Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assume neste sábado, 9, o comando do PSDB com a preocupação de apresentar um discurso capaz de lhe credenciar como candidato do centro político na disputa presidencial de 2018. Alckmin vai se oferecer como um contraponto à possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirá que o petista “será condenado nas urnas pela maior recessão da nossa história”.
“As urnas o condenarão pelos 15 milhões de empregos perdidos, pelas milhares de lojas fechadas, sonhos desfeitos e negócios falidos. As urnas o condenarão pela frustração dos projetos de milhões de famílias levadas ao desespero, por ter sucateado o SUS e atentado contra a saúde de todos os brasileiros”, diz trecho do discurso que o tucano preparou para a convenção nacional da sigla, em Brasília.
O evento que marcará a posse de Alckmin na presidência do PSDB também será um lançamento informal da segunda candidatura dele a presidente da República – na primeira disputa, em 2006, foi derrotado por Lula no segundo turno.
O governador paulista vai tentar se viabilizar eleitoralmente como o mais preparado para liderar o campo antipetista e retomar a polarização que marcou as últimas eleições presidenciais. “Nós os derrotaremos nas urnas”, dirá Alckmin ao se referir ao ex-presidente. Lula já está em pré-campanha pelo País, mas pode ser condenado em segunda instância pela Justiça Federal e ter de travar uma batalha judicial pelo direito de concorrer na eleição. Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
O objetivo do PSDB sob a chefia de Alckmin é passar a ideia de que o paulista tem mais condições de dar seguimento a uma agenda de reformas e recuperação econômica. Para tucanos, o desgaste de Lula no aspecto ético não está consolidado, como indica a queda no índice de rejeição ao petista detectada na pesquisa Datafolha – chegou a 57 pontos porcentuais em 2016 e no mais recente levantamento atingiu 39 pontos.
Melindres
A fala de Alckmin na convenção estava sendo cuidadosamente construída nessa sexta-feira para evitar melindres com o próprio partido e com a gestão do presidente Michel Temer. O governador paulista passa a comandar o PSDB na crise mais aguda da legenda – dividida em relação ao governo federal, também atingida pela Operação Lava Jato, hesitante na defesa de bandeiras históricas, e sob críticas e a desfiliação de importantes teóricos. Por isso, vai insistir na necessidade de união interna do partido.
Conforme auxiliares, Alckmin adotará um tom ‘incisivo’ ao dizer que o PSDB ‘está vivo’ e tem força para liderar o movimento do ‘próximo ciclo’ da política.
No momento em que o PMDB fala em lançar um candidato da base governista para defender o legado de Temer, o governador paulista vai se comprometer com a reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Alckmin ainda resiste, porém, em fazer explícita defesa do presidente.
O pedido de demissão de Antonio Imbassahy da Secretaria de Governo, anunciado ontem, ajudou a aliviar a tensão no PSDB. Segundo o senador Tasso Jereissati (CE), Alckmin vai anunciar que o partido já não é mais da base governista, mas apoia as reformas.
Embora a sigla ainda resista a fechar questão, a partir de segunda-feira, o paulista deverá fazer uma ofensiva pela reforma da Previdência. “Nossa posição é favorável às reformas, em especial a da Previdência. Defendemos uma agenda reformista, de competitividade e modernização”.
Alckmin vai substituir na presidência do PSDB o senador Aécio Neves (MG), alvo de inquéritos criminais e acusado de corrupção com base na delação da J&F. Aliados aconselharam Aécio a não comparecer ao evento. Se for, o mineiro deverá ter uma participação discreta.
O governador de Goiás, Marconi Perillo – que, com Tasso, abriu mão de disputar a presidência do partido -, vai ocupar a primeira-vice-presidência e pode assumir a legenda em agosto para que Alckmin eventualmente se dedique exclusivamente à campanha presidencial.
O governador se reuniu nessa sexta-feira com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM). A reunião, que ficou fora da agenda oficial, ocorreu no gabinete do senador Roberto Rocha (PSDB-MA). A reportagem apurou que Alckmin tentou convencer Virgílio a abdicar da disputa.