Por Isabela Palhares, da Folhapress
SÃO PAULO – As aulas de 669 escolas públicas do país foram interrompidas por episódios de violência em 2021. Tiroteio no entorno, roubo, vandalismo, ameaça e ataque estão entre os motivos pelos quais as unidades tiveram de parar as atividades letivas.
Os dados são do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na manhã desta quinta-feira (20) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As informações foram obtidas de um questionário respondido por diretores de escolas para a Prova Brasil 2021, avaliação feita pelo Ministério da Educação.
O número de escolas com aulas interrompidas em decorrência de violência representa 0,9% do total. Os pesquisadores avaliam que, mesmo se tratando de uma pequena proporção, o dado traz alerta importante sobre a gravidade da violência no país.
“É muito alarmante que 669 escolas tiveram de parar suas atividades, isso significa que milhares de estudantes não puderam estudar por risco de serem vítimas de violência. É uma violação muito grave dos direitos dessas crianças e adolescentes”, diz Cauê Martins, consultor do Fórum.
Ele destaca ainda a tendência do número de escolas com aulas interrompidas ter aumentado em 2022 e 2023 por conta da onda de ataques e ameaças registrada nesses dois anos.
Em 2021, foram dois atentados contra escolas. Em 2022, foram seis. E, apenas no primeiro quadrimestre deste ano, houve seis registros.
“O dado de 2021 ainda não reflete essa violência que atingiu de forma inédita as escolas nos últimos meses. A gente viu uma onda de ameaças, que atrapalharam o funcionamento desses estabelecimentos em todo o país. É muito provável que o número de escolas com aulas interrompidas seja muito maior em 2022”, diz Martins.
Os dados apontam que a interrupção das aulas é consequência da violência urbana invadindo o espaço escolar. Mais de 40% das escolas afetadas estão no Rio de Janeiro -o estado registrou 269 paralisações de atividades.
O Rio de Janeiro também é o estado brasileiro em que as escolas foram mais afetadas por tiroteios ou bala perdida. Das 1.295 unidades que relataram episódios desse tipo, 586 são da rede pública fluminense -mais de 45% do total.
“A escola, no Rio de Janeiro, é uma instituição quase oito vezes mais perigosa de se frequentar e se vítima do fogo cruzado entre polícia e criminosos do que nos demais estados do Brasil”, destaca o relatório do Fórum.
A pesquisa ainda aponta que 7.156 escolas foram invadidas, 11.991 tiveram registro de roubos ou furtos e 14.544 foram alvo de vandalismo.
Os dados também mostram as várias situações de violência praticadas dentro da escola. “São situações em percentuais que não coadunam com a ideia da escola como espaço seguro e ambiente de proteção. Engana-se quem pensa que a violência é um problema circunscrito”, diz o relatório.
Mais de um terço das escolas públicas (37,6%) relatam lidar com situações de bullying, 15% com casos de discriminação e 2,3% com assédio sexual.
Algumas unidades da federação, como Distrito Federal e Santa Catarina, apresentam índices equivalentes a mais do que o dobro da média nacional. Elas tiveram registros de assédio sexual em 5,2% e 4,1% das escolas, respectivamente.
Ainda, em 2,5% das escolas houve registro de pessoas portando armas (de fogo ou facas) e 5,6% registraram a presença de pessoas sob efeito de drogas.
“A violência está dentro da escola e ela atrapalha seu funcionamento. O desafio é imenso, mas os dados dão indicações de quais são as demandas prioritárias para cada região”, avalia Martins.