Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – Candidato a prefeito de Manaus pelo PT, Marcelo Ramos, de 51 anos de idade, é o mais rejeitado entre os concorrentes nas eleições de outubro. O ex-deputado federal associa sua imagem à do preside Luiz Inácio Lula da Silva e pretende expor os legados de Lula em Manaus para compará-los aos do ex-presidente Jair Bolsonaro como estratégia para reduzir a rejeição.
Marcelo Ramos expôs o método de campanha ao ATUAL na terça-feira (30), seis dias antes da convenção do partido, neste domingo (4). Ele concorre pela Federação Brasil da Esperança, formada pelos partidos PCdoB, PT e PV, mas tem apoio também do PDT, PSOL, Solidariedade e Rede Sustentabilidade.
Grupo de filiados ao PSB também declarou apoio a Marcelo Ramos. O PSB se aliou a Roberto Cidade (União Brasil).
Neste domingo, na convenção, voltou a enfatizar que sua candidatura está atrelada ao apoio de Lula. Segundo Ramos, o manauara não pode mais se acostumar com uma cidade “mais ou menos no transporte, na saúde”. “Não seremos mais uma cidade de mais ou menos no meu mandato”, afirmou.
O candidato repetiu críticas do prefeito David Almeida, adversário na eleição, de que segurança pública e saúde de média e alta complexidade são responsabilidades do governo do Estado, mas que vai colocar vigilantes nas portas das escolas e paradas de ônibus.
Confira a entrevista.
ATUAL – O senhor se sente à vontade com o apoio do PDT e dos outros partidos que lhe apoiam?
Marcelo Ramos – Veja, eu me sinto mais fortalecido. O PDT tem uma questão muito simbólica. É o partido da educação, é o partido do Brizola (Leonel, político que governou o Rio de Janeiro), do primeiro governante que criou escolas de tempo integral no Brasil. O PDT é o partido de uma referência na educação, como foi Darcy Ribeiro (educador, político, etnólogo, antropólogo e escritor). E o PDT é um partido de uma referência na ética, na política, na honestidade, na probidade, no bom trato com a coisa pública, como foi o nosso saudoso Jefferson Pérez (senador amazonense). Então, eu sinto muito orgulho de ser apoiado pelo PDT.
ATUAL – Como candidato do PT, o senhor tem associado sua imagem à do presidente Lula. Mas o antipetismo em Manaus se tornou forte com o avanço do bolsonarismo. Como o senhor pretende superar essa rejeição ao PT?
MR – Todas as obras estruturantes e todos os programas sociais estruturantes da cidade de Manaus são um legado dos governos do presidente Lula e da presidente Dilma. Arena [da Amazônia], Ponte [Rio Negro], Prosamim, Viver Melhor, Proama, Luz para Todos, ampliação do aeroporto (de Manaus), prorrogação da Zona Franca de Manaus até 2073, Bolsa Família, ProUni, Pé de Meia… tudo.
Tudo, tudo que existe de estruturante na cidade de Manaus é legado do governo do presidente Lula e dos governos do PT. Portanto, nós vamos dialogar com a população e mostrar o quanto esses governos (do PT) fizeram por Manaus. Eu não tenho dúvida de que esse preconceito que foi plantado pelo bolsonarismo será superado.
Nós vamos discutir a cidade. A eleição para prefeito é uma eleição que discute a cidade. Quando eu discuto a cidade e eu vinculo esse debate a lideranças nacionais, eu tenho que perguntar e fazer a sociedade refletir sobre o que cada um fez para a cidade. Agora, se eu pedir uma só obra, um só programa social do governo Bolsonaro, que existe hoje na cidade de Manaus, ninguém consegue me responder. Porque não tem nada, não ficou nada. Pelo contrário, ficou muito sofrimento.
Ficou o sofrimento da falta de oxigênio, ficou o sofrimento da falta de vacina, ficou o sofrimento dos ataques à Zona franca de Manaus. Então, a forma de enfrentar essa rejeição, que é natural, é discutir com as pessoas sobre o legado de cada um para a vida do povo da cidade de Manaus.
