Valter Calheiros, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – No beiradão da cidade de Manaus, a vazante dos rios Negro e Solimões está assustando até o mais experimentado caboclo da Amazônia. Canoeiros, peixeiros, práticos de barcos, agricultores, estão espantados com a seca de 0,40 centímetros em apenas um dia, como ocorrido no domingo 11 de outubro.É um fenômeno nunca antes registrado em nossa história.
O nível da vazante deste ano alcançou no dia 16 de outubro 18,21 centímetros, se aproximando do nível que o rio alcançou em 24 de outubro de 2010 que foi de 13,63. A diferença está encurtando a cada dia e as populações que habitam as margens dos rios e igarapés revivem os mesmos sofrimentos.
Para ver de perto e registrar as possíveis conseqüências deste fato, no sábado 17 de outubro, acompanhado do fotografo e amigo Francisco Tote, embarcamos na canoa do senhor Gonzaga, saindo do porto de catraias e barcos regionais no lago da Colônia Antonio Aleixo, fomos rumo ao Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões e de seu entorno.
A viagem é um momento para apreciar a beleza, observação e estudo, registros fotográficos e lazer. Tudo isso faz parte da vida de um grupo de amigos que há vários anos acompanham as cheias e vazantes dos rios e se dedicam à incansável luta em defesa e preservação do meio ambiente, especialmente das águas que banham desde o Marapatá, Mauazinho, Ilha do Xiborena, Catalão, Lago do Aleixo, Colônia Antonio Aleixo, Igarapé da Lenha, Igarapé da Castanheira, Puraquequara, Terra Nova, Careiro Castanho, Lago dos Reis, Jatuarana, e tantas outras paragens localizadas no entorno do
magnífico Encontro das Águas.
O que vimos e registramos é uma vazante assustadora, mesmo ainda distante da seca de 2010, é imprevisível algum palpite. Na margem do lago do Aleixo estão surgindo bancos de areia, longas praias e a parte mais profunda do lago está com menos de 0,60 centímetros, mas em grande parte prevalece apenas uma pequena lâmina de água com 0,10 a 0,20 centímetros de profundidade. Somente pequenas canoas transitam no canal central do lago. Os barcos maiores já estão encalhados no porto da Colônia.
No amanhecer a fumaça escondia o horizonte do lago e ao meio dia a temperatura da água estava escaldante. O pouco vento que vinha da floresta e
do rio parecia ter saído de um vapor de uma panela a beira do fogão. Cientificamente a vazante poderá ser explicada algum dia. No entanto, hoje usamos a comparação do nível do rio no mês de outubro de 2010, quando ocorreu a maior seca que temos conhecimento, com a vazante de outubro de 2015.
No período de 01 a 16 de outubro de 2015, o rio secou 5,30 centímetros, com média de 0,33 centímetros por dia. Neste mesmo período em 2010, o rio desceu somente 1,88 centímetros, com média de 0,11 centímetros por dia! Desta feita, caso o ritmo de descida do rio continue com essa média e se a vazante não chegar logo ao fim, à população do beiradão irá sofrer muito, pois já está faltando água potável para o ribeirinho se alimentar.
Neste mesmo período, podemos ter como exemplo e comparação os dias 01 e 11 de outubro de 2010 e 2015. Vejamos: em 01 de outubro de 2010 o rio secou 0,9 centímetros e na mesma data de 2015 secou 0,18 centímetros (o dobro); em 11 de outubro de 2010 o rio secou 0,8 centímetros e na mesma data de 2015 secou 0,40 centímetros (4 vezes mais). Apesar da vazante, da alta temperatura e da fumaça, encontramos muitas famílias pescando pacu, sardinha e outras espécies de peixe.
Os números apresentados não alcançam uma análise mais aprofundada do tema, mas tem o objetivo de despertar a pesquisa dos dados já registrados desde o ano de 1902 no Porto de Manaus. No entanto, com os registros fotográficos podemos ampliar nossas possibilidades de viver em harmonia nas diversas fases vividas no ambiente Amazônico.
Diante do espanto com a vazante deste ano, fica o alerta da necessidade de um maior empenho de nossas Universidades, Institutos e Agências de Desenvolvimento na promoção de pesquisas voltadas para a Hidrologia, Meteorologia, Climatologia, Geologia, Biologia e outras ciências, e assim viabilizar estudos referentes aos fenômenos climáticos que influenciam as cheias e vazantes dos rios da Amazônia. Importante se faz buscar meios para que as novas tecnologias possam caminhar juntas com o conhecimento tradicional do caboclo e do índio da Amazônia.