Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – A popularização do uso de redes sociais em campanhas políticas, impulsionada nos últimos seis anos, coloca candidatos diante de uma nova realidade: o contato direto e interativo com um grande grupo de eleitores. A maioria dos políticos faz esse contato por contra própria. Alguns poucos optam por acompanhamento especializado, assessorias e consultorias.
Para Paes Barbosa, estrategista político e especialista em Planejamento de Campanha Eleitoral com Inteligência Artificial, “as redes sociais desempenham um papel fundamental no marketing eleitoral, permitindo que os candidatos alcancem um público amplo, engajem eleitores e comuniquem suas mensagens de maneira direta e personalizada”.
O especialista indica diversas formas para o candidato explorar ao máximo as potencialidades das ferramentas disponíveis. “O marketing político deve ser baseado na verdade, transparência e no respeito ao eleitorado”, afirma.
Paes Barbosa considera que a expressão “fabricar um candidato”, ligada a estratégias de marketing eleitoral, carrega “conotações negativas, sugerindo manipulação ou falta de autenticidade”. O especialista diz que há diversas estratégias de marketing político que fogem dessa conceituação.
Segundo Paes Barbosa, a transformação de um candidato em um produto eleitoral envolve a aplicação de estratégias de marketing político para construir uma imagem forte, criar conexão com os eleitores e apresentar propostas de maneira eficaz.
Os elementos essenciais são estratégias de branding pessoal, slogan de campanha, narrativa pessoal, propostas claras, imagem visual consistente, presença nas redes sociais, mobilização de apoiadores, presença em debates e entrevistas, publicidade eficiente e persuasiva e uso de pesquisas eleitorais para entender as tendências, avaliações e preferências do eleitorado.
Neste processo também é importante que o candidato e sua equipe estejam atentos a pesquisa e análise do quadro eleitoral, a condução de pesquisa detalhada para entender o cenário político, as necessidades dos eleitores, as preocupações da comunidade e a imagem do candidato.
Outros elementos citados por Barbosa são a análise de dados demográficos, tendências de opinião e comportamento eleitorais, e posicionamento do candidato, para direcionar sua estratégia. No posicionamento, o candidato define valores, princípios e propostas. “Isso ajudará a construiur uma identidade sólida e autêntica”, afirma.
Também exige atenção e olhar cuidadoso saber identificar os diferenciais que destacam o candidato em relação a seus concorrentes. Elementos importantes nesse aspecto são o uso de comunicação eficaz, presença forte do candidato online compartilhando conteúdo relevante, linguagem acessível para alcançar uma ampla audiência, e escolha de plataformas digitais apropriadas para alcançar diferentes grupos.
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A comparação entre o marketing político e o marketing de produtos de consumo ressalta a importância de vender conceitos, ideias e valores, em vez de simplesmente promover um produto ou um candidato, diz Paes Barbosa.
“Embora haja semelhanças, é crucial ressaltar que o marketing político deve ser ético, transparente e respeitar os princípios democráticos. A venda de conceitos deve ser baseada em valores autênticos, visando o bem comum e o interesse público”, repete.
“Ambos compartilham princípios fundamentais, como a criação de uma marca, a construção de uma narrativa envolvente e a busca por uma conexão emocional com o público-alvo. Assim como uma empresa cria uma marca para seus produtos, um candidato deve desenvolver uma marca pessoal sólida. Isso envolve a definição clara de valores, missão e visão”.
Ele cita o exemplo da campanha presidencial de Barak Obama à presidência dos Estados Unidos em 2008, quando adotou o slogan “Hope” (Esperança), focando na mudança e na unidade.
“Uma história envolvente é crucial tanto para produtos quanto para candidatos. Os eleitores precisam se conectar emocionalmente à história do candidato”, diz Paes Barbosa, que volta a citar Barack Obama e a campanha “Yes We Can” (Sim, nós podemos), que enfatizou a capacidade de superar desafios coletivamente.
