Por Fábio Zanini, da Folhapress
SÃO PAULO – A eleição municipal está sendo vista por boa parte da base conservadora como um momento de definição. Não seria apenas uma discussão sobre melhorar serviços públicos como saúde, educação e transporte.
O objetivo é consolidar o movimento iniciado em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro, preparar o caminho para um novo mandato presidencial em 2022 e para a eleição de um Congresso de perfil ainda mais direitista.
Esse tipo de atitude se manifesta em diversos grupos, sites e iniciativas. Uma das que têm ganho mais adesão é a plataforma digital Eleja Bem, que pretende ser uma referência para candidatos conservadores na eleição de novembro. “Somos maioria, patriotas, conservadores. Somos apoiadores do presidente. #SomosTodosBolsonaro”, diz a plataforma, para não deixar dúvida de que lado está.
É uma espécie de portal repleto de dicas práticas para candidatos e eleitores de direita, desde a maneira de fazer campanha até formas de identificar um político genuinamente conservador.
Nos últimos dias, tem circulado entre grupos conservadores um formulário para ser preenchido por candidatos a prefeito e vereador, que formará uma lista de nomes chancelados pelo site.
E quais são os mandamentos que a Eleja Bem propaga para seu público? Aqui vai um breve decálogo:
1) Evite candidato que “manda soltar criminosos e prender cidadãos de bem com a desculpa do vírus chinês”;
2) “Diga sim a quem é conservador e patriota e que apoia o governo Bolsonaro”;
3) Muito cuidado com quem se diz “ex-esquerda”. “Não dá pra confiar em quem diz que foi convertido à direita. Suspeite e, na dúvida, melhor descartar”;
4) “Diga sim a quem não aceita fundo eleitoral”;
5) Prefira os candidatos militares. “A carreira militar é pautada em valores, deveres, ética e defesa da pátria”;
6) “É muito importante utilizar ferramentas disponíveis para impulsionar a campanha, seja Facebook, Instagram, WhatsApp ou qualquer outra gratuita”;
7) Mas não negligencie a campanha de rua, que é extremamente importante e necessária. “Ela atinge pessoas que não estão conectadas nas redes ou não têm conhecimento dos candidatos”.
9) Valorize as “tias do zap”. Organize encontros como um café da tarde ou chá com elas;
9) Denuncie a urna eletrônica;
10) Evite dividir a direita. “Pratique os valores cristãos de respeito, sinceridade, empatia e desprendimento. Nunca imponha sua vontade. Sempre sugira e, se houver um senso comum, siga em frente. Pense para o benefício de todos, para alcançar o objetivo final: eleger bem”.
A maior parte dos eleitores, diz a Eleja Bem, é trabalhadora, cristã, de boa índole e contra a corrupção. “A maioria do povo é pacífica e rejeita a mentira e a má conduta que a esquerda pratica e defende”, resume a plataforma.
Há uma visão consagrada entre profissionais de marketing político e analistas de que eleições municipais são muito pouco propensas a debates ideológicos e se prestam mais à discussão sobre o desempenho administrativo dos prefeitos e propostas para resolver problemas concretos.
A aposta de diversos grupos conservadores, no entanto, é mais uma vez colocar de cabeça para baixo o senso comum sobre a política, como ocorreu em 2018. E transformar o pleito municipal num plebiscito sobre o bolsonarismo.