EDITORIAL
MANAUS – Como mostra reportagem de Felipe Campinas, publicada neste sábado, no ATUAL, o Plano Nacional de Imunização, preparado pelo Ministério da Saúde, não inclui pessoas sadias com 59 anos de idade ou menos.
Essas pessoas em Manaus, criaram uma expectativa de receber a vacina contra a Covid-19 desde fevereiro, quando o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um plano para acelerar a imunização no Amazonas, a começar pela Região Metropolitana de Manaus. Disse o ministro, com todas as letras, que a vacinação para quem tinha 50 anos ou mais começaria ainda naquele mês de fevereiro.
Essa expectativa foi frustrada, o ministro perdeu o cargo, mas as pessoas na faixa de 50 a 59 anos tiveram um novo alento ao perceber que a vacinação para os idosos (de 60 anos ou mais) estava sendo concluída.
Nova frustração, porque a Prefeitura de Manaus passou a imunizar apenas as pessoas com comorbidades nessa faixa de idade, como está no Plano Nacional de Vacinação. Depois desse grupo, entraram na fila pessoas de 18 a 49 anos com qualquer comorbidade.
Agora, a Prefeitura de Manaus se prepara para vacinar outros grupos prioritários (são mais de 20), que inclui presos, trabalhadores da segurança pública, professores, pessoal do transporte de passageiros de um modo geral, caminhoneiros, trabalhadores da indústria…
O plano não cita mais o critério de idade. Portanto quem tem 59 anos ou menos e que não tem comorbidade e não se inclui nos grupos definidos pelo Ministério da Saúde, não tem qualquer perspectiva de receber o imunizante contra o vírus mortal.
Donas de casa, trabalhadores do comércio, comerciantes, trabalhadores autônomos e tantas outras categorias não listadas no Plano Nacional de Imunização terão que esperar até que todos esses grupos recebam a vacina.
Por que uma dona de casa que vai reiteradamente ao supermercado ou à feira, ou um trabalhador que usa o transporte coletivo para se locomover diariamente e enfrenta a superlotação (aglomeração das mais vergonhosas) tem menos direito a receber a vacina do que uma pessoa que está no presídio, onde, em tese, não tem contato com o mundo exterior?
Por que um policial militar ou um soldado do Exército, Marinha ou Aeronáutica, que prestam serviço burocrático em quartéis com restrição de acesso de pessoas precisam ser imunizados primeiro do que os trabalhadores do comércio, como caixas de supermercados, que lidam diariamente com grande público?
O Ministério da Saúde informou à reportagem do ATUAL que as prefeituras e governos não são obrigados a seguir Plano Nacional de Imunização e que ele deve servir apenas como parâmetro. No entanto, a Justiça Federal, pelo menos no Amazonas, tem sido implacável na fiscalização do tal plano.
Se é flexível, essa informação deveria constar no Plano Nacional de Imunização. Não há. Portanto, o plano tem um erro grosseiro que precisa ser corrigido pelas autoridades.
Neste sentido, é dever de Estados e Municípios reivindicar mudanças que permitam a inclusão de pessoas sadias na fila de vacinação, porque o vírus não mata apenas os que têm comorbidades.
Como já registrou em editorial anterior, o ATUAL mantém a posição de que a estratégia mais justa de vacinação da população, depois de vacinados idosos e pessoas com doenças pré-existentes, é o critério de idade para todas as pessoas, sem grupos privilegiados por profissão ou condição, como a privação de liberdade.