EDITORIAL
MANAUS – Jair Bolsonaro é uma aberração política. Pensa e age sempre contra tudo e contra todos, não por convicção, mas porque quer “causar”, como dizem os mais moderninhos. O presidente da República Federativa do Brasil se comporta como aqueles garotos mimados que fazem de um tudo para contrariar a maioria.
É assim que ele tem se comportado durante esses dois anos de pandemia de Covid-19. Para ele, não importa se seu comportamento é prejudicial ou não à população. A impressão que ele passa é de que não faz a mínima ideia da importância do cargo que ocupa. Depois de três anos, continua deslumbrado, sem saber o que fazer com o país.
Como não se preocupa com os problemas do Brasil, sobra tempo para encrencar com “Deus e o mundo”. Quando a pandemia começou a chegar ao país, ele desistiu de tomar as rédeas da gestão da saúde e viu os governadores e prefeitos agirem.
Em vez de apoiar os gestores estaduais e municipais, posicionou-se contra. Se as medidas adotadas por governadores e prefeitos fossem contrárias às adotadas, certamente o presidente teria a mesma reação, porque para ele não importa o que se faça, o que importa é ser do contra.
Primeiro, os gestores estaduais e municipais adoraram o distanciamento social como forma de frear a disseminação do vírus. Bolsonaro foi contra, sob o argumento de que a economia não poderia ser prejudicada.
Depois, estados e municípios decretaram a obrigatoriedade do uso de máscaras. Bolsonaro passou a pregar a desobediência ao uso de máscaras e a desrespeitar os decretos por onde passou. Uma coisa muito parecida com aqueles adolescentes rebeldes que fazem tudo contra as normas da escola só para parecerem diferentes.
Depois, o presidente brasileiro passou a receitar cloroquina para curar a Covid-19, quando os estudos ainda tentavam medir a eficácia do medicamento em pacientes infectados com o coronavírus. Mesmo depois de todas as evidências dizerem o contrário, Bolsonaro manteve e mantém até hoje a falsa ilusão de que a cloroquina é eficaz contra a doença.
Os gracejos do presidente da República resultaram em milhares de mortos, bem acima da média mundial. Muitos daqueles que seguiram a “orientação” de Bolsonaro estão enterrados ou foram cremados nos dois últimos anos. Mais de 618 mil vidas já foram pedidas para a Covid-19.
Em dezembro de 2020, a Europa e os Estados Unidos começaram a vacinar seus cidadãos. A vacina era a única esperança para se reduzir o número mortes pela Covid. Bolsonaro fez todos os esforços para impedir o início da vacinação no Brasil. A CPI da Covid-19 no Senado revelou o que foi feito nos bastidores do Poder.
Mesmo a vacina produzida em território nacional pelo Instituto Butantan não recebeu apoio do governo, pelo contrário: em público o presidente desautorizou o ministro da Saúde a comprar o imunizante, que chamou de “vacina chinesa” e “vacina do Dória”.
A vacinação só começou no Brasil na segunda quinzena de janeiro, quando a segunda onda da Covid-19 já matava às centenas no Amazonas e aos milhares no Brasil. Os quatro primeiros meses deste ano foram os mais tristes da história do país, com milhares de vidas perdidas diariamente para a Covid-19, enquanto os brasileiros esperavam ansiosos o avanço lento da vacinação.
Bolsonaro, que deveria incentivar a vacina, fazia piada, pregava que os vacinados poderiam virar jacaré, e passou a panfletar que ele não tomaria o imunizante contra a Covid-19. O presidente fez uma campanha graciosa e sistemática contra a vacinação, e ajudou a frear o avanço da imunização dos brasileiros.
Agora, quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda e autoriza a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, uma faixa de idade não contemplada até aqui, o presidente volta a fazer nova campanha contra. Chegou a ameaçar os servidores da Anvisa.
Nesta segunda-feira (27), usou a própria filha na campanha sórdida contra a imunização de crianças para desafiar as autoridades constituídas. Disse o presidente que não vai vacinar a filha. “Espero que não haja interferência do Judiciário. Espero. Porque minha filha não vai se vacinar. Deixar bem claro. Tem 11 anos de idade”, disse Bolsonaro.
Se o presidente não dissesse nada sobra a filha de 11 anos, nada aconteceria. Talvez ninguém lembrasse que ela deveria ser imunizada. Mas a manifestação pública tem outro objetivo: insultar os que defendem a vacinação de crianças.
Esse teatro encenado pelo presidente gera pelo menos uma suspeita: a de que ele, de fato, não é contra a vacina e o próprio já foi vacinado. Não por acaso o Palácio do Planalto estabeleceu sigilo por 100 anos aos exames de anticorpos de Covid-19 feitos pelo presidente. Nunca se saberá se ele realmente foi imunizado.