MANAUS – Não é nova essa gente de direita, que meteu a cabeça para fora da toca no limiar das manifestações iniciadas em 2013 e que ajudou Bolsonaro a se eleger em 2018, e agora se apresenta como os salvadores da “pátria destruída pela esquerda”.
Essa gente de direita tenta vender uma mentira deslavada de que a esquerda é a responsável por todos os males do Brasil, com um falso discurso de que agora, com a direita no poder, o país vai andar.
Tentam esconder o fato de que desde o ano 1500 (quando da invasão portuguesa às terras que depois foram batizadas de Brasil) a direita sempre governou o país e sempre tratou a população de baixa renda e a classe média debaixo dos pés. Tentou sem sucesso escravizar índios; escravizou negros; exlorou milhares de trabalhadores nas fábricas, na floresta (em busca de látex); negou direitos às mulhres…
Essa gente de direita é a mesma que apoiou o golpe militar de 1964 e os 20 anos de ditadura militar. Era ela que aplaudia a tortura; que achava engraçado o cerceamento das liberdades individuais; que achava normal a censura aos meios de comunicação e que impedia que a população tivesse acesso a qualquer informação sobre os desmandos dos militares.
Essa gente ficou submersa por mais de 30 anos, depois da reabertura democrática. Por tudo o que fez durante o longo período de exceção, tortura e mortes, não conseguiu lograr êxito nas urnas e, por isso, precisou enfiar-se nos esgotos, mas nunca desistiu do intento de voltar ao poder.
No entanto, essa gente de direita nunca deixou de sugar o sangue o suor da população brasileira. Mesmo os governos considerados de esquerda tiveram que dançar conforme a música dessa gente. Nada se fez ou se faz na economia e na política sem o consentimento dela.
É essa gente que alimenta a corrupção crônica no Brasil. Foi dela a cartilha montada há centenas de anos que ensina o “jeitinho brasileiro”, como levar vantagem em tudo, a não respeitar as individualidades, a abocanhar o dinheiro público sem cerimônia, como se fosse a dona do país.
Essa gente de direita tenta, agora, enfiar na cabeça da população brasileira que a corrupção é uma invenção da esquerda. Que o “jeitinho brasileiro” foi obra do PT. Escamoteia até o fato de que não foi apenas o PT que participou da farra da roubalheira. Os partidos com a maior quantidade de gente presa e denunciada pelo Ministério Público na Operação Lava Jato foram PP e MDB. Isso mesmo, o PP que agora é o principal apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Essa gente sempre comandou as grandes empresas, porque sempre esteve com a economia sob controle. Sempre meteu a mão no dinheiro público de forma legal. A grande maioria dos cidadãos brasileiros não faz ideia de quanto essa gente retira do orçamento da União todos os anos com o pagamento de juros e amortização da dívida pública. Em média, R$ 1 trilhão por ano, de um orçamento de R$ 3 trilhões, vai parar nas contas bancárias das grandes empresas, comandadas pela direita.
Por muito tempo, essa gente só ganhou dinheiro, mantendo as rédeas da administração pública nas mãos. Mas em 2014, quando da reeleição de Dilma Rousseff e da possibilidade de mais 12 anos de governo do PT, essa gente decidiu que era hora de interromper abertura que fez para a esquerda.
A classe média, que sempre foi usada por essa gente de direita para legitimar suas ações e decisões, foi às ruas, apoiou o impeachment e acreditou que um homem rude que “falava o que o povo queria ouvir” seria capaz de mudar o país. Pobre classe média.
O resultado é um país mergulhado na maior inflação desde o Plano Real, uma economia estagnada, uma política acéfala, instituições em decadência e o presidente da República “de férias”, como se nada estivesse acontecendo no Brasil.
Essa gente “de direita” tem uma legião de seguidores, que enxerga Bolsonaro como um deus, e que também que se diz “de direita”. Na verdade, é uma gente que sequer sabe decifrar o significado das palavras esquerda e direita no campo da política. Nunca estudou qualquer teoria política. São pessoas totalmente ignorantes sobre o tema, mas batem no peito para dizer que são “de direita”.
Para esses rudes seguidores da “direita”, a noção de esquerda e direita é a do “juízo final”, em que os homens e mulheres serão separados em dois grupos: os que estiverem à esquerda serão queimados no fogo e os da direita receberão a recompensa eterna. Santa ignorância.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.