Em 5 de setembro de 1850 o Amazonas mudava de patamar. Chegou novamente a hora de mudar de patamar. É necessário fazer um acordo amplo para que o Amazonas e a região Amazônica brasileira saiam da condição periférica e assumam de vez a posição compatível com as aspirações internacionais: um novo centro de desenvolvimento de tecnologias para o mundo. Para fazer isso, será necessária uma real prioridade para a região, além dos discursos imperialistas e descaso seculares. É necessário um novo Tratado. Uma nova combinação da nossa região com o restante do mundo. Precisamos deixar de ser passivos para mudar de patamar.
O momento é muito oportuno. Parece que agora há muitos olhando para nós e poderemos assumir este papel, caso tenhamos coragem. Como liderar isso? A partir da condição que o Amazonas possui, por ter a floresta preservada, por já ter uma alternativa econômica mínima para além da floresta. Temos total condições de propor este caminho.
O primeiro elemento deste tratado será ambiental: como garantir a preservação da floresta com atividades econômicas a partir dela? Quais os caminhos a serem seguidos para assegurar a manutenção e uso real e responsável deste meio ambiente? Como construir uma nova ordem de custos pela manutenção da floresta tal qual ela é? Quem e como se pagará por isso?
O segundo elemento deste tratado será o científico-tecnológico: como fazer ciência na região a partir da floresta? Fazer ciência com a região não é algo ainda resolvido, mas precisa e pode ser resolvido. Em todos os quadrantes: pela mera descoberta, pela compreensão da natureza e para os produtos, quer tenham aplicações práticas ou não. A lógica da ciência na região precisa mudar para além da realização de pequenos ou grandes egos isolados.
O terceiro elemento deste tratado será o do capital – como atrair recursos substanciais para a região? Como transformar a região em um centro de atração de investimentos para gerar lucros a partir da biodiversidade? Como alocar cadeias produtivas na região? A natureza sem produção é desperdício.
O quarto elemento desse tratado será o da infraestrutura – como dotar a região de infraestrutura para permitir as atividades humanas em meio a esta natureza exuberante? Sem infraestrutura de transporte e fácil acesso às regiões mais isoladas, será impossível fazer atividades rentáveis por aqui.
Este conjunto de ações é que viabilizará a mudança de percepção do mundo em relação ao que temos por aqui. Começar a cuidar com a importância associada ao que se pode fazer com a floresta, usando-a com inteligência.
Um novo trato, onde não tenhamos que mais contribuir com impostos do que receber, que é o que acontece hoje, onde o Amazonas paga mais, mesmo com sua pouca infraestrutura e baixo IDH. É necessário reconhecer e assumir a desigualdade do país, onde a Av. Paulista é diferente da Av. Djalma Batista e, portanto, as necessidades de gestão são distintas. Já chega de sermos região periférica e devemos, por todos os atributos do estado e da região, assumir um protagonismo irmão com o restante do país. Uma integração onde possa existir nova fronteira de desenvolvimento para encerrar esta crise na qual nosso país foi metido.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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