EDITORIAL
MANAUS – Quem achava que o avanço tecnológico, principalmente as tecnologias da informação e comunicação, facilitaria a vida dos jornalistas, enganou-se. Nunca foi tão difícil para o jornalista profissional cumprir sua missão como nos dias atuais.
O principal problema hoje é o acesso às fontes de informação, principalmente aos personagens que mais interessam ao público e a sociedade, quais sejam, as autoridades. Nunca foi tão difícil fazer uma pergunta, atividade elementar do bom jornalismo.
As autoridades passaram a se manifestar nas redes sociais e acham suficiente o que escrevem ou dizem em vídeos curtos. Raros são os que se permitem ser incomodados por um jornalista. A maioria foge de um repórter como o vampiro foge da cruz e da luz do sol.
O problema é que a nova forma de comunicação das autoridades é uma via de mão única, que não permite o confronto. O personagem diz o que quer sem ser incomodado, e nunca o que diz é o que interessa ao público, mas a ele próprio.
Geralmente é uma informação de baixa categoria na escala de importância social. E a maioria dessas informações carece da pergunta, de novas informações, de esclarecimentos, de dados adicionais e opiniões não confrontadas.
É aí que entra o trabalho do repórter. Mas é desse profissional que a autoridade tem medo. Porque não quer se submeter à revisão de suas falas, não quer esclarecer o público sobre malfeitos administrativos.
A pergunta incomoda tanto que mesmo quando os jornalistas são convidados para uma entrevista coletiva, o número de inscritos é limitado. E as assessorias se mobilizam para que os perguntadores sejam “gente da casa”, para garantir que não haverá “fogo amigo”.
Os jornalistas profissionais são malvistos nas coletivas, exatamente porque fazem perguntas que as autoridades não querem responder. Geralmente são perguntas que a sociedade gostaria de fazer e de ver respondidas.
Mas essas perguntas são contrárias aos discursos do gestor “amigo do povo”, preocupado com “os mais pobres”. Para muitos deles, a gestão, os contratos, as decisões de bastidores, mesmo que afetem em cheio a vida dos habitantes do país, do estado ou do município, devem ser mantidos em segredo.
Responder a uma pergunta sobre um tema espinhoso em meio a um evento festivo, como geralmente são os eventos em que as autoridades estão presentes, é encarado como uma ofensa pela autoridade.
Por isso, se criou uma barreira para manter os jornalistas o mais longe possível. Interessa apenas as imagens dos cinegrafistas, as fotos dos eventos, e as informações do release.
A pergunta, tão necessária para o jornalismo, precisa ser combatida, abafada. E muitas vezes quem assume esse papel de cambater os “indesejados” é um jornalista que já esteve do lado de cá, mas não se intimida, agora, de peitar colegas que querem apenas fazer o seu trabalho bem feito.
A pergunta é a síntese da liberdade de imprensa. É tão necessária para o jornalismo que sem ela não há jornalismo, mas um arremedo dele. Por isso, a pergunta não quer calar. Não pode calar.