Por Eduardo Sodré, da Folhapress
SÃO PAULO – A tendência do último trimestre do ano passado deve ser mantida: a venda de carros seguirá em alta em 2021, superando mês a mês os resultados de 2020.
Segundo pesquisa promovida pelo portal Webmotors (banco Santander) em parceria com a Anfavea (associação das montadoras), 96% dos 2.103 entrevistados têm a intenção de adquirir um veículo em 2021, seja novo ou usado.
O índice alto já era esperado: o público-alvo da pesquisa é formado por visitantes do portal, dedicado a compra e venda de automóveis. Mas o que importa para lojistas e fabricantes é o aumento do interesse em fechar negócio.
O mesmo levantamento foi feito no fim de 2019. Na época, 88% dos ouvidos disseram que fechariam negócio em 2020. Com a pandemia, os planos foram adiados ou cancelados por grande parte do público, o que se reflete na queda de quase 30% nos emplacamentos ao longo do ano passado.
Na retomada, o interesse pelos usados é maior. De acordo com a pesquisa do Webmotors, 81% dos entrevistados que pretendem trocar de carro estão interessados em modelos de segundo mão.
Com os seguidos aumentos dos preços de modelos zero-quilômetro e a falta de algumas versões no mercado – principalmente opções mais em conta –, consumidores que sempre optaram por veículos novos têm buscado carros produzidos nos últimos três ou quatro anos. No jargão do mercado, são os chamados “seminovos” – que também estão mais caros.
Segundo a KBB Brasil, empresa especializada na precificação de carros, modelos de segunda mão com até três anos de uso tiveram uma valorização média de 0,98%. O campeão é o Toyota RAV4 2020, que registrou uma elevação de 12,47% em seu valor no mercado de usados.
Mas não é a procura ou a boa reputação que faz o utilitário japonês ser tão valorizado. O principal motivo é a disparada dos preços da opção zero-quilômetro: importados como o utilitário japonês são mais impactados, devido à desvalorização do real perante o dólar.
No fim de 2019, a linha 2020 do RAV4 era vendida por a partir de R$ 187 mil. Hoje, a versão mais em conta do Toyota custa R$ 242 mil no mercado de veículos zero-quilômetro, um reajuste de 29,4%.
Ao optar por gastar menos e adquirir um carro seminovo, os consumidores que não têm experiência nesse tipo de negócio precisam observar se o plano de revisões está em dia e se há alguma manutenção que precise ser feita imediatamente.
Bruno Tinoco, administrador da oficina Motorfast, diz que tem crescido a procura por avaliações antes da compra, quando o mecânico é acionado para fazer uma inspeção no carro e ajudar o cliente a fechar, ou não, o negócio.
O especialista afirma que retoques mal feitos na pintura e bolhas nos pneus são facilmente detectados. Problemas no acabamento (peças plásticas soltas e arranhões profundos em pontos de contato, por exemplo) indicam desleixo do antigo proprietário e devem gerar desconto no preço.
Uso de combustível de baixa qualidade também causa problemas cujos sinais são perceptíveis em carros modernos. Alguns modelos são escandalosos: emitem avisos sonoros seguidos de luzes no painel para alertar que há algo errado no sistema de injeção.
Tinoco recomenda que seja feito um laudo cautelar mais amplo, serviço oferecido por empresas certificadas pelo Inmetro. Uma vistoria completa vai verificar se há pontos de soldas diferentes dos originais de fábrica, o que pode indicar que o carro sofreu um acidente grave. Em casos assim, é comum que equipamentos de segurança percam eficiência caso a manutenção não tenha sido feita corretamente.
O estado das ruas também castiga modelos que são relativamente novos. Além de danificar os pneus, uma pancada violenta em um buraco gera danos à suspensão e, em alguns casos, ao sistema de direção. É importante dirigir o carro antes de fechar negócio, para observar a presença de vibrações ou de ruídos.
Com a extensão dos períodos de garantia de fábrica – algumas marcas oferecem até cinco anos –, o comprador deve checar se todas as revisões programadas foram realizadas. Caso a manutenção obrigatória não esteja em dia, a cobertura da montadora será comprometida, o que não significa que o consumidor esteja totalmente descoberto.
“Primeiramente, quando se fala em garantia, temos a contratual, decorrente do contrato firmado entre fornecedor e consumidor. Mas existe também a legal, expressa no CDC [Código de Defesa do Consumidor], que muitas vezes é ignorada pelo comprador do veículo”, diz Carolina Silva Jardim, advogada de direito do consumidor. “Portanto, ainda que o prazo tenha expirado, o CDC estabelece a garantia pelos vícios aparentes, ou seja, defeitos de fácil visualização após 90 dias da compra do veículo”.
A advogada explica que há ainda a cobertura pelos vícios ocultos, aqueles problemas que só podem ser constatados após análise de um técnico. “Não é aquele problema causado pelo desgaste natural do veículo, mas, sim, um defeito, que muitas vezes vem de fábrica ou que não deveria ocorrer com pouco tempo de utilização do automóvel”, diz.
Constatado esse vício oculto, o consumidor tem até 90 dias a partir da descoberta da falha para reclamar com o vendedor, que terá até 30 dias para apresentar uma solução. Se o prazo não for cumprido, o comprador pode pedir a troca do veículo por outro do mesmo padrão, o cancelamento da compra ou o abatimento proporcional do preço.
Os cuidados na compra incluem a consulta de recalls pendentes. O consumidor que opta por um modelo usado precisa checar no site da montadora ou por meio de teleatendimento se convocação de fábrica que não foi atendida pelo antigo proprietário.
O serviço é gratuito e não tem prazo de expiração. O agendamento pode ser feito na concessionária mais acessível para o dono do veículo.