Da Redação
MANAUS – O ex-presidente Lula defendeu a demarcação de terras indígenas, o asfaltamento da rodovia BR-319 e a manutenção dos incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus em entrevista à Rádio Difusora do Amazonas, nesta quinta-feira (23). Lula também criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) por “irresponsabilidades” sobre a Amazônia.
O petista disse que pretende viajar a Manaus em julho ou agosto para realizar atos de campanha. Ele disse que arco de aliança dele no Amazonas ainda está em “construção”, mas já tem alguns favoritos como o senador Omar Aziz, o deputado federal José Ricardo e o deputado estadual Sinésio Campos, que disputarão a reeleição.
“Estou com muita calma. Falei para o Sinésio [Campos] que é preciso marcar uma reunião com nossos aliados no Amazonas para discutir o que a gente vai fazer. Nós já temos senador, a chapa de candidatos a deputados federais. Temos o Zé Ricardo, o Sinésio, a companheira Vanessa Grazziotin…”, disse Lula.
O ex-presidente afirmou que o senador Omar Aziz “é um grande companheiro” e, se ele for candidato à reeleição, quer “estar junto com ele”. “Quero o apoio dele e quero apoiá-lo. Ainda estamos tentando construir uma aliança política no estado”, afirmou o petista.
Sobre o apoio a candidato a governador, o ex-presidente disse que o PT ainda vai decidir se fará acordo com o MDB que, no Amazonas, terá o senador Eduardo Braga como candidato a governador. “Nós temos que fazer o seguinte: Vamos fazer acordo com o MDB ou não? É preciso discutir a nível nacional com o MDB”, afirmou Lula.
Lula disse que nessa visita ao Amazonas pretende conversar com lideranças de povos indígenas e visitar o Vale do Javari, no sudoeste do estado, região onde o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, que tinha 41 anos, e o jornalista Britânico Dom Phillips, que tinha 57 anos, foram assassinados no início deste mês.
Terras indígenas
Para Lula, o atual presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Xavier, “é a cara do presidente da República, é a cara do desgoverno”. “Desde que esse governo tomou posse, a gente vê que a politica dele não é cuidar, é descuidar. Não é preservar, é desmatar”, afirmou o petista, ao citar o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.
Nesta quarta-feira (23), servidores de pelo menos 18 sedes da fundação protestam pela saída de Xavier do cargo e pedem profunda investigação sobre a morte de Dom e Bruno. Em 2019, Bruno pediu licença da Funai, apontando obstáculos do governo Bolsonaro e da gestão de Xavier à frente da fundação para continuar o seu trabalho de defesa dos povos indígenas.
Lula afirma que a saída de Bruno do cargo de coordenador regional da Funai comprova a irresponsabilidade do governo Bolsonaro. “O fato de o Bruno ter sido mandado embora pelas posições que ele tinha em defesa dos índios, em defesa das nações indígenas, é a demonstração maior de que esse governo não tem responsabilidade nenhuma”, disse.
“É por isso que a sociedade brasileira tem que se dar conta de que em 2018 o povo brasileiro cometeu um erro histórico, quem sabe levado pelas mentiras, pelas fake news. Isso levou esse país ao maior erro histórico de eleger uma pessoa com comportamento fascista, com nenhum comportamento civilizatório”, afirmou Lula.
“Este cidadão nunca se reuniu com governadores, com prefeitos, com sindicalistas, indígenas, mulheres, com nenhum movimento neste país. E ainda quer destruir a Zona Franca de Manaus. É uma demonstração de que este cidadão não conhece o Brasil, não tem responsabilidade com o Brasil”, completou o ex-presidente.
Ainda de acordo com Lula, Bolsonaro “não tem comportamento adequado como presidente”. “[Ele] deveria ter visitado o Vale do Javari, ter ido conversar com os índios. Por isso, acho que as declarações do Bruno eram apenas a constatação do abandono que a Funai está renegada desde que foi dado o golpe na presidenta Dilma em 2016”, disse o ex-presidente.
Lula também afirmou que, se for eleito, promoverá a demarcação de terras indígenas. “Vamos demarcar o que tiver que demarcar. Vamos preservar o que tem que preservar. Se trata de uma necessidade da humanidade para que a gente possa preservar aquilo que os humanos ainda não destruíram. Se o mundo está pelado é porque alguém destruiu”, afirmou.
BR-319
Sobre a rodovia BR-319, Lula defendeu o asfaltamento, mas condicionado a apresentação de estudos de preservação ambiental. “Se você levar em conta a preservação ambiental, fazer com que os animais possam atravessar de um lado a outro, você pode até concluir a estrada. Você pode ter um sistema de fiscalização pago pelos próprios usuários da estrada”, disse.
“O que não dá, o que não é possível, é a gente ficar impedindo o desenvolvimento de determinadas regiões, envolvendo os estados do Amazonas e de Rondônia”, completou Lula.
Zona Franca
Em relação à Zona Franca de Manaus, Lula disse que o modelo será “intocável” em seu eventual governo. “A Zona Franca será intocável. Nós vamos manter os benefícios da Zona Franca para que ela possa atrair mais empresas, gerar mais empregos, pagar mais salários, e melhorar a vida do cidadão”, afirmou o ex-presidente.
Para Lula, os ataques do governo federal à Zona Franca de Manaus demonstram que Bolsonaro “não conhece o Brasil”. “Não tem responsabilidade com o Brasil, não sabe a importância da manutenção da floresta para o planeta terra e não sabe a importância da Zona Franca de Manaus para a sobrevivência do povo deste estado”, disse o ex-presidente.
Prisão de Milton Ribeiro
Sobre a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, Lula disse que “a prisão depende de apuração, de prova”. “Você não pode prender porque você vai prender. Você tem prova contra o cidadão? Está provado que ele roubou? Você faz um processo e daí a Justiça decide se vai prender ou não”, disse o ex-presidente.
“Eu defendo o direito a defesa pra todo mundo. O direito a defesa um valor monumental da democracia desse país. Por isso, não sei se já foram investigados, se houve autorização do juiz para prender. Mas que ele foi um mal ministro da educação, foi. Aquela reunião dele distribuindo dinheiro para pastor é uma vergonha nacional”, completou Lula.