EDITORIAL
MANAUS – O apelo do ministro da Economia, Paulo Guedes, aos donos de supermercados para que segurem os preços por três meses mostra o desespero do governo à medida que se aproximas as eleições. E mais: joga por terra a “doutrina liberal” do bolsonarismo, tão decantada na campanha eleitoral de 2018.
Paulo Guedes se comporta como os economistas dos planos econômicos da era Sarney, quando a inflação chegava a 80% ao mês e a população vivia um desespero nas idas aos supermercados. Naquele período, que o Brasil gostaria de esquecer, criou-se a figura dos fiscais do Sarney que chegavam a fechar supermercados que aumentavam os preços.
A diferença do Governo Sarney para o Governo Bolsonaro é que o primeiro errou na tentativa de conter a inflação enquanto o segundo tenta conter a inflação temporariamente pensando em melhorar a imagem do presidente, que concorre à reeleição.
O descaramento de Paulo Guedes e Bolsonaro é tamanho que eles pendem aos supermercadistas para segurar os preços pelo período de “dois, três meses” e que atualize a tabela de preços só em 2023.
Ou seja, a medida proposta por Guedes é eleitoreira. Segurar os preços dos produtos alimentícios apenas pelo período anterior às eleições gerais. Depois, podem voltar a aumentar.
A dupla traz para os alimentos o mesmo dilema dos combustíveis, bem lembrado por Guedes como um sacrifício dos governadores em baixar o ICMS e reduzir a arrecadação de tributos: se Bolsonaro não conseguir se reeleger, a bomba estoura nas mãos do próximo presidente, se ele se reeleger, a bomba estoura no bolso dos consumidores.
Em quase três anos e meio a política econômica de Paulo Guedes só conseguiu fazer o Brasil andar de lado ou para trás. O Posto Ipiranga de Bolsonaro, que resolveria todos os problemas da economia, não consegue sequer segurar os melhores membros de sua equipe econômica.
As medidas adotadas para conter a alta do dólar fracassaram; as medidas adotadas para a geração de emprego (na prática quase nenhuma medida foi adotada), fracassaram; a troca do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil e a elevação do valor para R$ 400 não ajudaram a reduzir o número de pessoas passando fome no País, pelo contrário.
A política de preços da Petrobras levou o Brasil obrigar seus habitantes a pagar os combustíveis mais caros do mundo, se comprados os preços com a renda per capita dos trabalhadores.
Agora, Paulo Guedes e Bolsonaro querem vender a Eletrobras e usar o dinheiro para subsidiar combustíveis e evitar o aumento de preços ao consumidor, enquanto a Petrobras continua aumento seus preços e o lucro líquido da empresa.
Em termos de política econômica, o governo Bolsonaro e Paulo Guedes são um zero à esquerda. O Brasil segue ladeira abaixo, e a medida adotada pelo comandante da pasta da Economia é um apelo à benevolência dos donos de supermercados, não para resolver os problemas, mas para tentar salvar o chefe dele de uma derrota nas urnas.