
Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – O sonho de ser jogador de futebol já é realidade para o amazonense Vinícius Augusto aos 10 anos de idade. Hábil com a bola nos pés, o menino deixou Itapiranga (a 339 quilômetros de Manaus) para tentar a sorte nos gramados em São Paulo. O pai, Fábio Alves da Costa, 34, decidiu apostar no talento do filho e deixou a floresta para trás e foi tentar a sorte no Sudeste do país. Vinícius treina no CT Revelando, clube amador da Baixada Santista, e passou em teste para integrar a base mirim do São Paulo.
O itapiranguense promete. Há dois anos em São Paulo, já foi bicampeão Sub-9 de Santos, ambos em 2018. Vinícius disputou o campeonato Sub-12 no futsal, no ano passado, pelo CTF Barata Futsal Total, e chegou às semifinais.
“Viemos com a cara e a coragem, sem conhecer ninguém e sem ter nenhum parente em São Paulo. E eu não aconselho ninguém a fazer isso”, disse Fabio, sobre as dificuldades de encarar o desafio.
Desconcertante nos dribles, Vinícius pediu ao pai para ser jogador de futebol. O apelo foi feito aos 8 anos de idade. “Eu apoiei de início, mas entendia que podia ser passageiro, porque é coisa de criança”, disse Fabio. “Se tu realmente sabes o que quer ser, eu te digo que você vai conseguir. Mas depende só de você”, disse, relembrando o conselho ao filho. “Desde que ele tinha sete anos, eu trabalho o psicológico dele para seguir firme”.

A distância da família e de hábitos comuns no interior do Amazonas são, agora, somente lembranças. “Sinto falta da minha mãe, da minha avó e de pular no igarapé”, disse Vinícius, diversão comum das crianças no interior do Amazonas.
Eles saíram de Itapiranga porque, segundo Fabio, as grandes oportunidades no futebol não chegam ao interior. “Quem mora lá, só sobrevive da caça e pesca ou se muda para Manaus”, disse. Antes da mudança para o Sudeste do país, Fabio trabalhava como motorista em Manaus e enviava dinheiro para a família se manter no interior. Hoje, a mãe, Ingrid Rebelo, 35, que é técnica em enfermagem em Manaus, é quem banca as despesas do filho e do marido.
O contato de Vinícius com o esporte começou quando o pai construiu um campo de futebol no quintal de casa. Aos finais da tarde, virou rotina se reunir com os amigos para jogar bola. “Esse era nosso passatempo, já que no interior a gente não tem muitas opções de entretenimento”, disse Fabio.
Time tradicional na modalidade de futsal em Itapiranga, foi pelo Ajax que Vinícius teve seu primeiro contato com as competições. “Tem muita torcida (em São Paulo). Por isso, a pressão de jogar aqui em São Paulo é maior do que era em Itapiranga. A maioria dos meus colegas fica nervoso, mas eu fico tranquilo com isso, até gosto”, disse Vinícius, demonstrando já estar adaptado ao ambiente de time grande.
Rede social
Foi através de um aplicativo de ‘caça-talentos do futebol’ que o craque mirim conseguiu estreitar relações com os dirigentes de grandes times paulistas. Em dezembro de 2019, Vinícius foi chamado pelo São Paulo para uma ‘peneira’. Foi aprovado e garantiu a vaga no elenco de 2020 da categoria de base do Tricolor.
A apresentação em Cotia, instalações do Tricolor para jogadores da base, deve ocorrer ainda este mês. “Agora sim, ele está mais próximo do futebol profissional, porque vai viver a experiência de treinar em um elenco de peso”, disse o pai, orgulhoso. “A oportunidade foi dada. Só cabe a ele se esforçar, seja debaixo de sol ou chuva”. A floresta amazônica realmente ficou para trás.
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