O gerenciamento de crises, fato comum em redes sociais, um ‘território livre’ com legislação ainda em construção, e onde se posta o que quer , quando quer, e como quer, sem filtros ou moderação, é importante, avalia Paes Barbosa.
Responder de maneira eficaz e rápida é fundamental, com posicionamento imediato alegações falsas ou mal-entendidos para evitar impactos negativos na campanha, minimizando danos à imagem do candidato.
O feedback e a adaptação à velocidade das redes sociais é indicado como mais um elemento importante na estratégia de marketing. Ajustar o discurso e mensagem de campanha com base em pesquisas de opinião e reação do eleitoral é uma solução.
Aspectos negativos
Em relação a condutas condenáveis de candidatos em redes sociais, Paes Barbosa afirma que é possível identificar práticas que podem ser percebidas como uma tentativa de moldar a percepção pública de um candidato de maneira desonesta.
Entre os fatores identificáveis estão a manipulação de imagens, uso de narrativas enganosas e que não refletem fielmente a trajetória do candidato, campanha negativa desonesta que consiste em ataques pessoais e difamação contra adversários baseados em informações distorcidas ou falsas, promessas de campanha impraticáveis, uso de dados e informações manipuladas ignorandon dados que possam contradizer a narrativa desejada, encenação de eventos ou situações, e omissão de informações de forma proposital.
“É fundamental ressaltar que práticas desonestas podem ter sérias consequências para a credibilidade do candidato e para o processo democrático como um todo. Estratégias de marketing político devem ser baseadas em transparência, honestidade e respeito pela integridade do sistema eleitoral”, reforça o especialista.
Inteligência artificial
A eleição 2024 trás um elemento novo no mundo tecnológico, ainda com legislação frágil. O surgimento da IA (Inteligência Artifical), que pode ser usada tanto para o bem como para o mal.
“O avanço da IA (Inteligência Artificial) representa uma camada adicional de sofisticação, oferecendo oportunidades para personalização mais profunda, segmentação avançada e análise preditiva”, diz Barbosa. Análise preditiva é ação que examina o comportamento da rede social, em tempo real, para identificar anormalidades que indiquem fraudes e outras vulnerabilidades.
“A criação de um falso candidato com inteligência artificial apresenta riscos substanciais para a integridade do processo eleitoral e para a confiança do público. Como estrategista de marketing político, é essencial não apenas entender esses riscos, mas também adotar medidas para combater a disseminação de informações falsas”, diz o especialista.
Paes Barbosa sugere algumas estratégias para identificar e combater um “falso candidato” criado com IA: monitoramento das redes sociais, a partir de observação de contas que compartilham mensagens idênticas ou que seguem padrões de atividade pouco naturais; análise de padrões de discurso, com avaliação se a consistência, o estilo e a coerência apresenta padrões de linguagem ou argumentos que se desviem significativamente do esperado para um candidato real; e verificação de credibilidade de fontes.
Há também ferramentas de detecção que examinam a autenticidade de interações nas redes sociais, diz Paes Barbosa. Outro trunfo é a cooperação com autoridades eleitorais, para garantir que medidas sejam tomadas para preservar a integridade do processo democrático.
Mais uma vez o estrategista política lembra que “é fundamental lembrar que a ética e a transparência são pilares essenciais em campanhas políticas. O combate a falsos candidatos e informações enganosas contribui para a preservação da integridade do processo eleitoral e a promoção de eleições democráticas e limpas”.
Panorama geral
Em 2024, quando o Brasil escolherá 5.569 prefeitos e 58.114 vereadores. A novidade será a primeira eleição em Boa Esperança do Norte (MT), o mais recente município criado no Brasil, em 3 de outubro do ano passado.
A cidade foi desmembrada de Sorriso e Nova Ubiratã e tem pouco mais de 7 mil habitantes. De acordo com o artigo 29 da Constituição Federal, municípios com população de até 15 mil habitantes elegem 9 vereadores.