
É interessante observar quem define as pautas da mídia local e nacional. O que merece atenção e o que não merece atenção da imprensa e das pessoas? Fico surpreendido como pautas sem importância ganham destaque. O que leva a isso? Quais são os interesses que guiam as pautas? A observação atenta destes interesses é importante, pois isso é que guiará a sociedade nos seus caminhos e interesses.
Quando há pensamento ruim guiando, o resultado será uma construção de futuro compatível com o que se pensa. Quando há um interesse guiando a construção do otimismo ou do pessimismo cego, por aí que será o caminho. O pior ainda é quando a pessoa possui um pensamento e nem se dá conta de quem o plantou em sua mente. A falta de liberdade é imposta pela própria pessoa, quando ela se subordina a um tipo de pensamento errado que a leva para resultados pífios dentro de seu potencial humano e ilimitado. Os limites estão dentro de nós.
Como a dinâmica de mundo é grande, há, em todo o momento, correntes de pensamento tentando guiar as pessoas. Noam Chomsky analisou em seu “Quem manda no mundo?” este tipo de questão. Há outros autores que estão fazendo este estudo, como Daniel Drezner, da Universidade de Oxford, com o interessante texto sobre “The ideas industry” (“A indústria das ideias). Há nele uma análise sobre como pessimistas, partidos e plutocratas estão transformando o mercado das ideias.
Temos que ter muito cuidado com as ideias que estamos comprando com respeito ao Amazonas e a sua biodiversidade. O que queremos de nossa região: manter intocada para que outros ganhem dinheiro com ela? Ou queremos usar para destruir? Seria burrice destruir, tal qual também o é não usar seus recursos. Entretanto, temos frequentemente comprado as ideias erradas sobre como lidar com a Amazônia. Se nossas ideias fossem certas, teríamos um bom resultado para a sociedade da região. Entretanto, sabemos que não é o caso.
Há um roteiro esperado para pessoas da região. Estamos dispostos a seguir este roteiro dos coitadinhos, pobres e isolados que de tanta ignorância não possuem a capacidade de se auto administrar para usar os recursos da natureza? Até quando aceitaremos de maneira passiva este esforço de marketing conduzido pelo mundo que a Amazônia será destruída se for comandada pelo puro interesse do Brasil?
Precisamos urgentemente encontrar um caminho para sair da pobreza a qual estamos eternamente submetidos. Pobreza de recursos financeiros, em meio a uma abundante riqueza da natureza. Pobreza de ideias sobre como construir recursos para nós e para a sociedade. Em meio a bilhões de possibilidades de uso da diversidade da região.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.