Da Agência Senado
MANAUS – As autoridades sanitárias do Brasil e da China precisam investigar a origem do envio gratuito e não solicitado de pacotes com sementes ao Brasil. A conclusão é dos senadores Plínio Valério (PSDB-AM) e Alvaro Dias (Podemos-PR), após estudo do Ministério da Agricultura avaliar que as sementes recebidas por brasileiros contêm pragas que não existem no Brasil.
Em setembro, por exemplo, pacotes foram entregues a moradores de Santa Catarina junto a compras realizadas pela internet, como um brinde. Os pacotes, supostamente vindos da China, descreviam o conteúdo como joias, mas, na verdade, eram sementes, que já chegaram pelos Correios a oito estados brasileiros.
O recebimento de sementes pela população também foi registrado nos Estados Unidos, no Canadá e no Reino Unido, entre outros países, sem que haja uma explicação definitiva. Suspeita-se da ocorrência de “brushing”, prática que melhora a reputação de lojas e produtos on-line com avaliações falsas, mas que exige o envio de encomendas para legitimar os pedidos. O governo chinês nega que os pacotes sejam enviados daquele país.
“Uma questão essencial segue sem resposta: qual era o objetivo de quem enviou essas sementes ao Brasil? Será que queriam prejudicar a nossa agricultura?”, questionou Alvaro Dias em publicação no Twitter.
Nessa mesma rede social, Plínio Valério defendeu a investigação do fenômeno. Na avaliação do senador, a apuração deve envolver as autoridades sanitárias do Brasil e da China. Ele teme que o envio das sementes possa trazer prejuízos ao agronegócio brasileiro.
“Semente comprada inexistente no Brasil, principalmente vinda da Ásia, e particularmente vinda da China, já é suspeita. Eu acho que o Ministério da Agricultura está fazendo um bom trabalho. Tem que realmente alertar, alerta máximo, e investigar”, disse Valério.
“Eu tenho que ver o que nós, enquanto legisladores, Câmara e Senado, podemos fazer, porque essa coisa é muito séria. O agronegócio é o carro-chefe do Brasil. Imagina se prejudicasse o nosso agronegócio, como seria? O agronegócio sustenta a balança comercial do país. Eu acho que é uma denúncia séria, seriíssima. Aliás, não é denúncia, é comprovação. Temos que ver o que podemos fazer por aqui. Eu vou tentar saber com a assessoria jurídica, com os assessores, o que pode ser feito. Algo tem que ser feito e e de forma urgente”, afirmou Plínio.
Análise das sementes
Até o momento, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) analisou 36 amostras de pacotes de sementes não solicitadas que chegaram via Correios na casa de brasileiros.
As análises – realizadas pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Goiás (LFDA-GO), referência em sanidade vegetal – indicam que parte das amostras contém a presença de mais de uma praga em seu conteúdo. No total, 47% das amostras já analisadas apresentaram risco fitossanitário ao país.
Após avaliação de risco fitossanitário, realizada pela área técnica do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do Mapa, foi identificado que uma amostra continha a espécie Myosoton aquaticum, praga ausente no Brasil e com potencial para ser considerada quarentenária, ou seja, com risco de estabelecimento no país e de causar danos fitossanitários. Essa espécie apresenta resistência a herbicidas, o que torna seu controle difícil. A introdução dessa planta daninha no país pode ter impacto econômico negativo, avalia o Mapa.
Em quatro amostras foram identificadas uma espécie quarentenária – a Descurainia sophia – considerada como planta daninha nos Estados Unidos e Canadá, além de planta invasora no México, no Japão, no Chile e na Austrália. Já a Myosoton aquaticum é considerada daninha nos campos de trigo da China.
Outras 15 amostras continham gêneros que têm espécies quarentenárias ou espécies com potencial quarentenário, como sementes de Cuscuta, Brassica, Chenopodium, Amaranthus e dos fungos Cladosporium, Alternaria, Fusarium e Bipolaris.