EDIORIAL
MANAUS – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), visitou o Igarapé do 40 à altura da Avenida Silves, na zona sul da capital, onde trabalhadores da limpeza pública retiravam lixo do igarapé. Nas redes sociais, ele descreveu a imagem como “uma realidade desoladora”, e afirmou que o município está “finalizando um projeto de conscientização” para combater o problema e recuperar os cursos d’água.
Manaus é cortada por diversos igarapés, todos eles muito poluídos. A prefeitura retira centenas de toneladas de lixo das águas imundas todos os meses, são milhões de reais gastos todos os anos para a limpeza dos igarapés, que nunca param limpos.
E o que mais se vê são as garrafas pet, produzida pela indústria de refrigerantes. Manaus não é uma exceção. O lixo dessa indústria afeta todas as cidades brasileiras. Não são apenas as garrafas de bebidas que poluem igarapés e contribuem para a tragédia ambiental nas cidades, mas a indústria plástica de um modo geral.
Nem é o único problema para a natureza e para a saúde da população gerado por essa indústria. Mas o problema das garrafas de refrigerantes é mais visível, e de fácil solução.
O Brasil atravessou séculos usando as garrafas de vidro para envasar bebidas. Foi só em meados do século passado que surgiram as garrafas pet e se popularizaram no início do Século XXI.
Pela praticidade e segurança (não quebra como o vidro), as garrafas pet ganharam espaço no mercado, mas ao mesmo tempo se tornaram um dos maiores poluidores da natureza.
A indústria de bebidas fatura alto, mas deixa um rastro de destruição que o poder público não consegue combater com a simples “limpeza urbana”. É preciso ir além.
Em um passado recente, algumas empresas, como a Coca-Cola Brasil, começaram a utilizar a garrafa pet descartável, mas a ideia não avançou.
Os governos federal, estaduais e municipais precisam obrigar a indústria de refrigerantes a praticar a logística reversa e a reciclagem.
O grande problema das garrafas pet é o valor monetário. Ninguém está disposto a pagar pelo produto, como é feito no Brasil com as latas de alumínio também muito utilizadas pela indústria de bebidas.
No entanto, o custo para o cidadão gerado pela poluição ambiental é muito maior do que o da reciclagem. É preciso obrigar a indústria de refrigerantes a agregar valor à garrafa vazia. Fazendo isso, a própria sociedade irá se empenhar em reciclar as garrafas, como já faz como alumínio, por exemplo.
Certamente, essa prática resultará em aumento de preço do produto final dessa indústria, mas esse também é um fator positivo, porque poderá reduzir o consumo de bebidas adocicadas que tanto contribuem para a obesidade da população.
Isso não resolve o problema central que é a poluição pelo lixo. Mas é uma boa iniciativa que poderá ser estendida a todos setores que utilizam o plástico nas embalagens. E não são poucos.
Sobre a proposta do prefeito de “conscientizar” a população a não poluir os igarapés, não deixa de ser interessante, mas muitas campanhas já foram feitas, sem qualquer efeito prático.