EDITORIAL
MANAUS – Os políticos tratam os amazonenses e, especialmente, os manauenses como se idiotas fossem. Todos eles, em período de campanha eleitoral, abraçam o modelo Zona Franca de Manaus como bandeira política. Se tornam os melhores defensores do Polo Industrial de Manaus.
Aos políticos de fora do Estado que vêm aqui em busca de voto ou de apoio político, os representantes do Amazonas cantam aos ouvidos o que eles precisam dizer nas abordagens dos jornalistas: “Eu defendo a Zona Franca de Manaus” ou “A Zona Franca de Manaus é importante para o Amazonas, para a Amazônia e para o Brasil.”
A prática, no entanto, é bem diferente. Jair Bolsonaro foi um desses políticos que em 2018 rezou a ladainha dos defensores do modelo. Prometeu preservar a Zona Franca de Manaus e potencializá-la. Depois de vencer as eleições, fez como sempre fazem os políticos do eixo sul-sudeste, abandonou até a simpatia pelo Estado.
O ministro Paulo Guedes nunca escondeu o desejo de acabar com o modelo, que para ele é apenas um concorrente desleal ao “resto do Brasil”. Ante de assumir o posto de ministro, já dizia nas entrevistas que não haveria tratamento diferenciado para o Amazonas na reforma tributária.
Depois, pressionado pelos representantes do Amazonas, Paulo Guedes fez mea-culpa, prometeu amor e lealdade à ZFM, mas na primeira oportunidade, disse, com todas as letras, como deveriam ser tratados os negócios nessas terras: “Eu não vou mexer na Zona Franca de Manaus, tá na Constituição, tá lá. Agora, e se os impostos caíssem todos pra zero? Eu não mexi na Zona Franca de Manaus”.
A afirmação foi feita em entrevista à Globo News, em abril de 2019. De lá pra cá temos assistido a diversos ataques e pedidos de desculpas do Governo de Brasília.
Da mesma forma, temos assistido presidente da Câmara, presidente do Senado, candidatos a esses cargos, ministros membros do Judiciário, ministros de Estado, todos fazendo a falsa promessa de proteger a ZFM.
Mas no andar de baixo, os amazonenses percebem os empregos diminuindo, as fábricas fechando, as periferias das cidades cada vez mais pobres, com aumento significativo da violência e do tráfico de drogas.
E para piorar a situação, em meio à pandemia que assola o Amazonas mais do que os outros Estados, uma manobra do governo federal para minar os incentivos fiscais e espantar empresas aqui instaladas, sem que qualquer alternativa ao modelo seja proposto.
Não existe sequer respeito aos representantes do Estado e aos poderes constituídos. As decisões sempre pegam todos de surpresa, exatamente para dificultar as reações às medidas.