Na nota enviada ao Fantástico, sobre as denúncias de compra de votos e transporte irregular de eleitor, o governador José Melo (Pros), depois de dizer que elas foram fabricadas pelo adversário Eduardo Braga (PMDB), diz confiar na Justiça Eleitoral que, segundo ele, “saberá julgar os fatos e comprovar que foi tudo uma grande farsa”. Não é o que pensa o Ministério Público Eleitoral, a promotora que aparece na reportagem é taxativa: “O Ministério Público entende que realmente houve esse esquema de compra de votos”. Os documentos a que o Fantástico teve acesso estão anexados em processos que pedem a cassação do mandato do governador e do vice, Henrique Oliveira. Inclusive, essas provas foram emprestadas pela coligação “Renovação e experiência”, de Braga, para uma das Ações de Investigação Judicial Eleitoral ajuizadas em dezembro, mas antes, os documentos já eram parte de processos do próprio Ministério Público na Justiça Eleitoral. O que pesa nas denúncias são as provas documentais. Geralmente as denúncias de compra de voto são sustentadas por depoimentos ou prova testemunhal, o que fragiliza a ação. Mas no caso de Melo, os documentos apreendidos por uma pessoa que trabalhava para a campanha dele, dificultam a defesa. Portanto, confiar na Justiça Eleitoral é insuficiente para livrá-lo de uma possível perda do cargo.
Pacto do silêncio
O pacto do silêncio, como ficou evidente na reportagem do Fantástico, com a recusa de Dan Câmara, Evandro Melo e José Melo para se manifestarem, é um fator preocupante. Se não houve crime eleitoral, a defesa seria a melhor saída. Ao se esconder atrás de uma nota pífia, Melo dá margem a interpretações negativas sobre seu comportamento nas eleições de 2014.
De irmão pra irmão
Evandro Melo, o irmão do governador, aparece como o principal articulador dos esquemas que o Ministério Público acusa como compra de votos. Desde que Melo assumiu o posto de governador, Evandro passou a mandar no governo. Na campanha, era o comandante geral, mandava e desmandava. Depois da campanha, ele continua dando as cartas. Mas tanta eficiência pode resultar em tragédia para o futuro político do irmão.
Apenas um caso
A reportagem do Fantástico mostra apenas um caso de tantos que resultaram em ações na Justiça Eleitoral contra o governador José Melo. Há outros processos, como o que o Ministério Público o acusa de botar a estrutura da Polícia Militar para trabalhar para na campanha dele, e outro em que a coligação adversária afirma que houve dinheiro público financiando a campanha à reeleição.
Braga inocente?
Soou ridículo, também o argumento do ministro Eduardo Braga em nota ao Fantástico. Dizer que soube do assunto pelas chamadas do programa nos últimos dias é, no mínimo, zombar da inteligência do eleitorado. A prisão de Nair Blair no ano passado e o conteúdo do material com ela apreendido era assunto corriqueiro desde a campanha entre advogados da Justiça Eleitoral e fundamentou uma ação do próprio Braga.
E agora, Arthur?
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), que tentou desqualificar a reportagem do Fantástico antes de ela ir ao ar, para defender o amigo Melo, deveria se manifestar publicamente agora, depois de ver o conteúdo do material apresentado.
Estagiários
Depois de a AADES mandar os estagiários “tirar férias” até que o pagamento das bolsas (com dois meses de atraso) fosse efetuado, agora, a Polícia Civil está convocando os estudantes a voltarem ao trabalho ou serão desligados. O detalhe é que só saiu o dinheiro de janeiro.