Mais uma vez os deputados federais livram o presidente golpista Temer (PMDB) das denúncias de corrupção. Nesta quarta-feira, a maioria dos deputados (145) votou pela não continuidade das investigações abertas pelo MPF (Ministério Público Federal) por organização criminosa e obstrução da Justiça. Somente 121 deputados votaram contra Temer. Com isso não era possível mais alcançar os 342 votos mínimos necessários para aceitar as denúncias e o presidente ser julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Em agosto desse ano, Temer já havia sido salvo pelos deputados com 263 votos a favor dele e 227 deputados a favor das investigações das denúncias por corrupção passiva.
Na decisão desta semana, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral) também foram absolvidos da acusação de organização criminosa.
O custo para Temer ser beneficiado por essas votações chega a R$ 32 bilhões, por meio de medidas, de concessões e de benefícios negociados com os deputados de sua base política. Ou seja, comprou os deputados para votarem a seu favor. Gastou mais com os deputados do que o previsto para pagar o Bolsa Família para os mais pobres que está previsto no valor de R$ 26 bilhões para 2018.
O presidente Temer tem o mais baixo índice de aceitação de seu governo. Somente 3% da população acreditam no governo, 97% rejeitam e gostariam que fosse substituído. Desde o golpe que tirou a presidente Dilma do Governo Federal, o Brasil vive um grande retrocesso em termos de direitos conquistados pelo cidadão.
O congelamento dos gastos públicos por 20 anos, a terceirização total, a reforma trabalhista, a concessão do pré-sal para os estrangeiros, o fim de programas sociais (Farmácia Popular, Ciência Sem Fronteiras, Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar), a redução de orçamento para os programas Minha Casa Minha Vida, o Luz Para Todos, o Bolsa Família, o Pronatec, as Universidades e Escolas Técnicas, a liberação da Renca para exploração mineral e o favorecimento do trabalho escravo, posteriormente revogadas, mostram que o golpe atinge em cheio a população mais pobre do País.
A pergunta que muitos fazem é: onde estão os ‘camisas verdes e amarelas’, que batiam as panelas e iam às ruas se manifestar contra a corrupção e pressionaram os deputados e senadores a votarem no golpe e tirar uma presidenta eleita democraticamente e sem crime cometido? Onde estão estas pessoas agora, com tantas denúncias contra os políticos do PMDB, como Michel Temer, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Braga, Geddel Vieira, Eunício, ministros do governo; do PSDB, Aécio Neves, José Serra, Arthur Neto e Arthur Bisneto; do DEM, Pauderney Avelino, e de partidos aliados como o PSD, do Omar; do PR, do Alfredo e do PRB, do Silas Câmara?
Para muitos cientistas políticos, a decisão da Câmara dos Deputados é uma ameaça à própria Democracia, que estamos vivendo nos últimos momentos do Estado Democrático de Direito. Os esquemas, a compra de votos, a força do dinheiro para manter-se no poder.
Do Amazonas, os deputados Átila Lins (PSD), Alfredo Nascimento (PR), Silas Câmara (PRB) e Pauderney Avelino (DEM) votaram em proteger o corrupto do Temer. A deputada Conceição Sampaio (PP) votou contra Temer. E os deputados Sabino Castelo Branco (PTB), Hissa Abrahão (PDT) e Carlos Souza (PSD) estavam ausentes.
Mais uma vez, deputados do Amazonas votam em impedir as investigações de corrupção do Temer. Nesta segunda denúncia, o MPF acusa o presidente golpista e vários ministros de seu governo de integrar uma organização criminosa, um ‘Quadrilhão’, que teria recebido ao menos R$ 587 milhões em propina.
A bancada federal perdeu totalmente a credibilidade perante a população. Na votação do golpe, muitos deputados foram comprados por Eduardo Cunha, segundo a delação do doleiro Lúcio Funaro, que teria repassado mais de R$ 1 milhão para essa finalidade. E agora, nas duas votações que salvaram o Temer, novamente os deputados são comprados com vários benefícios e vantagens.
Pelos visto o golpe não era contra a corrupção, não era para moralizar a política. O povo foi enganado. Por isso, o silêncio dos que bateram panelas, dos mais ricos e de dos incautos. O golpe continua contra os mais pobres. Por isso, a votação dos deputados representa mais uma vitória da impunidade e da corrupção.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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