Fora de Manaus, acompanhei pelo Jornal Nacional da TV Globo alguns momentos do espetáculo de Natal, organizado pela Secretaria de Cultura do Amazonas. Confesso que me senti envaidecido com o show, uma produção com gente da terra, artistas caboclos, prata da casa, como se dizia antigamente.
Comoveu-me a beleza plástica das cenas e a sincronia dos gestos, passos e danças, embalados por canções que consultam o presente e o passado. No enredo, uma visita de cinco jovens ao Teatro Amazonas, ícone suntuário da região, do Estado, de todos nós, homens e mulheres gerados no ventre da Amazônia. Um conto de Natal – “Glorioso 2013 – O Desejo de Natal” –, vibrante e afirmativo de nossos valores, de nossa cultura e de tudo o que somos capazes de realizar. Uma homenagem ao guardião de nossa casa de óperas, Jorge Bonates, servidor público, em sentido o mais amplo, na sua discrição e singeleza, protetor do patrimônio que herdamos de uma época de fausto.
No elenco, os frutos agora colhidos de anos e anos de trabalho e investimento cultural, que ganham dimensão em festivais e concertos já rotineiros, reconhecidos no Brasil e no exterior. Revela o que vem sendo feito com obstinação, na expressão de profissionais da Filarmônica, Amazonas Band, Coral do Amazonas, Corpo de Dança, de Violões e outros grupos artísticos, com apoio de centenas de trabalhadores estruturais. Uma visão magnifica do talento e das potencialidades do nosso povo, rico e criativo em suas manifestações, quando estimulado.
Sob a regência do secretário Robério Braga e de sua equipe, conforta-me a certeza de que o programa não sofrerá interrupção. Ao contrário, como é de seu estilo, evoluirá com as primeiras experiências, e muito, até ganhar os contornos de outras inciativas já consagradas de sua pasta. Preocupa-me apenas a notícia que li sobre a possível transferência do espetáculo para o Sambódromo ou para a Arena da Amazônia. Não façam isso pelo amor de Anhum e Dionísio, deuses da música e das artes cênicas, não deixem de lado o sítio mais legítimo da cidade, o entorno do Teatro Amazonas, que compõe a paisagem mais representativa da história da região, a maior atração turística urbana no Estado.
A propósito, já é hora de reunir de novo cultura e turismo, sob a direção de Braga. Ele, com seus projetos e feitos culturais, já fez mais pelo turismo do que a empresa correspondente durante toda sua existência, especialmente nos últimos 11 anos. Um parêntese: quem me conhece, em particular, meus poucos leitores, sabe que sou crítico e não tolero o elogio fácil e imoderado, mas não posso deixar de reconhecer o trabalho que se faz na área cultural, hoje incontestável. Reencontrado o tema, incomoda que a pequena Alter do Chão, Santarém, Pará, tenha mais presença no meio e na mídia especializada do que o Amazonas, com seu imenso patrimônio ecológico, florestas, praias e locais paradisíacos. O que está faltando? É claro que gestão, conhecimento do setor, operosidade e ousadia. Se as atividades voltadas para o turismo tivessem tido o incremento verificado na área cultural, a situação seria outra, inteiramente diferente da realidade atual. O espaço que o Estado acaba de ocupar no principal telejornal do Brasil, na divulgação espontânea de um fato jornalístico, que desperta atenção natural por suas características intrínsecas, vale muito mais do que qualquer campanha publicitária paga e logo identificada como oficial, nem sempre verdadeira.
Bem, mas voltando ao nosso show de Natal, independente da grandiosidade do evento, constata-se também que começamos a ocupar os grandes veículos de comunicação do país com dignidade e honra. Sepultamos ou estamos em vias de sepultar, até que enfim, o tempo em que o Amazonas era visto somente pelo lado do opróbrio, quando cunhou-se o bordão “do amazonense que se destaca lá fora”, em cima da prática de algum crime ou escândalo, um vexame.
Não há dúvidas de que o salto é de qualidade, com a promoção do Auto de Natal no coração da Amazônia continental, acontecimento que credencia o Amazonas a participar do calendário do entretenimento brasileiro, com a valorização dos artistas locais e a vantagem de ter como base a fé e a religiosidade cristã, permeáveis ao ecumenismo sem fronteiras e sem preconceitos. De igual modo, tem-se com o empreendimento fortes reflexos sobre a economia, com resultados positivos em benefício do Estado, proporcionando a realização de muitos negócios e a criação de emprego e renda para seu povo.