Por Fábio Zanini, da Folhapress
SÃO PAULO – Em sua guinada rumo ao centro visando a eleição do ano que vem, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ampliou seu leque de colaboradores para incluir economistas liberais.
A principal adesão é a de Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no governo Michel Temer, que fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, mais famoso centro difusor do liberalismo econômico mundial.
Os dois tiveram uma conversa telefônica há 20 dias, por iniciativa de Rabello, que se dispôs a colaborar com Ciro na parte econômica. Ficaram de conversar pessoalmente assim que a pandemia der uma trégua. “Ele (Rabello) me ligou e me deu uma grande alegria, dizendo que estava vendo a minha luta e que tinha a vontade de ajudar”, disse o presidenciável.
Além dele, Ciro também já conversou com outros economistas liberais, entre eles dois dos pais do Plano Real, Persio Arida e André Lara Resende -nesses casos, apenas para trocar ideias.
Ciro também tem mantido contato com os ex-ministros Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser Pereira, além do professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, todos defensores do papel do Estado na economia.
No caso de Rabello, a ideia é que o contato inicial evolua para uma parceria. “Nós estamos buscando uma alternativa, um caminho verdadeiro para o Brasil”, disse o economista, que também presidiu o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no governo Temer.
Em Chicago, Rabello teve aula com diversos vencedores do Nobel de Economia, inclusive o mítico Milton Friedman, maior referência dessa escola de pensamento do século 20.
A universidade é também a alma mater do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas Rabello diz que as semelhanças com o xará terminam aí. “O Brasil precisa de um liberalismo popular, não do liberalismo financista do ministro Paulo Guedes”, afirma Rabello.
Este “liberalismo popular”, diz ele, envolve mudar o foco da política econômica para o aumento na taxa de investimento na economia, reforma tributária e preocupação com a empregabilidade dos mais jovens. “Você mal ouve falar em investimento, nesse liberalismo financista”, afirma.
No caso das privatizações, o economista defende que sejam mantidas, mas com mudança de foco. O caso da Eletrobras, diz ele, é emblemático. “Os financistas do governo querem pegar a Eletrobras e passar a ferro. A empresa está muito subavaliada”, afirma. Segundo ele, qualquer processo de venda de estatais deve envolver a pulverização do capital. “Distribuir o capital estatal ao povo é essencial”, afirma.
O economista afirma que poderá ajudar na relação de Ciro com agentes de mercado, que ainda se assustam com a imagem estatista do candidato e seu discurso nacional-desenvolvimentista.
É uma avaliação equivocada, diz ele, já que Ciro tem como propostas reforma tributária e incentivos às exportações, além de descartar intervenções abruptas do Estado na economia. “Onde eu estiver, esse tal mercado vai saber que o Ciro vai errar muito pouco”, declara.
Rabello refuta paralelo com a nomeação de Guedes como “posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro, ainda na campanha presidencial de 2018. “Falar em posto Ipiranga é repetir uma babaquice que não se aplica ao candidato Ciro Gomes, que já tem a economia na cabeça, foi até ministro da área (em 1994)”, diz Rabello. “O governo do Ciro terá como presidente um individuo de personalidade fortíssima”.
Num jogo de palavras, ele diz que o governo Ciro será “não o do posto Ipiranga, mas o do grito do Ipiranga”, metáfora sobre a necessidade de uma nova independência para o país, dessa vez do capital especulativo.
Desde a reabilitação dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro vem buscando ajustar o discurso a uma plataforma mais centrista, uma vez que o espaço à esquerda se tornou restrito. Isso envolve acenos a partidos mais à direita, como o DEM, além de centristas, como PSD e Cidadania.
O próprio Rabello é filiado ao PSD no Rio de Janeiro, mas diz que sua iniciativa de dar apoio ao pedetista não tem caráter partidário. Em 2018, enquanto estava no PSC, foi candidato a vice-presidente na chapa de Alvaro Dias (Podemos).
Ciro também vem tentando suavizar sua imagem de político pavio curto e dado a grosserias eventuais, e para isso contratou o publicitário João Santana, que trabalhou em campanhas de Lula e Dilma Rousseff (PT).
O aceno ao mercado é uma nova parte dessa estratégia. A sugestão de reforçar o time econômico e criar uma espécie de porta-voz para a área foi dada por potenciais aliados.
O ex-ministro é famoso por despejar dados e cifras econômicas em velocidade acelerada em discursos e entrevistas, o que não agrada a diversos investidores.
Na campanha de 2018, Ciro tinha como assessores dois economistas de perfil mais keynesiano, uma escola de pensamento que se opõe ao liberalismo do Chicago e defende que o Estado seja o indutor da atividade produtiva. São eles Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, e Mauro Benevides Filho, que também é deputado federal licenciado (PDT-CE).
De acordo com Rabello, sua colaboração com o programa de governo do ex-ministro não tem o intuito de tirar o espaço de ambos. “O Marconi é uma pessoal de irretocável capacidade, ponderado, pensa antes de falar. O Mauro Benevides só não é um professor mais atuante porque é mais do que isso, é deputado”, afirma.
Segundo ele, seria burrice mexer no time que está ganhando. “Eu sou um torcedor, um soldado para implementar um rumo novo para o Brasil”, diz.