ATUAL – A esquerda tem dificuldade em eleger candidatos para o poder executivo. Como enfrentar adversários de direita, que são mais populares, segundo as pesquisas de intenção de voto, com esse histórico de derrota dessa ideologia política em Manaus?
MR – Olha, quantas [eleições] o presidente Lula ganhou, perdeu, antes de ser a maior liderança política da história desse país; antes de ser o único brasileiro que ganhou três eleições na urna. O debate com a sociedade é um debate permanente, ele não é um debate estanque.
Eu acho que o grande problema é que as esquerdas, durante muito tempo, se acuaram diante da violência retórica e até física do bolsonarismo. E agora tem uma voz que não vai se dobrar nem para a agressão retórica e nem para a agressão física. E que vai enfrentar o debate. Eu não tenho dúvida de que no enfrentamento do debate, as pessoas vão refletir, repito, sobre o que cada um fez para a cidade de Manaus.
ATUAL – O senhor é experiente na política, com mandatos estaduais e um de deputado federal. Mas tem como adversários candidatos com uma carreira política mais recente, como Amom Mandel e Roberto Cidade. Como se diferenciar da velha política diante dessas novas caras?
MR – Veja, primeiro eu não separo política entre velha e nova. Tem gente de mais idade que tem contribuições enormes para a cidade de Manaus. E tem gente de pouca idade que não contribuiu nada para a cidade de Manaus. Então, eu não separo a política entre velhos e novos. Eu separo a política entre quem ajuda Manaus e quem não ajuda Manaus. E aí nessa comparação é absolutamente incomparável o nível de serviços prestados para a cidade de Manaus por mim como vereador, como deputado estadual, como deputado federal e pelos meus adversários.
Eu sou responsável pelo programa Prato Cheio, porque esse programa só começou porque eu coloquei recurso. Eu sou responsável pela reforma de todos os CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) da cidade de Manaus, onde a pessoa atualiza o seu Bolsa Família, porque fui eu que botei recurso. Eu sou responsável pela reforma de todas as policlínicas da cidade de Manaus, porque fui eu que botei recurso. Eu sou responsável pelas maiores doações de oxigênio que a cidade de Manaus recebeu no período da pandemia. Eu sou responsável pelos maiores gestos de resistência aos ataques à Zona Franca de Manaus. Se eu comparar isso com o legado dos meus adversários, não tem nem discussão. Porque, vamos lá, o que é que tem de entrega desses dois personagens que você cita? O que é que eles têm de entrega para Manaus? Nada.
ATUAL – O que o candidato Marcelo Ramos tem a oferecer em termos de projeto de governo para Manaus?
MR – Olha, primeiro nós temos que entender que Manaus é uma cidade que durante muito tempo foi governada e está sendo ainda governada de forma burocrática. É o governo mais ou menos, que não inova nada, que não gera esperança nas pessoas, que vai tocando a cidade como ela está. Como contrapartida disso, apareceu alguém vendendo uma cidade com soluções virtuais, completamente desconectada da realidade. Eu sou alguém que acredito que a nossa cidade tem um potencial enorme de inovação, de soluções criativas e acho que isso parte de algumas tarefas imediatas.
A primeira delas tem relação com a educação, com a saúde. Nós precisamos garantir 100% de cobertura da rede de atenção básica de saúde. Todo cidadão manauara precisa ter uma UBS (Unidade Básica de Saúde), para ser atendido e tem muitos que não têm. Nós precisamos que o médico da família volte a fazer visita domiciliar, em especial para idosos, deficientes, pessoas com deficiência, doentes crônicos e grávidas.
Na educação, nós precisamos entender e queremos oferecer para a cidade uma educação que aumenta o número de vagas em creche, que aumenta o número de vagas em escola de tempo integral e que entende a responsabilidade que a prefeitura tem no ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, que é de responsabilidade 100% da prefeitura. Ter uma educação criativa, inovadora, que gere esperança das nossas crianças, porque é nesse período da escola que ela aprende a ler, a escrever e as quatro operações matemáticas. Esse professor tem que ser valorizado, essa escola tem que ser um espaço acolhedor, a sala de aula tem que ter tecnologia. A criança tem que ter uma alimentação escolar nutritiva e, por ser o item num rol de prioridade, a prefeitura precisa dar a sua parcela de contribuição com a segurança pública, aumentando o efetivo da guarda municipal, colocando-a em terminais de ônibus, nas linhas que têm maior ocorrência de assaltos, iluminando praças, recuperando praças para que elas voltem a ser espaços da família.
