EDITORIAL
MANAUS – Neste sábado, 19, em que o Brasil registra 2.247 mortes e 78.869 novos casos da doença, o país atinge a marca de 500 mil mortos pela Covid-19.
O número exige uma reflexão sobre a tragédia que ele representa para um país com 210 milhões de habitantes. O Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, atrás de China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Paquistão.
Desses cinco países com mais seres humanos no Planeta, apenas os Estados Unidos estão à frente do Brasil em mortes por Covid-19. O território brasileiro é o segundo em que mais pessoas morreram pela doença desde o início da pandemia, declarada pela Organização Municipal da Saúde em março de 2020
Não é de culpados que queremos falar, mas de ações que deixaram de ser adotadas e de comportamentos que poderiam contribuir para um quadro menos trágico. Quem deixou de executar as ações ou adotou determinados comportamentos, que faça sua própria reflexão.
O Brasil foi um dos poucos países sem uma coordenação nacional de combate à Covid-19. Ficou a cargo dos Estados e municípios a adoção de medidas, algumas isoladas e pouco produtiva, exatamente porque o vírus não obedece a limites das fronteiras territoriais.
A cidade chinesa de Wuhan, onde o novo coronavírus foi detectado pela primeira vez, viveu um isolamento total, com vigilância severa sobre a entrada e saída de pessoas, testagem em massa de seus cidadãos para identificar quem estava contaminado com antecedência. A China, o país mais populoso do mundo, com 1,45 bilhão de habitantes, tem 4.636 mortes e aparece na posição 62 no ranking dos países em número de mortes.
No Brasil, nunca houve isolamento social, nunca houve controle eficiente das entradas de pessoas nas cidades que se tornaram epicentro da pandemia no Brasil, como ocorreu com Manaus em duas ocasiões: em abril e maio de 2020 e em janeiro deste ano.
Nunca houve no Brasil testagem em massa para detectar a doença e isolar as pessoas antes que elas se tornassem transmissoras em potencial. Aliás, até hoje não há teste disponível à população. Se uma pessoa se sentir febril, só consegue fazer o teste de Covid-19 se desembolsar R$ 120,00 em uma drogaria.
Outras medidas, como o fechamento do comércio e empresas de serviços, foram tomadas de forma açodada, atabalhoada, sem critérios. Por exemplo, os governos determinaram o fechamento de empresas em todos os municípios, mesmo que em alguns a doença estivesse atingindo grande parte da população e em outros não houve registro de pessoas internadas.
Ao mesmo tempo em que fizeram isso, não cuidaram para evitar o trânsito de pessoas entre os municípios com o cuidado necessário para detectar os infectados e isolá-los.
O fechamento do comércio, em muitos casos, foi desrespeitado por clientes e comerciantes, com atendimento pelas portas dos fundos ou com a adoção da porta entreaberta para a entrada dos clientes. As ruas nunca chegaram a ficar deserta, exceto nas madrugadas e em cidades com contingente populacional menor.
O uso de máscara, que comprovadamente ajuda a disseminação do vírus, foi solenemente ignorada por muitos brasileiros. Uma ação inofensiva e barata, no Brasil ganhou ares de “camisa de força” e foi desaconselhada pela autoridade máxima do país. Exigir o uso de máscara se tornou uma ação de risco para quem o fizesse, com inúmeros registros de agressões físicas.
Por fim, as aglomerações registradas desde o início da pandemia permearam todas as camadas sociais. Pessoas necessitadas em busca do auxílio-emergencial eram humilhadas em filas intermináveis em frente às agências bancárias; transporte coletivo lotado, festas clandestinas; manifestações de rua com milhares de indivíduos, campanha eleitoral de 2020… Tudo isso contribuiu para que o Brasil registrasse a triste marca de 500 mil mortes em 1 ano e 3 meses.
Não são apenas esses. Houve uma sucessão de erros no enfrentamento à pandemia no Brasil. Buscar culpados, não vai trazer de volta nenhum dos 500.868 brasileiros que perderam a vida. Mas os culpados estão aí e quase nenhum está entre os mortos.