavou a burra”. Recebeu os R$ 70,2 milhões que ficaram de 2014 e mais R$ 134,3 milhões de 2015, valor empenhado, liquidado e pago naquele ano, quando o governador já era José Melo – o contrato foi feito ainda na gestão de Omar Aziz.
Em 2016, ano em que estourou a operação da Policia Federal que desbaratou a organização criminosa que agia a partir do Instituto Novos Caminhos, o Governo do Amazonas empenhou R$ 77,7 milhões, liquidou R$ 73,3 milhões e pagou R$ 68,7 milhões. Não deu tempo de pagar mais porque a Operação Maus Caminhos foi deflagrada em 20 de setembro de 2016 e estancou a sangria de recursos.
Em menos de três anos de serviços prestados, o Instituto Novos Caminhos recebeu do Estado R$ 279,3 milhões para administrar três unidades de saúde. O último pagamento foi feito em agosto deste ano: R$ 4.615.603,73 de restos a pagar.
De acordo com a investigação do Ministério Público e Polícia Federal, os mentores da organização criminosa podem ter desviado, pelo menos, R$ 150 milhões.
Diretora tinha medo
A enfermeira Jenifer Nayara chorou duas vezes durante o depoimento de terça-feira, quando relatou que não tinha poder de decisão e que seu nome era usado para a compra de bens sem o consentimento dela. “Eu não fiz parte de nenhuma organização criminosa. Eu fui contratada pelo Mouhamad para fazer a operação funcionar e não para fazer acontecer um esquema (…) fui obrigada a assumir o cargo de presidente do INC, mas nunca exerci o cargo, e o Mouhamad me fez dar uma procuração para ele, dando o poder de responder pelo INC. Isso era para não ficar no nome dele, pois ele já tinha dois contratos com o Estado”, afirmou.
Jenifer Nayara disse que não deixava de trabalhar nas três empresas de Mouhamad Moustafa, onde recebia R$ 46,5 de salário, por medo das ameaças que o empresário fazia a ela.
“Ele dizia que tudo ia cair para cima de mim se eu saísse das empresas. Ele se intitulava o dono de tudo no Estado. Ele mesmo dizia que mandava no Amazonas. E sempre fazia as reuniões com a arma que ele andava posta na mesa, para nos coagir a fazer o que ele queria (…), ele sempre dizia que tudo que dinheiro e porrada (sic) compravam ele tinha”, disse a depoente, que fez acordo de delação premiada.
O procurador da República Alexandre Jabur, que acompanhou o depoimento de Jennifer Nayara, disse que ela tinha obrigação de falar a verdade porque se tornou uma colaboradora da Justiça. “Ela não pode mentir e nós entendemos que ela cumpriu com esse dever”, disse.