BRASÍLIA – O presidente do Congresso e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A Cunha, pesam as acusações apenas de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ministro Teori Zavascki, do STF, autorizou nesta sexta-feira, 6, a abertura de três inquéritos contra Renan. A partir das petições 5254 e 5274, Renan Calheiros será investigado, juntamente com o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em dois inquéritos separados.
O primeiro inquérito é baseado na delação premiada do ex-diretor da Área de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que chegou a afirmar que um “percentual” dos valores dos contratos da Transpetro “são canalizados” para Renan, com quem o ex-presidente da subsidiária da estatal Sérgio Machado se reunia periodicamente em Brasília.
No segundo inquérito, que também cita o depoimento de Costa, o doleiro Alberto Yousseff, também em delação premiada, conta ter sabido de uma negociação com uma construtora envolvida na Operação Lava Jato em que Aníbal Gomes, espécie de despachante de Renan, iria receber “pagamento da comissão”.
O terceiro inquérito contra o presidente do Senado, a partir da Petição 5260, relaciona Renan ao cometimento dos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Entre todos os inquéritos abertos pelo Supremo, este terá o maior número de autoridades envolvidas, cerca de 35.
O presidente do Congresso afirmou. na noite desta sexta-feira, 6, que “dará todas as explicações à luz do dia” e voltou a criticar o que chamou de “atropelos” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pelos pedidos de investigação contra parlamentares. “Darei todas as explicações à luz do dia e prestarei as informações que a Justiça desejar. Minhas relações junto ao poder público nunca ultrapassaram os limites institucionais”, disse Renan por meio de nota.
Ele apontou “grave e deliberada omissão” do procurador-geral da República por não ter permitido ao parlamentar “contestar as inverdades levantadas contra a sua pessoa”. O peemedebista informou que a advocacia do Senado pediu pela manhã ao relator da Operação Lava Jato no STF, Teori Zavascki, o acesso em caráter “urgentíssimo” ao processo.
Eduardo Cunha
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha aparece nas delações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. No depoimento do ex-diretor da Petrobras, Cunha aparece como beneficiário de Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador do PMDB. O presidente da Câmara recebeu dinheiro de um aluguel de navio-plataforma.
As investigações até o momento não contabilizam todo o dinheiro recebido pelo parlamentar; contudo, fala-se em vultosas quantidades de dinheiro. São usadas como indicativos as doações oficiais recebidas por Cunha “de várias empresas que já se demonstrou estarem diretamente envolvidas na corrupção de parlamentares”, escreveu o procurador no pedido de abertura de inquérito. É apontada uma doação direta da Camargo Corrêa em setembro de 2010, no valor de R$ 500 mil a Cunha. Além disso, é citado um repasse do Comitê Financeiro do PP diretamente ao deputado no valor de R$ 100 mil em setembro de 2010.
“Embora não tenha como precisar neste momento se os valores mencionados nos termos em questão foram entregues diretamente ao Deputado Federal Eduardo Cunha, fato é que o colaborador Alberto Youssef reiterou, e com razoável detalhamento, que Eduardo Cunha era beneficiário dos recursos e que participou de procedimentos como forma de pressionar o restabelecimento do repasse dos valores que havia sido suspenso, em determinado momento, por Júlio Camargo”, diz o pedido de abertura de inquérito enviado pela procuradoria-geral da República (PGR) ao ministro Teori Zavascki.
O presidente da Câmara afirmou que está tranquilo após a divulgação da lista de políticos pelo STF. “Estou muito tranquilo porque quem não deve não teme, e ninguém está imune a investigação. Eu não estou imune, ninguém está, nem o presidente do Senado (Renan Calheiros), nem a presidente da República (Dilma Rousseff)”, disse.
Em entrevista concedida na saída da TV Bandeirantes, onde gravou o programa Canal Livre, que será exibido neste domingo, 8 Cunha disse que é necessário aguardar os fatos se esclarecerem porque esta “é uma corrida de longo prazo”. “Não está havendo nenhuma denúncia, mas apenas um pedido de investigação”, disse. “E não tenho nenhuma dificuldade de enfrentar qualquer tipo de investigação, porque não devo e, quem não deve, não teme”, reiterou.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)