O momento econômico do mundo é de pânico. Mesmo com o Banco Central dos EUA fazendo anúncios em um domingo (15/03), zerando sua taxa de juro, a expectativa é que o dia de hoje será temperado por mais quedas históricas no mercado acionário global. O mundo que emergirá após todo este caos acionário é um mistério. Por mais que exista sempre o otimismo no longo prazo, fica a questão: quão longo será este prazo? Afinal, no longo prazo estaremos todos mortos.
Quanto ao vírus, uma boa parte da população global poderá ser contaminada até uma vacina ser desenvolvida. Segundo estimativas da revista The Economist, até 60% da população poderá ser contaminada. Por mais que as maiores chances sejam de sobrevivência, a busca de uma saúde perfeita, e de mercados sempre crescentes tem temperado com grande pessimismo muitos de nós. Pessimismo não constrói desenvolvimento. O resultado é contrário a isto.
Os cidadãos comuns não são afetados diretamente no curto prazo. Todavia, parece-me bastante claro que medidas precisarão ser tomadas para proteger empresas. É chegada a hora de comportamentos diferentes da sociedade, sob pena de regredirmos décadas do ponto de vista econômico. O setor de transportes será severamente afetado, havendo um riso expressivo mesmo para grandes empresas.
Empresas de transporte caracterizam-se por baixas margens operacionais. Pequenas variações de demandas já são suficientes para levar ao prejuízo. No caso do presente, as variações são as mais expressivas já vistas, desde pequenos sistemas, como ônibus nas cidades, até os maiores, como o transporte aéreo internacional.
Há estimativas que grandes empresas aéreas estarão quebradas até maio, com este cenário instalado, pois não há geração de caixa. O que dizer de pequenas empresas? Medidas de choque que digam para empresas pararem são até bonitas do ponto de vista de “estamos nos preocupando com o cidadão”. Todavia, são de endereçamento complexo sob a ótica financeira: de onde vem o dinheiro para manter tantos trabalhadores em casa e com remuneração? Não existe este dinheiro.
Não acredito que o impacto nos PIB dos municípios, estados ou países será de 1% ou 2% negativo, como dizem alguns analistas. A queda que surgirá dos relatórios estatísticos será de longe muito mais expressiva que isso. Haverá impacto nos níveis de emprego e nas relações sociais. Cada decisão tomada agora será crucial para a construção do que será uma nova ordem global. Poderemos sair mais fortes ou mais fracos, conforme a linha de ações que será adotada.
Que tenhamos este cuidado ao tomar decisões ao longo dos próximos dias. Precisamos proteger desde empresas de ônibus, até empresas de aviação sob pena de um impacto ainda mais expressivo do que os 3% a 6% dos contaminados, o que em si já é assustador. Todavia, o cenário que cerca esta questão parece também assustador, para os 94% a 97% que sobreviverão, dentre os 60% contaminados e os outros 40% não contaminados. É um momento interessante para o estudo da estatística e do pânico.
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Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.