Filipe Oliveira, da Folhapress
SÃO PAULO, SP – A startup Buser, de contratação de viagens rodoviárias pela internet, anunciou nesta quinta, 10, ter levantado R$ 700 milhões com investidores.
A maior parte dos recursos veio do fundo LGT Lightrock, também investidor de negócios como Creditas e Dr. Consulta. Grupos que já tinham aplicado recursos na startup no passado também participaram da captação, incluindo nomes como Softbank, Monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures e Canary.
A Buser diz que irá usar os recursos para diversificação de serviços. A companhia quer avançar na venda de viagens de outras empresas a partir de sua plataforma e avançar no mercado de transporte de cargas dentro de ônibus, no qual passou a atuar em maio. Também prevê negócios em financiamento de ônibus e no transporte urbano.
O marketplace da companhia, Buser Passagens, que foi lançado há seis meses, tem 40 empresas parceiras e transporta 3.000 passageiros por semana.
A startup promete investir R$ 1 bilhão nos próximos dois anos e prevê crescer dez vezes até o final de 2022. Deve ir de 200 para 600 funcionários no período.
A companhia tem como principal fonte de receita o fretamento online de ônibus de empresas parceiras por grupos de consumidores, modelo frequentemente questionado na Justiça por empresas do setor e alvo da fiscalização.
Marcelo Abrita, presidente da startup, diz que o investimento vem após a companhia triplicar de tamanho entre fevereiro de 2020 e o final do ano passado, mesmo com a pandemia restringindo as viagens.
O empresário afirma que a busca de novas oportunidades é um desdobramento natural do avanço da companhia, mas o fretamento deve seguir como principal negócio da empresa. “Ficou claro que a empresa estava pronta para crescer na velocidade que decidíssemos se tivéssemos acesso à capital”.
sobre a venda de passagens de outras companhias, o empresário diz que ela permite à Buser ampliar sua oferta, incluindo horários e roteiros que a companhia, por ainda ser jovem, não oferece.
Ele diz que a venda no marketplace atraiu principalmente pequenas empresas com autorização para fazer linhas regulares e que viram no negócio a possibilidade de ampliar sua receita. Do grupo, parte também oferece veículos para o fretamento da Buser, segundo Abrita. As grandes do setor, por outro lado, tendem a ver a startup com hostilidade, diz.
“No modelo antigo, as empresas pequenas estavam protegidas pelo controle nas linhas que tinham, mas não poderiam crescer além daquilo”, diz.
Segundo ele, a entrada da empresa no transporte urbano é o projeto mais incipiente da companhia. A ideia é fazer como no transporte rodoviário, ou seja, usar a internet para entender a demanda dos consumidores e, quando ela for grande, fornecer a viagem a partir de parceiros.
Abrita diz que o formato é discutido com uma prefeitura e também com uma concessionária de transporte público no país.
Entre as críticas que o modelo de negócios da Buser recebe estão a de que, apesar de as parceiras da Buser terem autorização para fazer viagens fretadas, os serviços contratados a partir da plataforma da empresa não seguem todas as regras exigidas para esse tipo de viagem, entre elas levar e trazer o mesmo grupo de passageiros na ida e na volta.
A companhia também é questionada por não arcar com todas as obrigações que uma empresa com autorização para operar linhas regulares precisa, como manter viagens em horários de menor demanda e dar benefícios para públicos como idosos e pessoas com deficiência.
Em seu anúncio do novo investimento, a Buser afirma ter comemorado sucessivas vitórias no campo jurídico e regulatório, o que denota que o mercado do transporte coletivo segue o mesmo caminho já percorrido no transporte individual, quando da chegada de aplicativos como Uber e 99.
Em abril, a Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros) desistiu de uma ação de 2019 que questionava o modelo de negócios da Buser no STF (Supremo Tribunal Federal). A notícia foi comemorada pela empresa como vitória na guerra judicial, o que é negado pela entidade.
Segundo Letícia Pineschi, conselheira da associação, a entidade decidiu deixar o que considera uma ação que tratava dos princípios do transporte em abstrato para aguardar que uma ação movida por suas associadas que está em instâncias inferiores chegue ao Supremo.
“É mais interessante levar a análise do STF de processos com provas mais robustas em uma das ações que eles perderem”, afirma.