EDITORIAL
MANAUS – A extrema direita dos Estados Unidos, que tem como principal expoente Donald Trump, realizou, no início deste mês, a CPAC (Conservative Political Action Conference, em português, Conferência de Ação Política Conservadora). O Brasil teve representantes no evento, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o filho dele, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ex-secretário de Cultura Mário Frias e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
A pauta principal do evento, pasmem, foi a “agenda trans”, com foco no combate às pessoas transgênero. O tema esteve presente em praticamente todos os discursos do evento, inclusive no de Trump.
Mas essa é apenas uma das pautas da extrema direita que passam ao largo dos problemas sociais que atingem e afligem a sociedade. Essa gente está preocupada com mudança de sexo, sexualização infantil, contra a defesa do meio ambiente, armamento da população como estratégia de defesa pessoal, escola sem partido entre outros.
Como se vê, esses temas nada tem a ver com os problemas mais urgentes a serem enfrentados pelos governos, como a fome, a falta de moradia, a violência, o tráfico de drogas, o crescimento das milícias, a falta de atendimento adequado no sistema de saúde, o combate à corrupção, a melhoria da qualidade do ensino entre tantos outros.
O discurso da extrema direita chega a ser risível, esbarra na própria prática dos seus defensores e se desmancham no ar como bolas de sabão quando confrontados com a realidade. Foi o que assistimos, por exemplo, no caso das joias presenteadas pela Arábia Saudita ao presidente Jair Bolsonaro e à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Caiu por terra o discurso massificado durante os quatro anos de governo de combate à corrupção. Outros documentos e ações revelados agora ajudam a sustentar essa tese.
A bandeira empunhada pelo bolsonarismo de pátria, família e liberdade também é uma miragem, presente apenas nos discursos, como ficou comprovado nos atos golpistas de 8 de janeiro, quando, no show de vandalismo, destruíram parte do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional.
A defesa da família entre os seguidores da extrema direita não inclui o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, presentes em todas as classes sociais, com o abusador dentro da própria casa em que vive a criança ou adolescente. Essa, sim, é uma pauta relevante de interesse de toda a sociedade.
Mas a família, para a extrema direita, é o domínio total do homem sobre a mulher e os filhos, o que favorece a violência doméstica, incluindo estupros por pais e padrastos.
No governo Bolsonaro, por exemplo, aumentaram os casos de feminicídio e a maioria dos homicídios foi com uso de arma de fogo.
O próprio Bolsonaro afirmou que foi atraído por novinhas em um abrigo de adolescentes venezuelanas, em vídeo viralizado nas redes sociais divulgado durante a campanha eleitoral de 2022.
Outra pauta é o armamento da população. Para a extrema direita a população armada resolve o problema da segurança pública. Ela sustenta que uma pessoa armada leva vantagem contra um bandido armado. Isso só é verdade se a pessoa estiver armada 24 horas, mas as leis brasileiras não permitem o porte de arma para o cidadão comum. Na prática, nem os policiais treinados estão a salvo das ações de bandidos, mesmo estando armados. O armamento como meio de defesa é outra falácia.
Quem pode ter arma legalizada é quem pode comprar e pagar pelos custos burocráticos da legalização. Nenhuma pessoa pobre tem condições financeiras de se armar pela via legal.
Por outro lado, os fatos recentes têm demonstrado que a facilitação de armas contribui para o contrabando e o armamento de organizações criminosas no Brasil. Grande parte dos defensores da sociedade armada tem interesse comercial nesse setor e fazem qualquer negócio, muitas vezes ao arrepio da lei, para ganhar dinheiro.
A extrema direita no Brasil também se mostrou nos últimos anos aliada das milícias, que avançam em praticamente todas as cidades brasileiras. Os milicianos batem no peito e se dizem “de direita”, porque defendem as mesmas pautas. E não medem esforços para eleger seus “representantes” para os parlamentos municipais, estaduais e federal.
Portanto, as pautas bolsonaristas revelam-se desnecessárias porque são excludentes, favorecem grupos de interesse e excluem o todo, desfavorecendo a conivência pacífica entre a diversidade social. O discurso e as ações são racistas, homofóbicos e machistas.