É urgente a necessidade de construir uma indústria do turismo no Amazonas. Há um desperdício enorme de potencial ao longo da história. Recursos não faltam. Existe o FTI – Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Estado do Amazonas, que poderia e deveria ser adotado para suportar o turismo. Se ele for direcionado para ações em uma cidade apenas e se for verificada a sua eficácia, ele poderá, em um segundo momento, ser direcionado para outro município e assim por diante. De outras formas, o recurso será pulverizado num conjunto de ações sem magnitude e sem resultado, como parece ser a nossa triste tradição. Talvez por isso ainda não tenhamos, ao menos, um turismo que atenda ao interesse dos moradores de Manaus, salvo a linda exceção de Parintins durante esta semana.
Desenvolver o turismo em nossa região para o potencial que existe será uma caminhada lenta, com ganhos minúsculos. Será como em um garimpo, com pequenas fagulhas de ouro, podendo vez por outra chegar a uma pepita. O cotidiano será recheado de pequenos ganhos marginais: passagens aéreas, táxis, aplicativos de informações, pousadas, hotéis, restaurantes. É uma lista enorme. Será uma busca centavo a centavo, misturada com os próprios moradores.
Não há uma grande âncora que atrairá de uma hora para outra bilhões de receitas. Será uma receita pequena, a ser construída com pensamento grande em relação às possibilidades. Há potencial para diversas fontes de turistas, como eventos, férias, negócios, famílias amazonenses descobrindo seu grandioso Estado. Há de tudo e para todos. Este olhar ampliado sobre negócios pequenos será fundamental para termos uma indústria de turismo em algum dia futuro.
Para comparar com uma cidade portuguesa, Porto, ela recebeu 12 milhões de passageiros em 2018. Portugal inteira possui menos de 10 milhões de habitantes e isso dá a dimensão do turismo naquela cidade. Em 2017, foram mais de 1,4 milhões de estrangeiros, segundo dados de março deste ano, da FDi Magazine. Imaginar que aqui possui potencial semelhante é um sonho interessante para ser transformado em plano. Para tal, são necessárias ações que permitam a cidade ser atrativa inicialmente para os próprios moradores. Hoje temos dificuldade de imaginar quais são as atrações de Manaus para os moradores de Manaus, para passeios repetitivos e que consigam absorver multidões de maneira sustentável.
Construir o turismo interno será um primeiro passo. Atrair moradores de Manaus para turismo de fim de semana no interior será outro passo relevante, com o ritmo da pressa do mundo contemporâneo, desenvolvendo o apreço local e regional para fins de semana, começaremos a ficar aptos para receber pessoas de outras partes do país e do mundo. Enquanto nós não nos interessarmos para olhar e reconhecer o mapa do Amazonas e nossas atrações, será impossível considerar a hipótese de atração de viagens de outras localidades para turismo por aqui.
Há muito a ser feito e qualquer caminho levará a um terreno fértil. Entretanto, serão vitórias bem diferentes daquelas enormes multinacionais com milhões em impostos para o polo industrial. O que precisamos é fomentar atividades empreendedoras e sistêmicas, com bons serviços e atrativos que nos coloquem no mapa do interesse local. Depois, poderemos começar a trilhar os caminhos do turismo global. A floresta já temos, mas falta todo o resto.
No FTI estão centenas de milhões de reais que precisam encontrar o fim para o qual a contribuição foi concebida, se não nunca teremos turismo compatível com o nosso potencial e ficaremos eternamente deitados em berço esplêndido, em meio a uma floresta, fauna, flora e cultura compatíveis com todos os possíveis apelos ao turismo. Mais um grande desperdício que precisa ser superado, pela alocação diligente e competente de recursos, concentrados em poucos projetos, para ter maior chance de sucesso. Alguma técnica de estratégia de desenvolvimento econômico precisa ser realizada. Ainda estamos em um novo governo, que deve começar a realizar esta ação. Fica feito o convite.
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Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.