
Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Nota técnica da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) divulgada na quinta-feira, 5, estima que a repavimentação da rodovia BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO), pode gerar até o ano de 2050 desmatamento quatro vezes maior do que o projetado com a média histórica no Amazonas. O estudo cita “prejuízo de mais de 350 milhões de dólares anuais” no agronegócio.
Assinado pelos pesquisadores Britaldo Soares Filho e Juliana Leroy Davis, do Centro de Sensoriamento Remoto, e Raoni Rajão, da Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais, o documento considera dois cenários para a região até o final dos próximos 30 anos. A estimativa do impacto da pavimentação da rodovia foi feita através do modelo SimAmazônia.
De acordo com a nota, o primeiro cenário não inclui a pavimentação da estrada e assim mantém a média dos últimos cinco anos do desmatamento no Amazonas : 1.150 km2. No caso do segundo cenário, que inclui a pavimentação da rodovia, fluxos migratórios, expansão agrícola e ocupação de terras, as taxas de desmatamento atingem 9,4 mil km2.
Os pesquisadores calcularam as emissões de gases de efeito estufa (CO2) e a perda de serviços ambientais para avaliar as consequências ambientais e econômicas do desmatamento. “Com o asfaltamento, o desmatamento acumulado alcançaria 170 mil km2, quatro vezes maior do que o projetado com a média histórica”, diz trecho da nota.
Ainda de acordo com o estudo, com o desmatamento, as emissões acumuladas de CO2 também mais que quadruplicariam, alcançando 8 bilhões de toneladas, o equivalente à emissão de 22 anos de desmatamento na Amazônia com base na taxa de 2019. “Isso mais que inviabilizaria o alcance das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris”, afirmam os pesquisadores.
A perda de vegetação nativa afetaria diversos serviços ambientais, principalmente a regulação de chuvas que cai sobre regiões estratégicas para o agronegócio brasileiro. “Estima-se que a consequente redução de chuvas acarretará num prejuízo de mais de 350 milhões de dólares anuais apenas nas receitas de geração de energia hidroelétrica, cultivo de soja e pecuária”, diz a nota.
Alternativas
O documento cita que o Rio Madeira “é a principal via de transporte para o escoamento da produção agropecuária e Manaus já se encontra bem servida por transporte fluvial”. Para os pesquisadores, o projeto é inviável economicamente por “somente um terço do investimento retornar como benefício” e por gerar perdas econômicas pelo desmatamento.
Soares Filho, Davis e Rajão defendem que as populações indígenas da região que tem cerca de 18 mil pessoas deveriam ser consultadas sobre a pavimentação da rodovia. “40 unidades de conservação, 6 milhões de hectares de terras públicas e 50 terras indígenas estariam ameaçadas pelo empreendimento que abrirá as veias dessa maciça porção de floresta a grileiros”, diz a nota.
Para os pesquisadores, se a sustentabilidade econômica e socioambiental do asfaltamento da BR-319 é bastante questionável, “sua prioridade diante do estado calamitoso da infraestrutura viária nas regiões produtivas do país é definitivamente inconcebível como estratégia de desenvolvimento
nacional”. Segundo eles, o Governo Federal precisa reavaliar a proposta de pavimentar a rodovia.
“Com a atual crise econômica, pandemia de Covid-19 e ausência de governança ambiental, devemos nos perguntar se é de fato de interesse do povo brasileiro um investimento tão custoso, sem potencial retorno socioeconômico e com enorme impacto socioambiental”, diz outro trecho da nota técnica.
Pavimentação
Em setembro deste ano, o Governo Federal divulgou edital para contratação de empresa para elaborar o projeto básico e executivo de engenharia e realizar as obras de pavimentação e de reconstrução de 52 quilômetros na BR-319/AM, que compreende o lote C (ou lote Charlie), localizado entre os quilômetros 198 e 250. Sete empresas apresentaram propostas.
O edital foi publicado após decisão da Justiça Federal do Amazonas que negou pedido do MPF (Ministério Público Federal) para suspender o edital lançado pelo Governo Federal para pavimentação do Trecho C da rodovia. O MPF alegou que a licitação era uma ‘afronta’ à Justiça, pois já havia decisão obrigando a realização de estudos ambientais prévios.
A rodovia é uma importante via de ligação entre os estados do Amazonas e de Rondônia. Conforme o Governo Federal, as obras de pavimentação do trecho C aproveitarão o traçado já existente da rodovia, mantendo a largura da plataforma, com duas faixas de rolamento e dois acostamentos. Para facilitar a parada em segurança dos veículos, serão implantados recuos.
O segmento também contará com passagens de fauna aéreas e subterrâneas, com cercas direcionadoras para garantir a preservação dos animais que cruzam a estrada e, ainda, serão recuperadas áreas degradadas nas adjacências da rodovia. Serão mais de mil mudas nativas plantadas. Foram previstos, ainda, sistemas de drenagem para preservar a integridade da pista.
Para o Governo Federal, a BR-319/AM é fundamental para o transporte de pessoas e a integração social dos estados do Amazonas e Rondônia e a reconstrução dos 52 quilômetros deverá garantir maior segurança e redução no tempo de viagem. Hoje, as alternativas à rodovia são o transporte por barco ou avião.
Leia a íntegra da nota técnica.
Só uma perguntinha a “esses estudiosos”: Chove. porque tem mata ou tem mata porque chove?
No fundo, isso está me parecendo opinião de quem defende interesses de terceiros, que por ventura possa está na iminência de perder ou deixar de ganhar alguma coisa.
Isso é mentira desmatando esta agora que não tem fiscalização.Quando pavimentar além dos postos de fiscalização os carros da PRF vao poder rodar na PRF para prenderem esse caminhoes de madeiras que tiram hoje sem ninguém pra fiscalizar.Desmatam, tiram madeira e tocam fogo e tiram mineros ilegais devido o difícil acesso.Que pavimentar vai ter fiscalização é isso que eles não querem