EDITORIAL
MANAUS – O mundo capitalista desabou, na opinião dos analistas do mercado financeiro, com a declaração do presidente Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (15), de que a bandeira tarifária, que define o preço da energia elétrica, precisa ser revista. Para esses analistas de mercado, todos os problemas causados pela falta de chuvas e a incompetência do setor elétrico devem recair sobre os ombros do consumidor final.
A tal bandeira tarifária, é preciso que se diga, foi criada como medida de proteção às empresas do setor de energia elétrica: geradoras e distribuidoras de energia. Com a bandeira tarifária, essas empresas podem ficar sossegadas. Mesmo que o mundo desabe sobre todos, elas não sofrerão perdas.
Esse protecionismo do setor é o que garante às empresas geradoras e distribuidoras o lucro líquido e certo no fim de cada mês, às custas de um consumidor cada vez mais espremido pela pressão inflacionária, que atinge todos os produtos e serviços no Brasil.
O consumidor brasileiro carrega o piano sozinho, sem que tenha qualquer tipo de ajuda, sem que tenha reajuste salarial. Alguns, inclusive, tiveram redução de salários para preservar o emprego e outros ficaram desempregados nos últimos meses.
As famílias brasileiras viram o poder de compra dos seus salários derreter, com uma inflação que atinge em cheio os alimentos. Desde muito antes da pandemia, muitas famílias brasileiras estavam sem condições de comprar o alimento diário necessário para uma alimentação saudável.
Com os preços disparando em 2020 e 2021, o poder de compra fui duramente afetado, levando muitos brasileiros a mudar os hábitos alimentares e a incluir no cardápio ossos e pés de galinha.
E, agora, com a crise hídrica, essas mesmas famílias veem mais uma vez a mão do poder econômico penetrar no seu bolso para bancar os custos da energia elétrica produzida pelas termelétricas.
Não é possível a uma família com ganhos abaixo de três salários-mínimos suportar esse tipo de pressão: combustíveis, energia elétrica, água tratada, gás, tudo aumenta para satisfazer os investidores, que não se conformam em reduzir seus lucros exorbitantes em um centavo.
Porque diante de uma crise como a que o mundo está passando com a pandemia de Covid-19, e o Brasil em particular, com a falta de chuvas, os prejuízos não são compartilhados por todos? Por que só aqueles que não têm como se defender são obrigados a bancar os lucros de um capitalismo desumano?
Não é razoável que em momentos de crise os mais pobres sejam empurrados para a miséria para satisfazer os desejos de uma minoria que domina o mundo pelo poder do dinheiro.
É preciso que todos os humanos comecem a ver tal situação com indignação, e a se mexer para mudar essa realidade.