Quase diariamente tem novidades no cenário político brasileiro e no Amazonas. Com a publicação da lista da construtora Odebrecht, a sociedade tomou conhecimento de que mais de 300 políticos de 24 partidos receberam doações da empresa, não se sabe se de forma legal ou ilegal. A empresa tinha um setor somente para o controle e pagamento de propinas e doações políticas e operava desde 1980. O juiz Sérgio Moro, rapidamente mandou colocar em segredo de justiça as listas, pois parece que também envolvia pessoas do Judiciário, do Ministério Público e das Forças Armadas. Quanta coisa ficará escondida.
Esta lista mostrou que quase todos os partidos políticos estão envolvidos. Praticamente todos os líderes da oposição ao Governo Federal receberam doações da empreiteira, como o Aécio, Serra, Alckmin, Renan, Cunha, Artur Neto e outros. A Dilma e o Lula não aparecem na lista.
O juiz Moro esta semana pede desculpas ao Supremo Tribunal Federal por ter divulgado de forma ilegal as escutas telefônicas entre a presidente Dilma e Lula e este com outras pessoas. A presidente da República, por uma questão de soberania nacional e constitucional, não poderia ter seu telefone grampeado por um juiz de 1ª instância e jamais publicado. Se fosse nos EUA, o juiz estaria preso. Muitos entendem que Moro deveria pedir desculpas também a Dilma e ao Lula, além de ser afastado da operação Lava Jato pelos vazamentos seletivos ao longo dos processos, sempre para atingir o governo Dilma, o PT e o ex-presidente Lula.
Na Câmara dos Deputados, a “toque de caixa”, o deputado Eduardo Cunha do PMDB, tenta dar agilidade ao processo de impeachment da presidenta Dilma. A comissão foi formada, já está em processo de discussão. Mas o que todo mundo pergunta: afinal, qual o crime cometido pela Dilma, na atual gestão, que justifique seu afastamento? A Constituição Brasileira diz que tem que haver a comprovação de um crime realizado pessoalmente, como requisito mínimo para o pedido de afastamento. Como isso não aparece, então trata-se de uma tentativa de golpe de estado. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio afirmou ontem, que: “Se não houver fato jurídico que respalde o processo de impedimento, este processo não se enquadra em figurino legal e transparece como golpe”.
O deputado Eduardo Cunha foi denunciado pelo Ministério Publico Federal, junto ao STF, com fartas provas de envolvimento em esquema de corrupção investigado pela operação Lava Jato. Ele recebeu R$ 5 milhões em propinas e foi comprovado contas milionárias na Suíça. Ele mentiu na CPI da Petrobras, dizendo que não tinha contas no exterior. Por todos esses crimes ele também enfrenta um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. Agora ele quer influenciar na Comissão de Ética para não ser cassado. Ou seja, Cunha, que já deveria ter sido julgado e preso pelo STF e cassado pela Câmara, está empenhado na derrubada da Dilma, que não responde a nenhum processo, não tem contas no exterior, não foi condenada por nenhum crime.
O PMDB, do vice-presidente Michel Temer, decidiu sair do Governo Federal. Numa reunião que durou três minutos, decidiram abandonar o governo Dilma e pregando a saída de todos os ministérios e cargos (são mais de 500) que ocupam há 12 anos. O PMDB é o partido que mais recebeu recursos das empreiteiras investigadas pela Lava jato ao longos dos anos. É o partido do Sarney, Renan, Cunha, Barbalho, Eduardo Braga, Romero Jucá, Henrique Alves. O interessante é que nas justificativas o PMDB diz que sai em função das “graves denúncias de participação de integrantes do Governo Federal em escândalos de corrupção”. Ora, os principais líderes do PMDB estão denunciados por corrupção. E muitos, acompanham o vice Temer, no golpe para afastar a Dilma.
Nas mídias sociais, se cobra que o vice-presidente Michel Temer, do PMDB também saia do governo. Renuncie ao mandato, e acompanhe todos que deixam os cargos no Governo Federal.
No Amazonas temos reflexos da Lava jato. Na delação do senador Delcídio do Amaral é citado o deputado federal Alfredo Nascimento. Na delação da empresa Andrade Gutierrez é denunciado os senadores Eduardo Braga e Omar Aziz.
O prefeito Arthur Neto aparece na Lista da Odebrecht. O deputado federal Artur Bisneto recebeu R$ 2,1 milhões das construtoras Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez e o Banco BTG, processadas por corrupção na operação Lava jato, acusadas de pagar propinas para políticos em troca de benesses financeiras por meio de negócios escusos como licitações fraudulentas.
O mundo se manifesta contra o golpe, a manipulação midiática e a politização do judiciário. Os principais jornais do EUA, Alemanha, Espanha, Inglaterra denunciam o golpe. O Los Angeles Times, diz que “políticos que votam impeachment são acusados de mais corrupção que Dilma”.
No Brasil, uma enxurrada de manifestações de entidades, movimentos, grupos organizados, entidades classistas, sindicais, juristas, religiosas, de profissionais liberais denunciam o golpe.
No Amazonas um grupo significativos de advogados progressistas lançou um manifesto pela Democracia e contra o Golpe, discordando da posição dos conselheiros da OAB/Amazonas e do Brasil que apoiam o golpe. Lembram que em 1964 a OAB também apoiou o golpe militar e depois foi duramente perseguida pelos militares.
Mais de 37 entidades da sociedade civil e do movimento de mulheres lançaram um manifesto pela democracia, pelos avanços nos direitos das mulheres e contra a deputada federal Conceição Sampaio (PP) que diz apoiar o impeachment da Dilma.
Atos públicos não param de acontecer. Um verdadeiro banzeiro. Na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) foi lançado o Comitê Humanidades Amazônicas: um Ato de Amor pela Democracia, com professores, artistas, estudantes, intelectuais, entidades. Na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) será lançado hoje o Comitê Pró-Democracia, com um ato que conta com a presença de professores, estudantes e sociedade civil. E ainda hoje, no final da tarde, às 16h, na Praça São Sebastião, no Centro de Manaus, será realizado um grande Banzeiro Cultural pela Democracia. Serão os artistas, cantores, poetas, músicos, populares se manifestando pela Democracia, os direitos sociais e contra o golpe. Vamos lá!
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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