EDITORIAL
MANAUS – O dinheiro público destinado ao Amazonas Futebol Clube, criado há quatro anos, virou notícia no último fim de semana no AMAZONAS ATUAL. A reportagem de autoria do repórter Diogo Rocha narra pura e simplesmente os fatos: quanto cada deputado destina ao clube em forma de emenda parlamentar, dados que estão disponíveis no Portal da Transparência do Governo do Amazonas.
O repórter procurou o presidente do clube e os deputados para que esclarecessem questões que o ATUAL considera relevantes, como a destinação do dinheiro público. Todos os parlamentares se recusaram a responder. O presidente do Amazonas FC, Francisco Weslley Couto dos Santos, recusou-se a conceder entrevista, mas aceitou responder perguntas enviadas por escrito, com um assessor de comunicação fazendo a ponte entre o chefe e o repórter.
Publicada a matéria, o presidente do Amazonas FC, Wesley Couto, arvorou-se a ligar para o repórter e ameaçá-lo com processo judicial. Chegou a dizer que o clube dispõe de seis advogados e que processará Diogo Rocha caso o Amazonas FC perca um de seus patrocinadores privados.
A reportagem não inventa nada; apenas narra os fatos. Não distorce uma palavra da resposta de Wesley Couto. Não tece nenhuma crítica; apresenta apenas “coincidências” observadas pelo repórter. Nada que pudesse gerar medo ao presidente do clube.
Chama a atenção o fato de a reportagem gerar indignação ao presidente e deixá-lo extremamente incomodado a ponto de ligar para o repórter com quem não quis falar antes da publicação e ameaçá-lo de processo.
Nesta segunda-feira, os repórteres Teófilo Benarrós de Mesquita e Diogo Rocha concluíram um levantamento que estavam fazendo sobre as emendas parlamentares no Orçamento de 2023 do Estado do Amazonas, aprovado em dezembro de 2022 pela Assembleia Legislativa.
E qual a surpresa? Não houve qualquer emenda apresentada – isso mesmo: sequer foi apresentada emenda destinada ao clube. Se não foi apresentada, a Assembleia não aprovou qualquer emenda. Se não aprovou, o dinheiro não poderia estar sendo destinado ao Amazonas FC.
O Amazonas FC tem todo o direito de pleitear dinheiro para o clube, seja em forma de patrocínio público ou privado, seja por emenda parlamentar ou qualquer outro meio. E não há qualquer demérito em receber recursos públicos. Mas o dinheiro público precisa ser tratado com a transparência que a legislação exige.
Essa transparência precisa partir, primeiro, dos parlamentares autores das emendas. Por que se recusam a esclarecer os fatos? É preciso passar a limpo porque as emendas destinando dinheiro ao Amazonas FC apareceram agora se não foram aprovadas pela Assembleia Legislativa, no Orçamento de 2023.
Para os que não conhecem o funcionamento da engrenagem estatal, o governo não pode mudar a lei aprovada pela Assembleia para acrescentar um texto. No máximo, pode vetar parte ou o projeto de lei inteiro.
A resposta, portanto, para o que aconteceu entre a aprovação do orçamento e a liberação de recursos para o clube amazonense carece de explicações. A deputada Joana Darc (União Brasil) e os deputados Doutor Gomes (PSC) e Saullo Vianna (União Brasil) e o ex-deputado Tony Medeiros, precisam prestar esclarecimentos à sociedade.
As ameaças do presidente do Amazonas FC não intimidam a equipe de jornalismo do AMAZONAS ATUAL, que faz jornalismo profissional, sempre atento às leis vigentes e à Constituição Federal.