EDITORIAL
COARI – Desde 2008, o município de Coari (a 362 quilômetros de Manaus em linha reta) vive uma instabilidade política incessante. Uma intermitente guerra de grupos políticos pelo poder tem levado a população a um profundo descrédito à administração pública.
A intermitente guerra começa com a deflagração da Operação Vorax, da Polícia Federal, em 2008, que levou à prisão mais de uma dezena de pessoas, entre elas secretários municipais. O prefeito era Adail Pinheiro, que cumpria o último ano de seu segundo mandato.
Adail foi eleito em 2000 pelo PL, com 6.883 votos, o que representava 34% dos votos válidos. Em 2004, foi reeleito com 18.690 votos, quase 70% dos válidos. Começava ali uma trajetória da família Pinheiro, que, com altos e baixos, persiste até hoje.
Adail concluiu o mandato e conseguiu eleger um aliado político, Rodrigo Alves (PP), que tinha Leondino Marques (PTB) como vice. No ano seguinte, ambos tiveram o mandato cassado, por compra de votos na eleição de 2008.
Coari viveu em 2009 a mesma história que vive neste dezembro de 2021. Nova eleição foi realizada em setembro daquele ano, e o vencedor foi um candidato de oposição, Arnaldo Mitouso (PMN), que teve o apoio do PT e PSDB, numa coligação com sete partidos.
A administração de Mitouso foi desastrosa. Em 2012, ele tentou se reeleger, mas teve que enfrentar a força de Adail Pinheiro, que àquela altura, diante das denúncias feitas a partir de escutas da Polícia Federal na Operação Vorax, era odiado por uns e amado por outros, mas ainda com muita força política.
O resultado foi um vergonhoso terceiro lugar para Arnaldo Mitouso, e a vitória de Adail Pinheiro (PRP), com 43% dos votos válidos (15.221 votos). Em seguindo lugar, ficou o candidato do PRB, Raimundo Magalhães, com 28,5% dos votos válidos.
De novo, a história se repete. O Ministério Público Eleitoral e a coligação de Raimundo Magalhães ingressaram na Justiça Eleitoral com pedido para que negasse o registro de candidatura de Adail Pinheiro por ele ter condenações no Tribunal de Contas da União.
Em dezembro de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato de Adail Pinheiro e determinou que o segundo colocado na eleição de 2012, Raimundo Magalhães, assumisse o cargo de prefeito.
À ocasião, Adail não estava no cargo, porque fora preso em fevereiro daquele ano sob suspeita de crimes sexuais contra crianças e adolescentes. No lugar dele, assumiu o vice-prefeito Igson Monteiro.
Monteiro brigou com o grupo político de Adail Pinheiro, sofreu pressões políticas, teve a casa e carros queimados no município e acabou renunciando o cargo, mas antes articulou uma manobra para deixar no cargo o irmão dele, Iliseu Monteiro da Silva, o Bat, que era vereador e presidente da Câmara.
Uma nova disputa envolvendo o cargo de prefeito foi travada na Câmara Municipal e manobras políticas e judiciais adiaram a posse de Raimundo Magalhães ao cargo. Ele só conseguiu sentar-se na cadeira de prefeito em abril de 2015.
Magalhães não conseguiu fazer uma gestão que caísse no gosto de eleitorado coariense, e, em 2016, foi derrotado pelo candidato Adail Filho (PP), que teve como vice a irmã dele, Mayara Pinheiro. Adail Filho teve o dobro dos votos do segundo colocado Magalhães: 21.360 contra 10.218.
O mandato de Adail chegou a ser questionado na Justiça Eleitoral, mas ele conseguiu vencer também a batalha jurídica e concluiu o primeiro mandato.
Em 2020, foi reeleito em uma disputa com o candidato do PSC, Robson Tiradentes Jr. A vitória foi acachapante: 22.220 votos para Adail e 8.871 votos para Tiradentes Jr.
De novo, Adail Filho foi alvo de contestação na Justiça Eleitoral, desta vez sob o argumento de que ele não poderia se candidatar à reeleição porque, se eleito, estaria exercendo o terceiro mandato consecutivo do mesmo grupo familiar.
A coligação derrotada nas urnas argumentou e a Justiça aceitou o argumento de que Adail Pinheiro, apesar de ter o mandato cassado em 2014, quando a Justiça anulou o registro de candidatura dele da eleição de 2012, exerceu o cargo por um ano e alguns meses.
Em dezembro de 2020, Adail Filho perdeu o mandato por decisão do TER-AM (Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas). Em outubro deste ano, o TSE confirmou a cassação ao julgar o último recurso do agora ex-prefeito.
No lugar de Adail Filho, a prima dele, vereadora Dulce Menezes (MDB), assumiu interinamente a prefeitura. Até a realização de novas eleições.
O grupo de Adail Pinheiro lançou outro membro da família, Keitton Pinheiro (PP) para disputar o cargo nas eleições deste domingo, com o candidato Robson Tiradentes Jr.
O eleitorado de Coari terá que voltar às urnas novamente. Que desta vez seja respeitada a vontade das urnas.