Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Há alguns anos as redes sociais tomaram dimensão importante no processo eleitoral. Postagens de pré-candidatos dão o tom de campanha. Porém, quanto mais próximo da data da eleição, maior o uso de forma desvirtuada da ferramenta. No lugar de apresentação de propostas de governo, o que eleitores/internautas recebem são mensagens de auto-elogio, de críticas generalizadas e pontuais sem indicação de solução, e de ataques a adversários.
Para Luiz Antonio Nascimento, sociólogo, cientista político e professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), a apresentação pessoal em substituição a propostas efetivas e as campanhas difamatórias contra adversários, além de representar um problema para a melbor escolha do eleitor, significa também mau uso de uma “espetacular e gratuita ferramenta” que os políticos têm em seu favor.
Os principais pré-candidatos à Prefeitura de Manaus seguem essa tendência apontada por Nascimento em seus perfis de Instagram: vendem suas “boas imagens”, apontam os problemas da cidade com o discurso de que “Manaus está abandonada” e termos similares, mas não indicam as soluções, e criticam ações da Prefeitura de Manaus.
Outro recurso usado pelos pré-candidatos mais lembrados em pesquisas eleitorais é colar a imagem em políticos com maior densidade eleitoral, mas sem apresentar propostas de governo. O objetivo parece ser surfar na popularidade de terceiros. Candidato nato à reeleição, o prefeito David Almeida (Avante) foge a essas características.
Militares, Capitão Alberto Neto e Coronel Alfredo Menezes, que disputam quem será o candidato do PL à prefeitura de Manaus, abusam de postagens ao lado do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, capitão reformado do Exército e derrotado na eleição presidencial de 2022.
Deputado federal, Alberto Neto prioriza em seu Instagram postagens de assuntos nacionais, suas ações e projetos na Câmara dos Deputados, vídeos de Bolsonaro com críticas ao governo Lula, vídeos do deputado federal mineiro Nikolas Ferreira, o mais votado do Brasil, e vídeos produzidos por ele com críticas a Lula.
Em única postagem recente, se referiu à eleição municipal em Manaus. No dia 11 de janeiro, com o título “Manaus é prioridade do Partido Liberal”, publicou vídeo dizendo que “depois do Carnaval nós vamos gravar vídeos. Daqui a pouco o presidente Bolsonaro vai estar aqui em Manaus. Já tem o compromisso do presidente Bolsonaro viajar todo o país, com a Michele Bolsonaro. Estamos construindo uma candidatura muito sólida e com a força do nosso presidente Bolsonaro nós vamos chegar no segundo turno. Estou aperfeiçoando um projeto de governo de 2020, um projeto muito mais moderno”. Apenas uma promessa de que no futuro vai apresentar um projeto.
Seu concorrente de partido, Coronel Menezes, tem comportamento parecido. Porém, tem mais vídeos postados de Bolsonaro criticando Lula e completa com compartilhamento de notícias contra Lula.
Em postagens com referência a Manaus e à eleição de 2024, tem textos com frases “Vamos transformar Manaus numa cidade referência !”, “Sou aliado do presidente Bolsonaro. Temos em 2024 grandes desafios e o PL é o meu partido e também do presidente Bolsonaro que é o maior líder político da direita no Brasil” e “Manaus está permeada de maus exemplos”.
De forma direta, em outra postagem, Menezes diz que “o único projeto desta atual gestão é a busca pela reeleição e para isso todos os tipos de acordos estão sendo feitos, a única coisa que não é levada em consideração é melhorar a qualidade de vida das pessoas”.
Não há, entretanto, postagens com propostas ou soluções aos problemas indicados por Menezes em suas postagens no Instagram.
Roberto Cidade (União Brasil) tem quase sempre o governador Wilson Lima nos vídeos e fotos que publica em seu perfil. A maioria, em eventos públicos e inaugurações de obras do governo do Estado. Presidente da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), Cidade também publica suas realizações como parlamentar.
O deputado tem outros tipos de postagem, como homenagem a datas (janeiro branco e dia do fotógrafo, por exemplo). Cidade foi o único a publicar sobre a participação da amazonense Isabelle Nogueira no BBB 24.
Segundo colocado em quase todas as pesquisas eleitorais realizadas, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) disse, em 30 de dezembro do ano passado, que nunca declarou ser candidato à prefeitura de Manaus.
O parlamentar sempre teve forte presença nas redes sociais, desde a candidatura a vereador, em 2020. Após tornar-se político com mandato eletivo, suas postagens são, geralmente, para apontar erros da administração pública nas esferas municipal, estadual e federal. Porém, as críticas raramente trazem a solução para os problemas levantados.
Análise
“As redes sociais, em especial nos últimos cinco ou seis anos, mudaram de forma irreversível, o processo de campanha eleitoral, mesmo no período de pré-campanha. Esse processo impactou de tal maneira que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) precisou regulamentar o que ele instituiu como uma pré-campanha”, afirma Luiz Antonio Nascimento.
“Me parece que a questão central é que os candidatos ou os pré-candidatos têm centrado as suas ações muito mais na apresentação pessoal e de valores em geral do que propriamente ideias em relação ao mandato. Isso é um problema”, acrescenta o sociólogo.
“O segundo aspecto que a gente precisa considerar são os riscos efetivos, que a gente vai precisar ligar os alertas, que são as campanhas difamatórias contra os adversários. Campanhas inclusive que leva a ponto de você ter uso de fakenews de deepfake”.
Deepfake é a criação de vídeos e áudios falsos, com uso de inteligência artificial, com objetivo de enganar as pessoas. De acordo com a empresa de segurança de internet Karpersky, 71% dos brasileiros não reconhecem quando um vídeo foi editado digitalmente, usando o deepfake.
O prefeito David Almeida denunciou à Polícia Federal a disseminação de um áudio produzido por IA (Inteligência Artificial), no dia 22 de dezembro. Para o prefeito, o ataque tem ligação com as eleições municipais, que serão realizadas no dia 6 de outubro.
O ATUAL questionou a PF sobre o andamento das investigações, se os suspeitos identificados foram interrogados, se foram de fato os autores dos crimes e quais providências seriam tomadas contra administradores de grupos de WhatsApp e usuários da plataforma que encaminharam o áudio.
Em resposta a PF disse “que não comenta investigação em andamento, não sendo possível responder agora as perguntas realizadas. Oportunamente os resultados serão devidamente divulgados”.
Mau uso
Luiz Antonio Nascimento avalia que a má utilização das redes sociais é um erro da classe política, em razão do grande alcance e baixo custo das ferramentas virtuais. E que é um importante elemento de democratização e de informação.
“Estamos falando de um recurso espetacular, que barateou muito a capacidade de comunicação dos candidatos e pré-candidatos, que consegue alcançar nichos interessantes, se ele souber e for bem assessorado. Através de mecanismos de algoritmos ele consegue falar especificamente para determinados grupos”, afirma Nascimento
“Isso é espetacular do ponto de vista da democracia representativa. Eu consigo falar com aquele sujeito a quem eu quero pedir meu voto. Isso é fundamental. O desafio é transformar essa primeira abordagem, esse primeiro encontro com esse potencial eleitor com a capacidade efetiva e transformar isso em voto”, completa.