Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Há quase um ano, o fisioterapeuta Kaio Fábio Barroncas, de 33 anos, trocou o carro pela moto para fazer atendimentos domiciliares aos pacientes. A mudança ocorreu por dois motivos: aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis e manutenção mais barata do veículo.
A economia foi perceptível. “Eu estava fazendo de R$ 250 a R$ 300 de gasolina por semana, já não estava compensando. Quando mudei para a moto, comecei a pagar até R$ 50, ou seja, eu comecei a gastar em um mês na moto o que eu gastava em uma semana no carro”, disse.
A economia é possível ao se avaliar as condições em que se usa a moto, informa a Yamaha, uma das fabricantes do polo de duas rodas na Zona Franca de Manaus.
A empresa esclarece que é preciso considerar as diferenças entre os modelos dos veículos, a forma como o condutor dirige, o peso do motorista, se tem garupa ou não, entre outros fatores.
“O modelo Yamaha Fluo 125, recém-lançado, tem estimativa de circular, em média, por 45 quilômetros com 1 litro de gasolina na cidade, desde que conduzido de modo parcimonioso e nos limites de velocidade permitidos, enquanto um automóvel muito eficiente, se conduzido da mesma forma, consumirá cerca de 10 Km com 1 litro, ou seja, essa motocicleta é 350% mais eficiente que o automóvel”, exemplificou a empresa, em nota.
Kaio também reduziu os custos com manutenção. Segundo o fisioterapeuta, o carro exigia revisões de suspensão a cada um ou dois meses, que custava em torno de R$ 300, fora a troca de pneus. “Hoje na moto, demora mais para fazer conserto de peças que se quebram pela constância do uso. Na moto, eu gasto em torno de R$ 250 para fazer a revisão trimestral. Caso tenha que trocar um pneu, esse valor dobra”, disse. “E o carro desvaloriza muito com essa quilometragem alta”.
Outra vantagem é o deslocamento no trânsito de Manaus. “A moto é mais prática e rápida. Só não em dias chuvosos, pois tenho que pilotar bem mais devagar”, afirmou o fisioterapeuta.
Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Bicicletas e Similares), confirma a situação descrita por Kaio. “O consumidor tem na motocicleta uma alternativa de deslocamento ágil e seguro, com menor custo de manutenção e que pode ser utilizado como instrumento de trabalho ou lazer. Além disso, o fator economia de combustível está levando muitos consumidores a optarem pela motocicleta no dia a dia”, afirmou.
Além do baixo consumo de combustível e maior eficiência quanto à mobilidade urbana, a Yamaha entende que o menor preço para a compra contribui para a melhor relação custo-benefício em relação ao automóvel.
“O modelo Yamaha Fluo 125 custa pouco mais de R$ 13 mil, enquanto o automóvel mais barato a venda no Brasil custa cerca de R$ 60 mil. Assim, considerando o IPVA [Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores] de cada modelo à alíquota de 4%, teremos que a taxa da moto será de R$ 520 ao passo que, no carro de nosso exemplo, seu proprietário desembolsará R$ 2,4 mil”.
Em virtude disso, a fabricante avalia que a motocicleta há muito se apresenta como opção vantajosa para os deslocamentos diários. “A pandemia e o aumento de combustível apenas tornam isso mais evidente, e a tendência é que as pessoas escolham a motocicleta para o seu dia a dia”.
Oferta e demanda
A busca pelo veículo de duas rodas movimentou as linhas de montagem em Manaus. Dados da Abraciclo mostram que fabricantes fecharam o primeiro bimestre de 2022 com a produção de 190.589 unidades. Em fevereiro, 107.046 motocicletas saíram das linhas de montagem, o melhor resultado para o mês, desde 2015. Naquele ano, foram produzidas 110.823 unidades.
O levantamento da Abraciclo mostra que o desempenho do setor foi 28,1% superior ao registrado em janeiro (83.543 unidades) e 84,5% maior na comparação com o mesmo mês do ano passado (58.014 motocicletas).
A preferência pelo veículo de duas rodas se reflete nos números do Detran-AM (Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas). Em Manaus, no ano de 2020 houve um acréscimo de 14.489 automóveis em circulação; em 2021, mais 8.768. Até janeiro deste ano, foram 522 novos veículos do tipo. Ainda na capital, já em relação às motocicletas, em 2020 foram mais 11.240; em 2021, 13.723; e até janeiro de 2022, mais 675 motos.
Em um comparativo entre os dois tipos de veículos, é possível observar uma redução progressiva na aquisição de carros, e um aumento no quantitativo de motos. Em termos percentuais, a queda de 2020 para 2021 no total de novos automóveis foi de 39,5%. Ao passo que as novas motos representaram um crescimento de 22% na frota desses veículos.
Entre a população do interior do estado, que tradicionalmente usa mais a moto, o veículo se manteve como favorito em relação ao carro.
No ano de 2020, foram 4.070 novas motocicletas; em 2021, mais 5.908. Até janeiro de 2022, 481 novas motos. Quanto aos carros, nesses mesmos anos, respectivamente, foram 1.545, 1.430, e até janeiro deste ano, 125 novos automóveis. De 2020 para 2021, a variação percentual de novas motos foi positiva, 45,2%. Para os automóveis, a queda foi de 7,4%.
A frota total cadastrada no Amazonas em dezembro de 2021 foi de 1,05 milhão veículos, sendo 855.922 mil da capital, segundo dados divulgados pelo Detran em janeiro deste ano.