
Por Gabriel de Sousa e André Shalders, do Estadão Conteúdo
MANAUS – O TJAM (Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas) mandou prender, na noite desta quarta-feira (29), Luciane Barbosa Farias, a “dama do tráfico amazonense” que se reuniu em 2023, por duas vezes, com secretários e assessores do Ministério da Justiça (MJ).
Além dela, o TJAM ordenou a prisão de Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, liderança da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e considerado o “criminoso número 1” na lista de procurados pela polícia do Estado.
Procurada, a defesa dos dois acusado ainda não havia se manifestado até a publicação deste texto. O espaço está aberto. A informação foi divulgada inicialmente pelo portal Metrópoles e foi confirmada pelo Estadão.
Luciane e Clemilson, que são casados há 13 anos, foram condenados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Ela foi sentenciada a 10 anos de prisão, enquanto ele teve a pena de 31 anos e sete meses de reclusão. Nesta quarta, o TJ-AM determinou que os dois devem cumprir, imediatamente, as prisões em regime fechado.
O caso das visitas a prédios do governo federal foi revelado pelo Estadão. Uma série de reportagens mostraram que ela esteve em Brasília pelo menos três vezes: em março, em maio e em novembro de 2023. Na primeira visita, foi ao Congresso e, no Ministério da Justiça, encontrou-se com o Secretário de Assuntos Legislativos da Pasta, Elias Vaz. Em maio, esteve com o titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) do MJ, Rafael Velasco Brandani.
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Luciane se apresentou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), criada em 2022. A ILA diz atuar como uma ONG em defesa dos direitos dos presos, mas, segundo a Polícia Civil do Amazonas, a organização atua em prol dos detentos ligados ao Comando Vermelho e é financiada com dinheiro do tráfico de drogas.
Em uma postagem no Instagram, Luciane escreveu ter levado a Velasco e a outras autoridades do ministério “denúncias de revistas vexatórias” no sistema prisional amazonense. Ela também teria apresentado um “dossiê” sobre “violações de direitos fundamentais e humanos” supostamente cometidas pelas empresas que atuam nas prisões do Estado.
Em nota enviada ao Estadão na época, o Ministério da Justiça disse que era “impossível” o setor de inteligência da pasta detectar previamente a presença dela. Luciane, por sua vez, passou a declarar nas redes sociais que estava sendo “criminalizada” por ser casada com um presidiário.
Segundo as investigações que levaram à condenação de Luciane, ela lavou dinheiro do marido, obtido por meio do tráfico. Por isso o Ministério Público do Amazonas a caracterizou como “comparsa” de Tio Patinhas. “Ao tempo em que aparecia como esposa exemplar, era o ‘braço financeiro’ de Tio Patinhas. Exercia papel fundamental também, na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas'”, diz um trecho da denúncia.
Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou um recurso de Luciane e Clemilson que alegavam que o cálculo para recorrer da condenação em segunda instância foi feito de forma equivocada pelo TJ-AM. Os ministros rejeitaram o pedido por unanimidade.