Por Carolina Linhares e Daniel Carvalho/ da Folhapress
BELO HORIZONTE, MG, E BRASÍLIA, DF – A eleição para governador de Minas Gerais sofreu uma reviravolta e Romeu Zema (Novo), 53, que aparecia em terceiro lugar nas pesquisas, chegou à frente no primeiro turno. Segundo projeção do Datafolha, o segundo turno será entre Zema e o ex-governador e senador Antonio Anastasia (PSDB), 57, que liderava as pesquisas.
Este resultado tirou da disputa o atual governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), 67.
A perda do segundo colégio eleitoral do país é um revés para o PT, que contava com o governador no segundo turno para dar palanque a Fernando Haddad (PT).
Zema arrancou na última semana da eleição, batendo Pimentel e Anastasia. Petista e tucano eram os favoritos para o segundo turno, de acordo com as pesquisas de intenção de voto.
O novo cenário também vai exigir nova estratégia dos tucanos, que, no início da semana, acreditavam ser possível liquidar a eleição no primeiro turno e, no pior dos cenários, enfrentar o PT.
Integrantes da campanha de Anastasia disseram, reservadamente, que esperavam um crescimento de Zema, mas que ninguém imaginava que seria da maneira como ocorreu. Agora, a cúpula do PSDB-MG vai se reunir para decidir como tratar o novo adversário.
Nos últimos dias de setembro, o empresário de Araxá (MG) tinha 9% das intenções de voto, segundo o Datafolha. A subida do empresário de Araxá (MG), no Triângulo Mineiro, foi a reboque de Jair Bolsonaro (PSL). Ao participar do debate da Rede Globo, na terça, 2, Zema pediu votos ao final tanto para o presidenciável de seu partido, João Amoêdo (Novo), como para o capitão reformado.
“Aqueles que quiserem mudança podem votar em candidatos diferentes, ou João Amoêdo ou Jair Bolsonaro”, disse.
Zema foi duramente repreendido pelo seu partido, que viu uma atitude de infidelidade partidária. Ele tentou se explicar, afirmando que, na verdade, pediu que eleitores de Bolsonaro votassem nele –o presidenciável do PSL não declarou apoio a nenhum candidato em Minas. “Já era 1h da manhã, tinha trabalhado o dia todo e a frase não saiu com muita clareza”, disse.
Zema também declarou apoio a Dinis Pinheiro (SD), candidato ao Senado na chapa de Anastasia, mas que, em vez de apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), gravou vídeos de apoio com Bolsonaro. Na reta final, Zema também apelou ao antipetismo: “vamos tirar o PT do segundo turno”, pregavam suas redes sociais.
Desconhecido antes das eleições, Zema e sua família possuem uma rede de 430 lojas em 170 cidades. O carro-chefe é o varejo de móveis e eletrodomésticos, mas os negócios se estendem até à distribuição de combustíveis. Para ele, a rede de 5.000 funcionários diretos ajudou a impulsioná-lo.
“Desde janeiro estou percorrendo todo o estado de Minas. Tenho funcionários e ex-funcionários espalhados em todo o estado que gostam muito de mim. Apesar de ficar muito claro que eu não utilizei a empresa hora alguma, acaba de certa forma contribuindo. Quem é varejista está sempre em contato com o público”, afirmou.
Zema declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 70 milhões. Arrecadou quase R$ 700 mil para sua campanha —ele contribuiu com R$ 35 mil. Outros empresários doaram quantias, mas a metade do recurso veio do Partido Novo, que não usa verba pública e se financia por meio de 25 mil filiados contribuintes no país.
No segundo turno, em vez de seis segundos de TV e participação somente em um debate, Zema competirá em pé de igualdade com Anastasia. O tucano, por sua vez, também tem aliados buscando carona em Bolsonaro. A aliança com o capitão pode ser um diferencial para ambos. No debate da TV Globo, Anastasia mirou em Zema, acusando-o de não ter experiência em administração pública e apontando que algumas de suas propostas contrariam a lei.
O tucano moldou sua campanha na propaganda de bom gestor e se descolando do padrinho e candidato ao senado Aécio Neves (PSDB), envolto em escândalo de corrupção. Já Zema criticou os “mesmos políticos de sempre”. Lançou mão de propostas de apelo popular, como redução de impostos e corte de privilégios. “O estado se tornou um carrapato maior do que a vaca”, disse. Se eleito, promete receber salário por último e não morar no Palácio dos Mangabeiras.
Anastasia tentou apelar ao voto útil antipetista para liquidar no primeiro turno, e acabou em segundo lugar. O tucano resistiu a concorrer em Minas, mas o PSDB precisava de palanque para Geraldo Alckmin (PSDB), que fracassou. O principal golpe, porém, foi em Pimentel, que chegou a dizer que enfrentaria Zema ou Anastasia no segundo turno.
O petista fez uma campanha nacionalizada, acusando tucanos e Michel Temer (MDB) pelo impeachment e pela piora na economia.
Além do antipetismo, pesou contra ele a grave crise fiscal do estado, que prevê déficit de R$ 11,3 bilhões para 2019. Parcelando salários e retendo repasses aos municípios, perdeu importantes aliados: o funcionalismo e os prefeitos num estado com 853 cidades.