SALVADOR – O treinador da seleção olímpica de futebol masculino, Rogério Micale, condenou, em Salvador, a cobrança de resultados dos jovens jogadores que compõem a equipe e admitiu que não está fácil a situação atual, após os dois empates sem gols com a África do Sul e com o Iraque. O Brasil enfrenta a Dinamarca, nesta quarta-feira, às 20h (de Manaus), na Fonte Nova.
Micale disse que é preciso tratar a situação de uma maneira diferente para não prejudicar o futuro do futebol brasileiro. “O imediatismo que estamos querendo dos jogadores está nos levando a uma situação que me preocupa como formador, como alguém que trabalha com jovens há muitos anos. Estamos sendo implacáveis e essa conta vai cobrar um preço, já vem cobrando. Se não refletirmos e avaliarmos, podemos ter uma dificuldade maior no futuro”, afirmou.
De acordo com o técnico, é preciso ser muito frio neste momento para avaliar e continuar servindo ao país com a formação de jogadores com potencial. Ele ressaltou que, diante da falta de tempo para treinamentos, procura analisar os resultados em reuniões com a equipe, que costumam ocorrer com frequência após os jogos. Nesses encontros, são avaliados os pontos que podem ser melhorados e a pressão que vem de fora.
Micale criticou também as discussões que surgem com derrotas ou escolhas para a seleção. Enquanto houver preocupado com tarja de capitão, comportamentos pessoais e situações internas de relacionamento, as discussões que interessam para entender o que realmente está acontecendo com o futebol brasileiro, principalmente no setor tático e comportamental, a situação vai continuar na mesmice de sempre. “Continuamos querendo achar cabeças, querendo achar culpados, e esse é um grande ma”, afirmou Micale. Ele disse que respeita o trabalho dos jornalistas, mas defendeu uma discussão mais aprofundada, e não ser tão superficial em pontos que não agregam nada em situação de jogo e comportamento dentro campo. “Perde-se muito tempo com isso, a todo momento, o que só traz desgastes para todos os lados”, afirmou. O técnico destacou ainda que é preciso parar de “buscar violões, de cortar cabeças”. Micale lembrou que a Alemanha levou 20 anos para se preparar e melhorar o futebol, enquanto no Brasil a cobrança é para que isso ocorra em seis meses.
Neymar
O jogador Renato Augusto, que participou da entrevista coletiva ao lado do técnico, disse que Neymar, embora triste com os resultados, está confiante em um desempenho melhor contra a Dinamarca. De acordo com o jogador, o momento é de unir o grupo. Micale afirmou que Neymar é muito cobrado e que está se jogando muita responsabilidade em um jogador ainda jovem. Ele mostrou-se descontente com comentários sobre a foto de uma camisa da seleção em que o nome de Neymar está riscado e por cima foi escrito o nome da atacante Marta, da seleção feminina, eleita cinco vezes melhor jogadora do mundo. Micale disse que Marta é sensacional, mas ressaltou que Neymar tem seu reconhecimento e também vai conquistar o título de melhor no mundo.
Mesmo sem ter marcado gols nas duas primeiras partidas, a equipe brasileira tem jogadores de qualidade, que podem marcar a qualquer momento, como Gabriel Jesus, artilheiro do Palmeiras, Gabriel, do Santos, e Luan, do Grêmio. “No momento certo, as coisas vão acontecer. Já colocamos bolas na trave, o goleiro do primeiro jogo foi o jogador de destaque em sua equipe. Tem que ter tranquilidade. Não adianta se precipitar”.
Sobre possíveis mudanças no esquema, Micale disse que a equipe treinou com base em um modelo de jogo e, por isso, o que pode ocorrer é fazer algumas variações. “Não se pode mudar um conceito sem treinamento. O conceito existe, treinamos esse conceito durante a fase de preparação. Não é porque não conseguimos ali a vitória, que vamos, simplesmente, mudar tudo em termos de conceito, porque iríamos trazer mais prejuízo do que benefício para a equipe. Mas podemos, sim, fazer a algumas variações”.
O técnico destacou que, no jogo contra o Iraque, o Brasil teve 71% de posse de bola e fez 14 finalizações. Além disso, o Iraque, foi semifinalista de um campeonato sub-20, vem mantendo a base com os jogadores dessa faixa de idade. “Estamos acostumados a firmar os nossos olhos no resultado final da partida. As críticas são justas. Temos que avaliar o funcionamento do sistema, a variação, algo que possa ter acontecido de errado. É com isso que vamos crescer no todo com nosso futebol. Precisamos desse debate elevado”.
Vaias
Renato Augusto disse que não teme vaias em Salvador, palco da partida desta quarta-feira, que considera um lugar que traz sorte. O jogador lembrou que foi lá que marcou o primeiro gol pela seleção. “É uma torcida que nos apoia muito. Em um momento difícil como o que estamos vivendo, vai fazer muita diferença o torcedor estar do nosso lado, e não tenho dúvida de que eles estarão do nosso lado. Com apoio deles, com certeza, vamos ser muito mais fortes”, afirmou.
Ele garantiu que está em boas condições físicas, o que foi comprovado por exames. Sobre a diferença entre seu desempenho no Corinthians e o de agora, Renato Augusto destacou que atualmente está jogando em outro esquema tático. “Não posso sair como um louco. A posse de boa é importante, principalmente em um grupo tão jovem. Então, procuro ficar um pouco mais com a bola e não sair na correria dos jovens.”
Micale destacou que, até pela experiência, Renato é o jogador que dá suporte, sobretudo por causa da qualidade técnica do passe, permitindo a circulação da bola. “É um jogador que tem uma leitura espetacular do jogo: ele sabe vivenciar dentro de campo o que está acontecendo e é uma voz nossa dentro do jogo. O Renato é um cara que está nos dando sustentação para manter o sistema ofensivo”.
(Da ABR/Agência Brasil)