Da Redação
MANAUS – O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, disse nesta terça-feira, 30, que a Susam (Secretaria de Estado de Saúde) é responsável por dar “o posicionamento técnico para aquisição de material médico” e que, por isso, a secretária estadual Simone Papaiz foi alvo de prisão temporária na Operação Sangria.
“O que nós percebemos nessa operação é que, além do superfaturamento do preço, havia também uma inconsistência, uma inadequação do equipamento que seria comprado para utilização para socorrer as vítimas da Covid-19. Por isso que o delegado entendeu por bem representar pela prisão dela”, disse Saraiva, em entrevista coletiva.
A Operação Sangria, deflagrada pela Polícia Federal e MPF (Ministério Público Federal), cumpriu, na manhã desta terça-feira, 30, mandados de prisão temporária contra oito pessoas, além de 20 mandados de buscas e apreensão em endereços de pessoas ligadas ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). O governador foi alvo de busca e bloqueio de bens.
O argumento de Saraiva para prender Papaiz destoa da apuração da CPI da Saúde da ALE (Assembleia Legislativa do Amazonas) de que a homologação da compra dos 28 respiradores por R$ 2,9 milhões foi feita no dia 8 de abril pelo ex-secretário executivo João Paulo Marques. Conforme o ex-secretário, nesse dia Papaiz ainda não era secretária.
Além de assumir que “incorreu no erro” ao homologar a compra dos equipamentos, Marques disse que pediu a Dayana Mejia, ex-secretária executiva adjunta da Capital, para que assinasse documentos do processo administrativo para contratação do Hospital Nilton Lins após a exoneração dela, ocorrida no dia 18 de abril, ou seja, com data retroativa.
Essa informação, inclusive, motivou os membros da comissão a pedirem na Justiça o afastamento de Marques do cargo de procurador-chefe da Suhab (Superintendência Estadual de Habitação). O presidente da CPI da Saúde, deputado Delegado Péricles (PSL), justificou o pedido com a falta de cuidado pelo ex-secretário com procedimentos administrativos.
Governador
Saraiva disse que o governador Wilson Lima é ordenador de despesa e, por isso, foi alvo de busca e apreensão e bloqueio de bens na Operação Sangria. Também disse que Manaus foi o epicentro da pandemia da Covid-19 e isso “gerou uma gravidade muito grande da situação”. “O ordenador de despesa decide se vai ser pago ou não e dessa responsabilidade nenhum gestor público está livre”, disse o superintendente.
A declaração de Saraiva contraria o entendimento do subprocurador de Justiça Fábio Monteiro, que coordenou a Operação Apneia, deflagrada em conjunto com a Polícia Civil no dia 10 deste mês. Na ocasião, Monteiro eximiu o governador Wilson Lima do suposto esquema ao afirmar que Lima não era “o responsável direto pela compra dos equipamentos”.
“Nesse caso, nós apuramos em relação ao ordenador de despesa, quem foi que contratou, e o governador não é ordenador de despesa nessa relação. Quem comprou e quem autorizou a compra dos equipamentos é quem é o responsável”, disse Monteiro, no último dia 10 de junho.
Conta bancária
Ao ser questionado sobre a conta bancária no exterior para onde supostamente foi enviado o dinheiro da desviado com a compra de respiradores, Saraiva respondeu: “Eu não me recordo exatamente o nome da empresa, mas é uma empresa sediada no exterior e esse dinheiro foi enviado para lá, o que é uma operação extremamente suspeita juntamente com todo aquele contexto que nós já tínhamos verificado”, disse.
De acordo com relatório da Polícia Federal, essa conta é pertencente a uma outra pessoa jurídica, “aparentemente de fachada, havendo indícios de possível prática de crime de lavagem de dinheiro”. Considerando que o sobrepreço praticado em cada unidade dos respiradores corresponderia a R$ 60,8 mil, o valor do superfaturamento totaliza a quantia de pelo menos R$ 1,7 milhão, até R$ 2,1 milhões. Veja vídeo
(Colaboraram Jullie Pereira e Murilo Rodrigues)