Então, a prefeitura precisa dar a sua parcela de colaboração, sem esquecer que a responsabilidade com a segurança pública é essencialmente do governo do Estado.
ATUAL – Ouvimos muito que o centro de Manaus está abandonado. Você pretende pensar no Centro como um local de comércio e de lazer?
MR – Tem quatro coisas fundamentais na nossa visão e que estarão no nosso plano de governo para o centro de Manaus. A primeira é uma questão muito básica, que é um serviço especializado de zeladoria. A primeira é ter uma equipe de limpeza pública, de pequenas reformas, de pequenos reparos, só para o Centro, para trabalhar todo dia. Sujou, limpa. Pichou, pinta. Quebrou, conserta. Então nós vamos dar respostas rápidas de zeladoria para o centro histórico da cidade de Manaus. Essa é a primeira coisa.
A segunda coisa é algo que o Jaime Lerner, que é um dos maiores urbanistas do mundo e foi prefeito de Curitiba, chama de acupuntura urbanística. Que é você pegar pontos da cidade, revitalizar esses pontos, porque quando você revitaliza um ponto ele irradia essa revitalização para o seu entorno. Então, nós vamos a partir das quatro principais praças do Centro de Manaus, que é a Praça da Saudade, a Praça da Polícia, a Praça dos Remédios, a Praça da Matriz, a partir da revitalização dessas áreas irradiar melhorias (no Centro).
Não dá pra ficar a bagunça que tá. Precisamos fazer quiosques para os trabalhadores ambulantes nos quais eles trabalhem com o mínimo de dignidade para dar organização ao comércio no Centro Histórico de Manaus. Organização e legalização, garantindo microfinanciamento e dando estrutura pra que ele vire um microempresário.
E o quarto item desse projeto estruturante é que nós acreditamos que deve existir uma tarefa diferenciada de ônibus nas linhas para o Centro aos sábados. Aos sábados é o dia que o cidadão tira pra fazer uma compra, para visitar um comércio e nós vamos induzir que essa compra seja no Centro, colocando uma tarifa diferenciada no transporte coletivo, uma tarifa mais barata.
ATUAL – Ainda dá para arrumar o transporte, contando com os viadutos?
MR – Deixa-me lhe dizer uma coisa. As pessoas acham que vão resolver o problema da mobilidade urbana só com viadutos. Não. O problema da mobilidade urbana vai ser resolvido com inteligência e reorganização do espaço urbano. Eu preciso induzir serviços para onde as pessoas moram e induzir moradia para onde existem os serviços. Por exemplo, induzir moradia para o Centro. Com isso, eu diminuo o deslocamento porque as pessoas têm todos os serviços que elas precisam perto da sua moradia.
Eu preciso induzir os serviços bancários, serviços de atendimento, serviços de comércio, por exemplo, para a Colônia Antônio Aleixo (bairro) para que o morador da Colônia Antônio Aleixo não tenha que pegar um ônibus para pagar uma conta de energia se ele não fizer esse serviço pela internet. Então, o reordenamento do espaço urbano tem relação direta com a mobilidade urbana. E também a necessidade de dobrar a velocidade média da frota do transporte coletivo. Os ônibus em Manaus já tiveram velocidade média de 37 km por hora.
Nós vamos fazer obra de infraestrutura para consolidar corredores exclusivos de ônibus porque o transporte coletivo tem que ter prioridade. E nós precisamos ter coragem de dizer isso para a nossa cidade. O que causa engarrafamento na cidade de Manaus não é ônibus. Os ônibus significam apenas 1,5% do total de veículos na cidade de Manaus, mas eles transportam 60% das pessoas. Esses veículos precisam ter prioridade no trânsito e no nosso governo terão.