MANAUS – Em termos de sobrevivência da espécie, o grupo é a unidade primária de seleção natural. O cérebro humano evoluiu milhões de anos atrás, dobrando de tamanho em relação às espécies que antecederam o Homo sapiens. E isso aconteceu, conforme a ciência, na mesma proporção em que os antepassados do homem moderno foram tornando-se mais sociáveis e colaborativos.
Os relacionamentos sociais foram fundamentais para a nossa espécie. Segundo o historiador Yuval Harari, autor do best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, o segredo do sucesso do Homo Sapiens é a cooperação flexível e em larga escala. Harari destaca que é essa capacidade de organizar grupos em torno de ideias e objetivos comuns que permitiu ao ser humano se adaptar e dominar o planeta.
A ciência mostra que nosso cérebro foi desenhado para a colaboração, e a compaixão está na base dessa capacidade de trabalharmos juntos para criarmos um futuro melhor. Paul Ekman, psicólogo conhecido por seu estudo das emoções universais, e o Dalai Lama, em Emotional Awareness, destacam a compaixão como um fator crucial para a coesão social e a construção de sociedades mais justas e cooperativas. Eles argumentam que, ao praticar a compaixão, transcendemos o egoísmo e passamos a agir em benefício do coletivo.
Como indivíduos, somos frágeis no reino animal. No entanto, é por meio da nossa capacidade de colaboração em grande escala que conseguimos realizar feitos extraordinários, transformando o mundo ao nosso redor. Por isso, ser social é a forma mais bem-sucedida de adaptação que se conhece.
Quanto mais treinamos a compaixão, mais percebemos que todos desejamos as mesmas coisas: saúde, prosperidade, segurança, paz, harmonia e uma vida sem dor e sofrimento. Através da lente da compaixão, entendemos que somos todos iguais em nossas necessidades e compartilhamos as mesmas dores. Ao reconhecer essa condição, torna-se muito mais fácil nos relacionarmos uns com os outros.
O psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, criador da Comunicação Não Violenta (CNV), afirma que todo conflito é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida e que, no fim das contas, toda pessoa deseja ser vista e valorizada pela outra. Carl Rogers, psicólogo humanista, complementa essa ideia ao defender a “escuta ativa”, uma técnica que permite que as pessoas se sintam verdadeiramente ouvidas e compreendidas, sem julgamentos.
“Ser ouvido de maneira empática nos permite conectar em um nível profundo, reconhecendo a humanidade compartilhada. Esse processo é fundamental para a construção de relações sólidas e pacíficas”, ensina.
Entretanto, não é possível ter compaixão pelo outro se não somos compassivos com nós mesmos.
Kristin Neff, especialista em autocompaixão, explica que essa prática não envolve apenas tratar a si mesmo com gentileza, mas também reconhecer que falhas e desafios fazem parte da condição humana. Neff sugere que, ao cultivarmos a autocompaixão, nos tornamos emocionalmente mais resilientes e menos propensos a julgar os outros com severidade.
A escuta empática, ensina, não é apenas ouvir com a mente aberta, mas acolher o outro com o coração, respeitando suas verdades e necessidades. Nesse nível de escuta, não escutamos para responder, mas para compreender e ajudar a encontrar soluções colaborativas.
Rogers e Rosenberg destacam que a escuta empática é a chave para criar ambientes de confiança e colaboração genuína. Fazer o bem nos faz bem, da mesma forma que prejudicar os outros também nos prejudica.
Ser compassivo, portanto, começa pela prática da autocompaixão. Lúcia Barros, estudiosa da Ciência da Felicidade, nos lembra que, em meio à pressa e à pressão do dia a dia, é essencial olhar para dentro de nós mesmos. “Como olhar para o outro, se não dedicamos tempo para cuidar de nós?”, questiona a criadora do método Reprogramação Geral da Presença (RGP).
A presença plena, conforme explica Lúcia Barros em seu curso de RGP, é um caminho essencial para desenvolver a autocompaixão e a compaixão. Ao estarmos conscientes do momento presente, conseguimos perceber nossas emoções com mais clareza, o que facilita a regulação emocional e melhora nossas interações sociais.
Através da prática da escuta empática, da compaixão e da autocompaixão e da presença plena, podemos cultivar ambientes mais harmônicos, onde todos têm a oportunidade de florescer.
Roseane Mota é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aluna do programa mentorado Bússola Executiva. É servidora pública do quadro efetivo do Estado e coordenadora de Comunicação na Unidade Gestora de Projetos Especiais - UGPE, do Governo do Amazonas.
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